Temos um Algarve quase só para nós, mas será que nós chegamos?

As praias da região algarvia estão estranhamente silenciosas. Há espaço sem-fim para estender a toalha, as ruas outrora pejadas de turistas parecem quase desertas. É bom para quem está de férias, mas os negócios do turismo precisam de sobreviver.

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Praia da Galé, Albufeira, Junho de 2020 DR

Albufeira, 17 de Junho de 2020, 14h30. Calor algarvio a aquecer a pele, mas com um vento chato e fora do contexto a temperar este início de tarde. A Avenida da Liberdade, onde se perfilam lojas de souvenirs, de quinquilharia de praia e um ou outro bar, está praticamente deserta. O mesmo no vizinho Largo Engenheiro Duarte Pacheco, para onde noutros Junhos convergiam hordas de turistas, com os ingleses à cabeça. No caminho até ao túnel que desagua na praia, idem aspas. No areal, as poucas espreguiçadeiras protegidas com chapéus de colmo estão todas vazias. E as toalhas estendidas contam-se pelos dedos.

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Albufeira, 17 de Junho de 2020, 14h30. Calor algarvio a aquecer a pele, mas com um vento chato e fora do contexto a temperar este início de tarde. A Avenida da Liberdade, onde se perfilam lojas de souvenirs, de quinquilharia de praia e um ou outro bar, está praticamente deserta. O mesmo no vizinho Largo Engenheiro Duarte Pacheco, para onde noutros Junhos convergiam hordas de turistas, com os ingleses à cabeça. No caminho até ao túnel que desagua na praia, idem aspas. No areal, as poucas espreguiçadeiras protegidas com chapéus de colmo estão todas vazias. E as toalhas estendidas contam-se pelos dedos.

Estamos na segunda quinzena de Junho e perguntamos: que Algarve é este? “É um Algarve típico de Março”, comenta Ana Isa Figueiredo, assistente de direcção do São Rafael Villas, Apartments and Guest House, empreendimento turístico na praia com o mesmo nome, nas Sesmarias, a poucos quilómetros de Albufeira. Excepção feita à semana dos feriados de 10 e 11 de Junho, aproveitados por muitos portugueses para as primeiras miniférias pós-confinamento, o Algarve tem estado quase às moscas, lamenta Ana Isa. “No outro dia, à noite, fui comer um gelado à Oura e nem queria acreditar no que via, tudo vazio”, junta.

Quem chega ao Algarve por estes dias sente a mesma estranheza. Há um silêncio perturbador nas praias, espaço até mais não para estender a toalha e plantar o guarda-sol – e, pela parte que nos toca, também o pára-vento, que, já o dissemos, os dias que nos saíram na rifa foram quentes mas muito ventosos. Não fossem os impactos provocados pela pandemia da covid-19 e agradeceríamos este Algarve quase só para nós – mas, nesta fase de luta pela sobrevivência de muitos negócios ligados ao turismo, queremos que volte depressa um Algarve para todos. Sempre, claro, com os cuidados devidos para conter a propagação do vírus SARS-CoV-2.

Até porque nesta altura não é nada difícil manter o distanciamento social exigido. Quem chega à praia dos Salgados, por exemplo, tem um areal desafogado e muito bom sítio para se instalar a aproveitar o sol e o mar. De manhã, então, sobra a sensação de que a praia é mesmo só para nós: chegamos pouco depois das 9h e não temos ninguém no horizonte. Com o avançar do relógio aparecem outros banhistas, mas quase não damos por eles.

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Luís Forra/Lusa

Fazemos das caminhadas à beira-mar um ritual diário. Para a esquerda, está a praia da Galé; para a direita, a praia Grande. Para onde quer que caminhemos, o cenário é quase sempre o mesmo: pequenos grupos, de duas ou três pessoas, a andar junto ao mar; pouca gente na água, que se apresenta fria neste Junho; e um areal muito escassamente povoado.

Os concessionários das praias esperam e desesperam por quem queira pagar por uma espreguiçadeira, mas elas teimam em ficar vazias boa parte do dia. Os vendedores de bolas-de-berlim já não soltam o pregão e por estes dias anunciam-se através de uma discreta sineta. Somos lambareiros, mas procuramos as Bolinhas do Carlos mais para meter conversa do que propriamente por gula.

O vendedor, protegido atrás da máscara, prefere não dar o nome, mas dá o seu comentário: “Isto está mau, pouca gente na praia. Sinceramente, não sei como vai ser este Verão.” É com creme ou sem creme?, pergunta entretanto. Com creme – se é para ser, que seja a sério. Fica a bolinha por 1,30€. Enquanto nos prepara o troco, o homem deixa o apelo. “É jornalista? Então veja se escreve aí que vir à praia é seguro, para as pessoas não terem medo de vir para o Algarve. Se não, não sei como é que isto vai ser…”

À espera de dias melhores, é assim que está o Algarve este ano. É possível que a abertura das fronteiras com Espanha, agendada para dia 1 de Julho, ajude a equilibrar as contas. E que o retomar de voos comerciais de passageiros, que se tem intensificado nos últimos dias, também dê uma ajuda. Várias companhias aéreas já recomeçaram as suas ligações e outras preparam-se para voltar a voar para o Algarve a partir do início de Julho. “A retoma gradual das ligações aéreas para o Algarve é um sinal positivo para o turismo da região, para o tecido económico e social e, acima de tudo, é prova de que existe a importante percepção de que somos, aos olhos dos restantes países, um destino seguro”, sublinha João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve, num comunicado divulgado esta semana.

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Praia dos Salgados, Albufeira, Junho de 2020 DR

Mas, sobretudo aos olhos dos turistas nacionais, os que mais têm procurado a região Sul nos últimos tempos, também é possível que o surto de covid-19 identificado em Lagos, depois de uma festa ilegal em Odiáxere da qual resultaram 111 casos de infecção, tenha efeitos nefastos. E também é possível que o número de infectados na região algarvia – que tem, no total, mais de 550 casos e 15 óbitos – aumente por outra razão qualquer ou que outras medidas de contenção do vírus venham a ser necessárias. O futuro do turismo no Algarve é, de facto, uma grande incógnita.