Ramal da Alfândega: grupo de cidadãos defende ferrovia e contesta ciclovia temporária
Grupo de Acção para a Reabilitação do Ramal da Alfândega foi reactivado, 15 anos depois de ser criado, para entrar no debate sobre o futuro do ramal e já escreveu carta a Rui Moreira. A ferrovia é a única solução que pode realmente “transformar a cidade”, defende
Quando o executivo de Rui Moreira tornou pública a sua intenção de avançar já com a construção de uma ciclovia no Ramal da Alfândega, debatendo mais tarde a solução definitiva para aquele troço de quatro quilómetros entre Campanhã e a Alfândega, a decisão de reactivar um grupo que outrora se bateu por aquele pedaço de território não demorou a ganhar estrutura. O GARRA - Grupo de Acção para a Reabilitação do Ramal da Alfândega, criado em 2005, renasceu para entrar no debate sobre o futuro do ramal descativado há 30 anos. São contra a ciclovia e defensores da ferrovia: “É a única solução que ajuda mesmo a transformar a cidade. Uma ciclovia ali não transforma nada.”
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Quando o executivo de Rui Moreira tornou pública a sua intenção de avançar já com a construção de uma ciclovia no Ramal da Alfândega, debatendo mais tarde a solução definitiva para aquele troço de quatro quilómetros entre Campanhã e a Alfândega, a decisão de reactivar um grupo que outrora se bateu por aquele pedaço de território não demorou a ganhar estrutura. O GARRA - Grupo de Acção para a Reabilitação do Ramal da Alfândega, criado em 2005, renasceu para entrar no debate sobre o futuro do ramal descativado há 30 anos. São contra a ciclovia e defensores da ferrovia: “É a única solução que ajuda mesmo a transformar a cidade. Uma ciclovia ali não transforma nada.”
A afirmação é de Pedro Pardinha, estreante no GARRA, que se juntou a dois dos criadores do grupo, os engenheiros do ambiente Jorge Mayer e Nuno Quental. Este sábado, depois de reunidos argumentos numa folha de papel, fizeram chegar a Rui Moreira uma carta aberta, pedindo uma “decisão definitiva” para o ramal, “idealmente para transporte de passageiros”. Já online, embora ainda com poucos apoiantes, está também uma petição nesse mesmo sentido.
Satisfeitos com a decisão de aproveitar aquele espaço na encosta com vistas para o Douro, os subscritores da carta não deixam de criticar esta solução temporária. Na última reunião de câmara, a 22 de Junho, foi aprovado por unanimidade uma transferência de propriedade daquele ramal, propriedade da IP Património - Administração e Gestão Imobiliária para a Câmara do Porto, num contrato sem custos para lá do das obras.
O executivo de Rui Moreira argumenta, na proposta levado a votos, que a solução transitória permite “a curto prazo a funcionalidade e a segurança da sua utilização como ecopista dedicada aos modos suaves de mobilidade, de cariz turístico e de lazer”. E deixa em cima da mesa duas possíveis soluções, cujos projectos estão a ser terminados, prometendo abrir o debate à cidade em “cerca de dois meses”: a primeira passa pela criação de um “novo percurso pedonal e ciclável, aproveitando os troços em túnel e a céu aberto”, permitindo a “requalificação ambiental e paisagística” da zona envolvente, “nomeadamente através da criação de um parque urbano em socalcos, em toda a área adjacente ao canal ferroviário”; a segunda permite a utilização do ramal para uma “ligação rápida” entre Campanhã e a Alfândega, “através de um transporte pendular, confortável e eléctrico, operado por veículos modernos que prestarão um serviço de mobilidade inédito entre estes dois pólos de elevada atracção urbana”.
Seja qual for o projecto escolhido, a empreitada só poderia estar concluída “daqui a três ou quatro anos”, referiu o vereador Pedro Baganha na reunião – justificando mais uma vez a pertinência da “solução transitória”.
Solução “algo bizarra"
Os argumentos não convencem o GARRA, que, embora se diga favorável à criação de ecopistas e ciclovias, classifica esta solução como “algo bizarra”. Porquê? “Metade do seu percurso decorre num túnel de 1,3 quilómetros de extensão”, dizem. “Pior que isso, trata-se de construir uma ecopista num canal que, se usado para transporte ferroviário de passageiros, se pode revestir de uma importância estratégica para a cidade.” A solução temporária, teme, pode, entretanto, tornar-se definitiva: “Pela tradição, talvez da natureza humana, o que está bem deixa-se estar… é provável que se tivermos ali uma ciclovia já não se volte atrás”, afirmou Pedro Pardinha em conversa com o PÚBLICO.
A ferrovia “permite aproximar duas partes da cidade que não estão próximas”, fazendo uma ligação entre a cota baixa e o “grande centro intermodal” da urbe, em construção em Campanhã. Jogam a favor dessa ideia os custos, o desenvolvimento criado, a possibilidade de fazer uma ligação à ponte D. Maria e, acima de tudo, a melhoria da mobilidade, afirma: “É uma solução mais democrática que serve tanto os moradores mais pobres de Campanhã como os turistas. E permitiria retirar carros da Ribeira.”
Para o GARRA, “o Porto não se pode dar ao luxo de continuar a subaproveitar uma infra-estrutura que liga a parte alta da cidade à parte baixa, e esta aos comboios suburbanos, de longo curso e ao metro”, lê-se na carta escrita a Rui Moreira. “A ferrovia serve melhor os portuenses e os vários tipos de turismo do que uma ciclovia.”