Varrido pela “onda verde” nas eleições municipais, Macron anuncia medidas pró-ambiente
Presidente francês promete 15 mil milhões de euros extra para a transição económica e referendos sobre o ambiente, depois de o seu partido ter sido abafado pelas conquistas da Europa Ecologia nas eleições de domingo.
Menos de 24 horas depois do fraco desempenho da sua A República em Marcha (LREM) nas eleições municipais francesas de domingo, em contraste com as conquistas de importantes centros urbanos pela Europa Ecologia - Os Verdes (EELV), o Presidente francês anunciou esta segunda-feira uma série de medidas ambientais e assumiu vários novos compromissos nessa área, para tentar relançar o dossiê ecológico nos dois anos que lhe restam de mandato.
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Menos de 24 horas depois do fraco desempenho da sua A República em Marcha (LREM) nas eleições municipais francesas de domingo, em contraste com as conquistas de importantes centros urbanos pela Europa Ecologia - Os Verdes (EELV), o Presidente francês anunciou esta segunda-feira uma série de medidas ambientais e assumiu vários novos compromissos nessa área, para tentar relançar o dossiê ecológico nos dois anos que lhe restam de mandato.
Emmanuel Macron prometeu mais 15 mil milhões de euros para a transição de França para uma “economia verde” em dois anos, admitiu criminalizar o ecocídio, sugeriu a possibilidade de retirar a França de tratados multilaterais que não respeitem o Acordo de Paris (2015) e disse querer organizar dois referendos sobre temáticas ambientais.
Uma dessas consultas trataria da inclusão dos termos “biodiversidade”, “ambiente” e “luta contra o aquecimento global” no artigo 1.º da Constituição. A outra pediria luz verde para nova legislação pró-ambiente, que o Presidente quer apresentar à Assembleia Nacional “no final do Verão”.
“As alterações climáticas exigem que façamos muito mais”, afiançou Macron aos 150 membros da Convenção de Cidadãos pelo Clima, no Palácio do Eliseu, sem nunca referir, no entanto, os resultados eleitorais da véspera, incómodos para a LREM e para as suas próprias aspirações nas presidenciais de 2022.
Sozinha ou coligada, a LREM – uma plataforma centrista, liberal e pró-europeia, nascida apenas em 2016 – não conquistou qualquer grande cidade. Ficou em terceiro lugar (com apenas 13%) na corrida à câmara de Paris, mantida pela socialista Anne Hidalgo, e viu a EELV liderar uma autêntica “onde verde”, como vitórias em Lyon, Bordéus ou Estrasburgo, entre outros desempenhos sensacionais, como em Marselha ou Lille.
“Levámos um autêntico estalo na cara”, assumiu à Reuters o deputado da LREM, Bruno Bonnell”.
O prémio de consolação para o movimento político afecto ao Presidente francês foi a vitória do primeiro-ministro Édouard Philippe, em Le Havre. Mas mesmo esse prémio soube a pouco.
Sem nunca se ter filiado na LREM, com passado na direita francesa e uma importância e prestígio hoje em dia concorrentes com o próprio Macron, Philippe pode muito bem vir a ser dispensado dos seus serviços como chefe do Governo – ou sair pelo seu pé, de olho no Eliseu –, numa remodelação governamental que se prevê na próxima semana.
Tudo em aberto para 2022
Desde a elevada abstenção (60%) – em parte justificada pela pandemia e pelos três meses que passaram desde a primeira volta –, passando pela fraca implantação territorial da LREM, pela intromissão da EELV na batalha pelo voto à esquerda, e indo ao desencanto popular com o “fenómeno Macron” e ao cansaço acumulado por meses de protesto dos Coletes Amarelos, não há apenas uma explicação para a má noite eleitoral do partido do Presidente, mas um conjunto delas.
Isto não significa, porém, que a reeleição de Macron esteja condenada ao fracasso ou que o próximo chefe de Estado de França virá da EELV. A LREM atropelou os partidos tradicionais – como o Partido Socialista (PS) ou Os Republicanos – nas legislativas de 2017, poucos meses depois da sua criação, demonstrando que cada eleição em França tem o seu contexto muito próprio.
Mesmo tendo conquistado Perpignan nestas eleições, a União Nacional, de Marine Le Pen – vista novamente como a grande adversária de Macron nas próximas presidenciais –, também teve um desempenho fraco. Depois de ter elegido 1438 deputados municipais em 2014, a extrema-direita ficou-se pelos 840 este ano.
Ainda assim, uma coisa parece ser certa para 2022: Macron necessitará do eleitorado jovem, ecologista, cosmopolita e de esquerda que se virou agora para a EELV, mas também para o aparentemente moribundo PS que, para além de Paris, manteve ou venceu em cidades como Nantes, Montpellier, Rennes, Le Mans ou Dijon.
“A esquerda e os ecologistas conseguiram vitórias formidáveis. Há algo a reemergir neste país, um bloco social-ecológico que agora temos de consolidar”, celebrou Olivier Faure, líder dos socialistas franceses.
É nessa lógica de reagrupamento do eleitorado que votou em si em 2017 que parecem encaixar as propostas e medidas prometidas esta segunda-feira pelo Presidente que, garantiu, irá adoptar 146 das 149 propostas apresentadas pela Convenção de Cidadãos pelo Clima.
“A Ecologia é a área onde existe maior percepção de que Macron nada fez”, afirma o analista político e director da empresa de sondagens Ifop, Frédéric Dabi. “Os franceses vão querer resultados nas questões ambientais”.