Estamos mais gordos e mais sedentários, mas sentimo-nos mais satisfeitos com a vida

Quase dois terços da população com 15 anos ou mais admitiu que não praticava qualquer desporto de forma regular no último Inquérito Nacional de Saúde.

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Os resultados do último inquérito nacional de saúde indicam que a idade, tal como o consumo de tabaco, são “as principais características diferenciadoras da morbilidade” PAULO PIMENTA

Estamos mais gordos e mais sedentários, mas sentimo-nos menos deprimidos e mais satisfeitos com a vida. O número de fumadores baixou mas aumentou o consumo “arriscado” de bebidas alcoólicas. Este é, em traços gerais, o retrato mais recente da saúde da população com 15 ou mais anos residente em Portugal.

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Estamos mais gordos e mais sedentários, mas sentimo-nos menos deprimidos e mais satisfeitos com a vida. O número de fumadores baixou mas aumentou o consumo “arriscado” de bebidas alcoólicas. Este é, em traços gerais, o retrato mais recente da saúde da população com 15 ou mais anos residente em Portugal.

Em cinco anos, de 2014 para 2019, a percentagem de adultos residentes em Portugal com excesso de peso ou obesidade aumentou ligeiramente, agravando um problema que já era preocupante, uma vez que mais de metade da população com idade igual ou superior a 18 anos se encontra nesta situação. Cerca de um terço (36,6%) tem excesso de peso e 16,9% é obesa, indicam os resultados do último Inquérito Nacional de Saúde, de 2019, que esta sexta-feira foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

“A proporção de adultos com excesso de peso ou obesidade aumentou 0,8 p.p. [pontos percentuais] em relação a 2014, principalmente no caso dos homens” e “nos grupos etários mais jovens (dos 18 aos 34 anos) e mais idosos (85 ou mais anos)”, observa o INE no destaque em que adianta algumas das conclusões deste estudo — realizado com base numa amostra representativa de 22.191 alojamentos de todo o país e obteve 14.617 respostas válidas.

Na prática de exercício físico, o panorama também piorou de 2014 para 2019. Quase dois terços da população com 15 anos ou mais admitiu que não praticava qualquer desporto de forma regular e apenas 13,6% disse que fazia exercício físico um ou dois dias por semana (15,4% em 2014). O exercício físico constituía ainda uma prática diária para apenas 3,7% da população (4,8% em 2014).

Os resultados do inquérito revelam igualmente “um aumento significativo” da população que desempenha as suas tarefas diárias sentada ou em pé em actividades que envolvem um esforço físico ligeiro — passou de 47%, em 2014, para 50,7%, em 2019.

Em contrapartida, a faixa da população com 15 ou mais anos que evidenciou sintomas depressivos diminuiu, de 10% em 2014 para 8% no último inquérito. Mesmo assim, foram 716 mil as pessoas que apresentaram sintomas depressivos nos inquéritos efectuados com a metodologia PHQ-8 (Patient Health Questionnaire Depression Scale). Preocupante é também o facto de cerca de 170 mil inquiridos assumirem que não tinham a quem recorrer no caso de enfrentarem um problema pessoal grave.

A maior parte (cerca de 70%) das pessoas com sintomas depressivos eram mulheres. “No caso dos homens, só se verificam percentagens mais elevadas a partir dos 75 anos. No caso das mulheres, a partir dos 45 anos já se observam proporções superiores a 10%, no grupo etário dos 75 aos 84 anos aproxima-se dos 20% e no dos 85 ou mais anos situa-se em 24,5%”, especifica o INE.

Analisando os níveis de satisfação com a vida, cerca de metade dos inquiridos mostrou-se satisfeita ou bastante satisfeita com a vida no final de 2019, de novo um aumento face aos resultados de 2014. Entre os jovens dos 15 aos 24 anos a percentagem de satisfeitos ou bastante satisfeitos ultrapassou os 70%, enquanto na população com 65 ou mais anos esse valor era inferior a 50%.

Ainda assim, 8,7% dos inquiridos avaliaram de forma negativa a sua vida em geral, considerando-se insatisfeitos ou muito insatisfeitos. “Esta visão negativa atinge o valor mais elevado entre as mulheres com 65 ou mais anos, ultrapassando os 10%”, nota o INE. 

Mais dores lombares

Uma boa notícia é a de que diminuiu a proporção da população fumadora: das pessoas com 15 anos ou mais, 17% diziam fumar em 2019 (contra 20% em 2014). Mas cerca de 1,3 milhões fumam todos os dias.

Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, apesar de ser também menor a proporção dos que bebem diariamente (perto de 30%, menos cinco pontos percentuais do que em 2014), disparou o número dos que revelaram ter consumido seis ou mais bebidas alcoólicas numa única ocasião ou evento (o chamado “consumo arriscado") nos 12 meses anteriores — foram 2,6 milhões, quase 43% da população inquirida. “Este resultado reflecte um aumento de cerca de 9,6 p.p. relativamente a 2014 (33,2%) mais evidente nas mulheres (30,3% em 2019 e 18,1% em 2014)”, enfatiza o INE.

Os dados indicam ainda um aumento, relativamente a 2014, da proporção de pessoas que referiam sofrer de dores lombares e cervicais e outros problemas crónicos no pescoço, além de hipertensão arterial.

Olhando para as doenças em geral, o INE frisa que todas as patologias, com excepção da cirrose hepática, afectam mais mulheres do que homens. “No caso da depressão, da incontinência urinária e da artrose, este rácio atinge valores máximos, de 251 e 248 mulheres por cada 100 homens, respectivamente”.

Os resultados do último inquérito nacional de saúde indicam também que a idade, tal como o consumo de tabaco, são “as principais características diferenciadoras da morbilidade.” A doença coronária é “das que são relativamente mais frequentes no caso dos fumadores (2 112 fumadores por cada 100 não fumadores)”. De igual forma, ter excesso de peso ou obesidade aumenta a probabilidade de ser portador de uma doença. “Os casos mais extremos ocorrem para a diabetes (375 pessoas com excesso de peso ou obesidade por cada 100 pessoas com peso normal), a hipertensão arterial (288) e os problemas renais (285)”.

Ter consumido álcool “tem igualmente uma associação positiva com a prevalência de doenças, sendo os valores máximos encontrados para o enfarte do miocárdio (311 pessoas que consumiram álcool por cada 100 pessoas que não consumiram), alergias (290) e colesterol elevado (289)”. com Lusa