Em 100 dias de pandemia perderam-se 8 mil milhões de euros em compras com cartões
Segundo a SIBS, o serviço do MB Way duplicou o volume de transacções face ao início do ano. Também o peso do comércio electrónico aumentou para 14% durante a fase de confinamento, quando antes rondava os 9%.
Nos primeiros 100 dias de pandemia foram feitas menos 200 milhões de transacções com cartões, o que equivale a oito mil milhões de euros de transacções perdidas, com as compras a focarem-se nos bens essenciais, indicam dados da SIBS.
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Nos primeiros 100 dias de pandemia foram feitas menos 200 milhões de transacções com cartões, o que equivale a oito mil milhões de euros de transacções perdidas, com as compras a focarem-se nos bens essenciais, indicam dados da SIBS.
“Apesar de em Junho se observar transaccionalidade próxima dos valores pré-pandemia, estima-se que o consumo global está ainda 25% abaixo do esperado em Junho de 2020”, refere a SIBS em comunicado, assinalando que esta situação aponta para “uma estimativa de transacções perdidas no período de pandemia (Março a Junho) de 8 mil milhões de euros, equivalente a cerca de 200 milhões de transacções”.
De acordo com os dados da plataforma SIBS Analytics, os primeiros 100 dias desde a declaração do estado de emergência revelam que nesse período 60% dos consumidores reduziram de forma drástica as compras com cartão, havendo apenas um grupo reduzido, de 10%, que manteve o mesmo ritmo de compras.
Mais compras online
Ao longo deste período, e por comparação com o comportamento antes da pandemia, registaram-se também algumas mudanças na forma de comprar e de pagar, com a utilização e o peso do serviço MB Way a atingirem valores recordes.
Segundo a SIBS, o serviço do MB Way duplicou o volume de transacções face ao início do ano.
“O período de confinamento gerou uma quebra de cerca de 50% das compras físicas face aos meses pré-covid de Janeiro e Fevereiro. Nas compras online, a diminuição foi menos expressiva, de apenas 17%, pelo que estas assumiram um peso maior no total de transacções realizadas”, refere o comunicado.
O peso do “e-commerce” (comércio electrónico) no total das compras rondava os 9% antes da pandemia, tendo aumentado para 14% durante a fase do confinamento, para se situar nos 11% actualmente.
Apesar do crescimento do canal digital, os números não são suficientes para compensar a quebra do consumo global que afectou e continua a afectar de forma diferente os vários sectores e produtos.
O valor médio por transacção nas compras físicas registou várias oscilações neste período, tendo aumentado de 34,7 euros nos dois primeiros meses do ano para 36,7 euros no início de Março e até ao estado de emergência.
Entre 18 de Março e 3 de Maio, o valor avançou para os 39,3 euros, tendo descido ligeiramente após o estado de emergência (37,8 euros).
Nas compras exclusivamente online, o valor médio por transacção aumentou dos 35,1 euros na fase imediatamente anterior ao estado de emergência mas já em contexto de pandemia, para os 39,8 euros em Maio e Junho.
Restauração e turismo entre sectores mais afectados
A análise da plataforma SIBS Analytics ao consumo em loja por sector de actividade revela que as lojas e o comércio de proximidade foram os únicos a contrariar a tendência geral de quebra do consumo, tendo até registado um número de transacções ao longo da pandemia superior ao verificado no início do ano.
Já os sectores dos super e hipermercados, gasolineiras/matérias-primas e farmácias e parafarmácias “mostraram-se resilientes ao longo do período em análise”, mas “com alguma quebra no volume de transacções durante o período de confinamento, mas com uma recuperação muito rápida na fase de retorno gradual”.
Entre os sectores mais vulneráveis estão a restauração, alojamento turístico, transporte de passageiros, moda e acessórios, que depois de uma forte travagem durante o confinamento observam agora uma recuperação gradual.
No turismo, os dados dão conta de um regresso gradual ao turismo interno, com os hotéis e restaurantes a 60% dos volumes do início do ano.
“Já as agências de viagem parecem evidenciar a falta de interesse no turismo fora de Portugal, com manutenção da actividade nula mesmo após o fim do confinamento”, indica a SIBS.
No que diz respeito às compras online, a análise por sector de actividade revela “que os crescimentos mais significativos foram registados em alguns dos sectores mais afectados pelo fecho dos estabelecimentos físicos”.
Desta forma, a moda e acessórios e a restauração registaram um crescimento significativo face aos meses pré-pandemia na média diária de transacções online, tal como os sectores da cultura, entretenimento e subscrições e do comércio alimentar e retalho.
Ainda assim, “este crescimento foi sobretudo baseado no desvio do consumo em loja para o digital, apesar de o aumento no “e-commerce” não ter sido suficiente para compensar a diminuição de transacções físicas”, assinala a SIBS.
Os dados da SIBS também dão conta de fortes quebras ao nível do volume de compras internacionais, isto é, de estrangeiros em Portugal e portugueses no estrangeiro, em loja.
“Durante a fase de confinamento, a redução da média diária de compras físicas de estrangeiros foi equivalente a 83% face à média anterior ao primeiro caso registado em Portugal”, assinala a SIBS.
A ligeira recuperação registada na fase de desconfinamento está ainda 72% abaixo da média registada no pré-pandemia.
Também as compras com cartões portugueses no estrangeiro diminuíram 65% durante a fase de confinamento, recuperando ligeiramente na fase de reabertura da economia, apesar de ainda ser registada uma quebra de 53% em comparação com a média de Janeiro e Fevereiro.