Que bom voltar ao norbem
Se esperarmos até que tudo passe para que tudo volte ao normal, ao normal voltaremos um séquito enorme de deprimidos, ansiosos, incultos e agressivos, isto é, um monte de menos-humanos pós pandémico.
Após as grandes catástrofes, causadas pela natureza ou pelos humanos, a Humanidade sempre se recompôs pela Cultura. Tome-se a Cultura na sua acepção essencial e inicial, o que distingue o ser humano dos seus antecessores biológicos mais directos. A Cultura, a começar pela percepção do Amor, o grande momento da história da Humanidade. O Amor na sua recepção e partilha; A Cultura expressa e impressa na Religião, como a gestão primeira da incompreensão, como resposta ao inexplicável, como entendimento do desconhecido mas sentido. A Cultura como Conhecimento, como o traço da compreensão e uso da própria relação da cultura com o Todo; A Cultura como Transmissão do Conhecimento, que permitiu a preservação e a evolução da nossa espécie. Por fim, a Cultura como Artes, como a percepção e incorporação da estética, os sentidos do belo e do bom, que deram ao Homem a perspectiva do ideal, da contemplação, da comunicação, da harmonia, e da visão de como o Externo é basicamente o nosso reflexo, e o quanto ele pode fazer bem ao nosso Interno. Faço essas postulações sem considerar a Linguagem, que segundo Chomsky é inata, e segundo Everett é Cultural. Não tenho uma clareza sobre isso, o que me leva a conferir à linguagem um misto de genética com cultura, como o é o Amor.
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Após as grandes catástrofes, causadas pela natureza ou pelos humanos, a Humanidade sempre se recompôs pela Cultura. Tome-se a Cultura na sua acepção essencial e inicial, o que distingue o ser humano dos seus antecessores biológicos mais directos. A Cultura, a começar pela percepção do Amor, o grande momento da história da Humanidade. O Amor na sua recepção e partilha; A Cultura expressa e impressa na Religião, como a gestão primeira da incompreensão, como resposta ao inexplicável, como entendimento do desconhecido mas sentido. A Cultura como Conhecimento, como o traço da compreensão e uso da própria relação da cultura com o Todo; A Cultura como Transmissão do Conhecimento, que permitiu a preservação e a evolução da nossa espécie. Por fim, a Cultura como Artes, como a percepção e incorporação da estética, os sentidos do belo e do bom, que deram ao Homem a perspectiva do ideal, da contemplação, da comunicação, da harmonia, e da visão de como o Externo é basicamente o nosso reflexo, e o quanto ele pode fazer bem ao nosso Interno. Faço essas postulações sem considerar a Linguagem, que segundo Chomsky é inata, e segundo Everett é Cultural. Não tenho uma clareza sobre isso, o que me leva a conferir à linguagem um misto de genética com cultura, como o é o Amor.
O conceito de Durante, nessas situações de crise e de calamidade, é tão importante como o Depois. Porque se o Durante for ignorado, o Depois será demasiado tarde. O Durante influencia a recuperação pós traumática. Se às vezes é difícil compreender o valor e a amplitude da Cultura, basta imaginarmos como seria enfrentar uma pandemia, mais precisamente ficar de quarentena ou isolado, sem o Amor (Afecto, Amizade, Dádiva, Compaixão, Paixão, Generosidade), sem a Religião (Fé, Crença, Deus, Disciplina, Prática, Meditação, Oração, Próximo, Ética), sem o Conhecimento (Sapiência, Lembrança, Habilidade, Esquecer), sem a Transmissão do Conhecimento (Educação, Ensino, Tecnologias, Escritas e Escrituras, Tradições Orais, Monumentos e Memórias) e sem as Artes (Música, Literatura, Dança, Poesia, Teatro, Cinema/vídeo, Pintura, etc.). Daí que é preciso preservar e incentivar tudo isso, Durante a crise, para que o Depois seja possível e plausível, e nos permitam dizer que não foram em vão o sacrifício e as perdas.
Com este entendimento, partilho algumas reflexões sobre o momento actual e o exercício da Cultura. Essencialmente, avanço duas premissas: a economia da Cultura não deve parar quando tudo para; o Investimento na Cultura deve duplicar ou quintuplicar quando a missão e a urgência é salvar o Humano. Os fundamentos práticos são simples. Perguntemos a alguém que acha que a Cultura não é importante neste momento: deseja um filho doente? Não. Então, que se invista na Saúde, pois. Quer legar uma sociedade violenta e insegura às suas crianças? Não. Que se invista, pois, na Segurança. Quer os seus netos analfabetos? Não. Que se invista, pois, na Educação. Enfim, quer seus descendentes incultos? E aguardemos a resposta. Desinvestir na Cultura é ajudar o vírus para depois da vacina, é criar as condições para o surgimento de danos mentais e espirituais pós pandémico que poderão levar décadas, ou gerações, a serem reparados.
Se esperarmos até que tudo passe para que tudo volte ao normal, ao normal voltaremos um séquito enorme de deprimidos, ansiosos, incultos e agressivos, isto é, um monte de menos-humanos pós pandémico. Voltar ao normal significa que estivemos num momento anormal. Porém, é enganoso pensar que basta o mal passar, e não volte, que estaremos a regressar ao normal. Não. Não há mais regresso ao normal conhecido. A História ensinou-nos isso. Vamos voltar ao norbem, porque é seu tempo. Norbem é esse progresso, esse olhar para o bem que perdemos em algum lado, e que precisamos cultivar e praticar de novo, nos momentos bons e nos menos bons. O tempo é de Novas Propostas, Novos Horizontes, Novos Olhares, Novas Posturas.
O poder público deve ter um papel orientador. Medidas como incentivos para que cada família adquira um livro por mês, por exemplo, é tão protector como recomendar o uso da máscara. A ignorância é contagiosa e contra ela não há vacina. São 12 livros por ano, e para legar uma biblioteca com apenas 120 livros aos filhos vão ser precisos dez anos. Mas é um começo. Um programa nacional de aquisição de livros para as bibliotecas públicas, municipais e escolares, de quadros e peças para a decoração dos espaços públicos e para o acervo das instituições, etc., colocaria toda a economia da cultura em movimento.
É bom guardarmos o sentido da estética nos momentos de crise. Há uma longa tradição de se investir em obras de arte para decoração de cemitérios, de fazer funerais com música e dança, de erigir mausoléus, etc., porque a estética ajuda a despenalizar a vida.
Sugiro, aliás, que uma homenagem pública e ampla seja feita aos profissionais da Cultura em todo o mundo (ao lado dos da Saúde e dos da Produção e Distribuição de Bens essenciais) pela sua bravura e entrega durante a pandemia.
Há braços fraternais.