Benny Gantz contradiz Netanyahu e sugere que anexação de parte da Cisjordânia não é para já
Primeiro-ministro israelita prometeu anunciar plano de anexação da Cisjordânia na quarta-feira, mas ministro da Defesa diz que prioridade é combater a covid-19. Netanyahu responde que palavra final “não cabe ao Partido Azul e Branco”.
O plano do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para anexar parte do território palestiniano sofreu um revés esta segunda-feira, depois de Benny Gantz, ministro da Defesa e próximo primeiro-ministro no esquema rotativo do Governo de coligação, ter afirmado que a prioridade do país é o combate à covid-19, dando a entender que o plano de anexação poderá ter de esperar.
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O plano do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para anexar parte do território palestiniano sofreu um revés esta segunda-feira, depois de Benny Gantz, ministro da Defesa e próximo primeiro-ministro no esquema rotativo do Governo de coligação, ter afirmado que a prioridade do país é o combate à covid-19, dando a entender que o plano de anexação poderá ter de esperar.
Esta segunda-feira, Benny Gantz, do Partido Azul e Branco, reuniu-se com o embaixador norte-americano em Israel, David Friedman, e com o enviado especial da Administração Trump, Avi Berkowit, para discutir os próximos passos do Governo israelita relativamente à Cisjordânia.
Segundo o Haaretz, na reunião com os norte-americanos, Gantz afirmou que a data de 1 de Julho, referida por Netanyahu como o dia em que a anexação de parte da Cisjordânia será anunciada, não é “uma data sagrada” e que, antes de se falar em anexação, “é preciso lidar com o coronavírus”.
Durante a reunião, refere o mesmo jornal israelita, o ministro da Defesa elogiou o plano de Donald Trump apresentado em Janeiro, que prevê que mais de um terço da Cisjordânia fique sob controlo permanente de Israel, descrevendo-o como “um acto histórico para promover a paz no Médio Oriente”. Gantz acrescentou ainda que o plano deve incluir “os parceiros estratégicos na região e os palestinianos” e deve ir ao encontro das pretensões “de todos os lados, de forma proporcional, responsável e recíproca”.
O “plano do século”, como chegou a ser apelidado por Donald Trump, foi imediatamente rejeitado pela Autoridade Palestiniana e pela Liga Árabe, por considerarem que abria caminho à anexação por parte de Israel de grande parte da Cisjordânia, incluindo todo o Vale do Jordão, pondo fim à solução de dois estados.
Com a formação do novo Governo israelita, após três eleições legislativas num ano e um acordo entre o Likud, de Netanyahu, e o Partido Azul e Branco, de Benny Gantz, o primeiro-ministro israelita anunciou a intenção de anexar mais território palestiniano, cumprindo assim uma das suas promessas de campanha, apesar de ainda não ter anunciado a dimensão do seu plano e quais os territórios que pretende anexar.
Contudo, com o Presidente norte-americano mais preocupado com as presidenciais do próximo mês de Novembro, o plano para pôr fim ao conflito israelo-árabe ficou para segundo plano e as movimentações de Netanyahu não colheram grande entusiasmo na Casa Branca. Segundo o Jerusalem Post, a visita de Avi Berkowitz a Israel anuncia mesmo que o plano de anexação não será anunciado a 1 de Julho, conforme pretende Netanyahu, por não existir ainda acordo entre Telavive e Washington.
As declarações de Benny Gatz não caíram bem na coligação e levaram Netanyahu a garantir, numa reunião com os membros do Likud, que a decisão quanto à anexação “não cabe ao Partido Azul e Branco”. Além disso, o primeiro-ministro israelita garantiu que Israel e Estados Unidos continuam a dialogar.
Às vozes de condenação que surgiram assim que Netanyahu revelou a intenção de anexar mais território palestiniano, particularmente na União Europeia e nos países árabes, juntou-se, esta segunda-feira, a voz de Michelle Bachelet, que reafirmou a ilegalidade de qualquer anexação na Cisjordânia.
“A anexação é ilegal. Ponto final”, afirmou em comunicado a Alta-Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos. “Estou profundamente preocupada com o facto de que mesmo a forma mais minimalista de anexação leve ao aumento da violência e à perda de vidas”, alertou.