Desfile do Liverpool campeão vai começar no estádio do rival
Manchester City falhou na deslocação a Stamford Bridge e viu os “reds” celebrarem o título, 30 anos depois do último.
O anúncio, feito ao início da tarde, de que o embate da próxima jornada da Premier League entre o Manchester City e o Liverpool poderá ser realizado no Etihad Stadium perdeu força na noite desta quinta-feira. A hipótese de o jogo ser disputado em campo neutro ruiu no exacto dia em que ruíram as ténues aspirações dos “citizens” de, pelo menos, prolongarem durante mais umas rondas a indefinição em torno do campeão inglês 2019-20. O desaire diante do Chelsea, na partida que encerrou a 31.ª jornada, entregou as chaves do título ao rival, que volta a celebrar 30 anos depois.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O anúncio, feito ao início da tarde, de que o embate da próxima jornada da Premier League entre o Manchester City e o Liverpool poderá ser realizado no Etihad Stadium perdeu força na noite desta quinta-feira. A hipótese de o jogo ser disputado em campo neutro ruiu no exacto dia em que ruíram as ténues aspirações dos “citizens” de, pelo menos, prolongarem durante mais umas rondas a indefinição em torno do campeão inglês 2019-20. O desaire diante do Chelsea, na partida que encerrou a 31.ª jornada, entregou as chaves do título ao rival, que volta a celebrar 30 anos depois.
A ampulheta da Premier League já há muito que tinha sido virada ao contrário. Era uma questão de tempo até um Liverpool verdadeiramente imparável se sagrar campeão, interrompendo um jejum de três décadas, que contou com duas aproximações vertiginosas ao título.
A primeira foi em 2013-14, com Brendan Rogers no comando e Steven Gerrard no papel de anti-herói, ao escorregar num momento capital (de um jogo capital, com o Chelsea) que contribuiu para uma derrota que hipotecou o campeonato. A segunda deu-se na época passada, depois de uma campanha brilhante em que somou 97 pontos, ficando a um do primeiro lugar. Em comum, para além de uma luta até ao último sopro, estas duas temporadas tiveram o Manchester City no trono.
“Desde que cá cheguei que quero ganhar a Premier League. A cidade já não a vence há muito tempo. Na época passada tivemos uma boa hipótese, mas o City também jogou muito bem e mereceu. Agora, é a nossa vez de ganhar a Liga”, resumiu Mohamed Salah, uma das referências do actual Liverpool, depois da goleada aplicada na quarta-feira ao Crystal Palace, por 4-0.
Hoje, os ídolos dos adeptos “reds” são Salah, naturalmente, mas também Alisson, Virgil van Dijk, Sadio Mané ou Roberto Firmino. Há 30 anos, sobressaíam nomes como os de Bruce Grobbelaar, John Barnes, Ronnie Whelan, Peter Beardsley, John Aldridge e, claro está, Ian Rush. Nessa época longínqua, de 1989-90, o Liverpool celebrou com 79 pontos em 38 jogos, fruto de 23 vitórias e 10 empates. Agora, ainda com sete jornadas pela frente, já colecciona 86 pontos (28 vitórias, dois empates e uma única derrota, com o Watford, no final de Fevereiro).
Klopp, o mobilizador
Para um clube que ostenta já o título de campeão europeu, depois de um triunfo na final da Champions sobre os compatriotas do Tottenham, a 1 de Junho de 2019, o título inglês era a peça que faltava para completar o puzzle demolidor montado por Jürgen Klopp, desde que chegou a Inglaterra, em 2015. O treinador alemão, tão carismático quanto competente e meticuloso, tem sido recorrentemente apontado como o obreiro deste Liverpool devorador, que parece ter vindo para ficar.
“Pep disse que vai actuar com jogadores menos utilizados? Ele devia jogar póquer. Nós somos diferentes e não podemos jogar como eles, só podemos ser tão bons quanto eles e é isso que queremos. Não sei se verei o jogo. Vi o último até ao 3-0 e foi uma perda de tempo. Eles são brilhantes”. Foi desta forma que Klopp reagiu quando lhe perguntaram se ia acompanhar de perto o Chelsea-Manchester City.
Talvez o técnico alemão também estivesse a fazer bluff. E se tiver seguido, através da televisão, o derradeiro encontro da 31.ª jornada, não terá certamente deixado de dar largas ao sorriso que o costuma acompanhar. Só precisava que o City não vencesse em Londres e acabou por ter um prémio ainda maior.
Num jogo com uma segunda parte alucinante, o Chelsea (que já se tinha colocado em vantagem por Pulisic na primeira parte, depois de um erro crasso de Mendy) bateu o (então) ainda campeão por 2-1 e deu largas à festa possível (em tempos de covid-19) nas casas e ruas de Liverpool.
Kevin de Bruyne ainda empatou a partida, de livre directo, e o Manchester City esteve perto da reviravolta, não tivesse a bola sido devolvida pelo poste. Mas do lado contrário a bola também andou em cima da linha de golo por duas vezes e acabou mesmo nas redes pela segunda vez, na sequência de um penálti cobrado por Willian.
A sete jornadas do final da Premier League, e com 21 pontos por disputar, a equipa de Pep Guardiola já não tem hipóteses matemáticas de evitar o triunfo do rival, que nesta altura goza de uma abismal vantagem de 23 pontos na liderança que já transformou a presente temporada numa campanha histórica.
Campanha, essa, baseada num 4x3x3 muito equilibrado, que conta com um bloco alto e com pressão cirúrgica, tirando os melhores dividendos do tridente ofensivo Mané-Salah-Firmino. Juntos, contabilizam 50 dos 99 golos da equipa nas diferentes provas.
Com o título no bolso, o 19.º do palmarés do clube (está a um do recordista Manchester United), o Liverpool vai entrar no estádio do Manchester City, no dia 2 de Julho, para a primeira festa da consagração. E consciente de que a premissa com que Jürgen Klopp chegou à cidade, há cinco anos, se materializou: “Temos de transformar-nos de cépticos em crentes”.