A versão americana de A Educadora de Infância (2018), protagonizada por Maggie Gyllenhaal, que narra a progressiva aproximação de uma professora a um dos seus alunos, um rapaz de cinco anos que recita de forma espontânea poesia da sua autoria e que estreou por cá, deixou-me curioso pelo original, Haganenet, realizado em 2014 pelo israelita Nadav Lapid, que tem sido distribuído timidamente em Portugal: O Policia (2011) e Sinónimos (2019). Numa das primeiras cenas do filme de Lapid, o marido da protagonista ao virar-se parece tocar na câmara, o que ameaça o derrube da quarta parede, numa intenção reiterada em outras cenas, como quando as crianças entram no jardim e nos olham de frente. Esta abordagem reforça o vínculo com o espectador, o que nos coloca num triângulo que junta a criança à professora, que quer encontrar para o pequeno Yoav um mundo disponível para aquela escrita automática de poesia, numa narrativa já em si mesma moralmente ambígua, e que Lapid adensa com outras problemáticas da nação de Israel. Esta crença na capacidade do espectador de se posicionar e interpretar um objecto é, por estes dias, quase um alívio, num tempo em que as plataformas de streaming censuram cenas e removem filmes dos catálogos, na procura de uma higienização, como quem nos livra de uma praga, para a obtenção de exemplares artísticos assépticos, despidos do curso da História, que se arquiva, assim, para esquecer.
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A versão americana de A Educadora de Infância (2018), protagonizada por Maggie Gyllenhaal, que narra a progressiva aproximação de uma professora a um dos seus alunos, um rapaz de cinco anos que recita de forma espontânea poesia da sua autoria e que estreou por cá, deixou-me curioso pelo original, Haganenet, realizado em 2014 pelo israelita Nadav Lapid, que tem sido distribuído timidamente em Portugal: O Policia (2011) e Sinónimos (2019). Numa das primeiras cenas do filme de Lapid, o marido da protagonista ao virar-se parece tocar na câmara, o que ameaça o derrube da quarta parede, numa intenção reiterada em outras cenas, como quando as crianças entram no jardim e nos olham de frente. Esta abordagem reforça o vínculo com o espectador, o que nos coloca num triângulo que junta a criança à professora, que quer encontrar para o pequeno Yoav um mundo disponível para aquela escrita automática de poesia, numa narrativa já em si mesma moralmente ambígua, e que Lapid adensa com outras problemáticas da nação de Israel. Esta crença na capacidade do espectador de se posicionar e interpretar um objecto é, por estes dias, quase um alívio, num tempo em que as plataformas de streaming censuram cenas e removem filmes dos catálogos, na procura de uma higienização, como quem nos livra de uma praga, para a obtenção de exemplares artísticos assépticos, despidos do curso da História, que se arquiva, assim, para esquecer.