Irão acusa agência de energia atómica de falta de independência
Tensão em torno de uma resolução apresentada pela França, Reino Unido e Alemanha, partes signatárias do acordo nuclear, que é o primeiro texto crítico do Irão desde 2012, pedindo acesso aos inspectores da AIEA a dois locais.
O Presidente do Irão, Hassan Rohani, questionou esta quarta-feira a independência da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) após o organismo adoptar uma resolução em que critica Teerão por recusar inspecções e assegurou que a República Islâmica está disponível para negociar com os Estados Unidos. Mas só se Washington pedir desculpa por ter saído do acordo nuclear e aceitar pagar uma indemnização ao Irão.
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O Presidente do Irão, Hassan Rohani, questionou esta quarta-feira a independência da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) após o organismo adoptar uma resolução em que critica Teerão por recusar inspecções e assegurou que a República Islâmica está disponível para negociar com os Estados Unidos. Mas só se Washington pedir desculpa por ter saído do acordo nuclear e aceitar pagar uma indemnização ao Irão.
“Não temos qualquer problema em negociar com os EUA, mas apenas se Washington cumprir as suas obrigações do acordo nuclear, pedir desculpa e compensar Teerão por se ter retirado do acordo de 2015”, disse num discurso televisivo o Presidente iraniano. “Mas sabemos que esses pedidos para negociações não passam de palavras e mentiras”.
As tensões entre Washington e Teerão estão elevadas desde que os EUA abandonaram, de forma unilateral, em 2018, o acordo nuclear firmado em 2015, durante a Administração de Barack Obama. O Presidente americano, Donald Trump, sempre criticou o acordo e avançou com o processo para o abandonar, oferecendo, no entanto, um outro acordo, menos proveitoso que o anterior e impondo duras sanções ao Irão – a chamada campanha de “pressão máxima”.
Mas o Irão diz que apenas aceita regressar à mesa das negociações se os Estados Unidos levantarem as sanções e, agora, se pedirem desculpas e regressarem ao acordo nuclear. Teerão nunca aceitará sentar-se com os americanos numa posição de fraqueza. Os dois países estão em posições completamente antagónicas e nenhuma das partes dá sinais de vir a ceder.
E esse embate chegou na passada sexta-feira à Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) pela mão da França, Reino Unido e Alemanha, partes signatárias do acordo nuclear. Apresentaram uma resolução, o primeiro texto crítico do Irão desde 2012, a criticar a República Islâmica e pedindo que desse acesso aos inspectores da AIEA a dois locais específicos, para que seja esclarecido se o Irão lançou actividades nucleares não declaradas no início do século XXI.
Documento que foi entendido pelos iranianos como mais uma forma de pressão americana sobre os seus aliados europeus, fundamentais nas negociações do acordo de 2015 e para manter ainda alguma abertura aos mercados internacionais. “O regime sionista [Israel] e os americanos estão a fazer pressão junto da agência para averiguar coisas que aconteceram há 20 ou 18 anos. Eles manipulam a agência e conduzem-na ao erro”, disse Rohani. “A agência deve ser capaz de preservar a sua independência”.
O documento tem neste momento um mero carácter simbólico, mas, se os seus proponentes e aliados pressionarem, poderá fazer caminho até ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, abrindo um novo contencioso no órgão e até uma nova discussão sobre o endurecimento das sanções ao Irão. No entanto, a China e a Rússia mantêm-se fiéis a Teerão e, dado serem membros permanentes do Conselho de Segurançs e terem direito de veto, novas sanções podem não ser decretadas.
As verificações da agência das Nações Unidas mantêm-se nas instalações nucleares onde o Irão continua a fazer enriquecimento de urânio, que facilmente poderia ser usado para armas nucleares, mas Teerão não autoriza inspecções em dois locais mais antigos e alegadamente desmantelados. Um foi parcialmente demolido em 2004, enquanto no outro a agência detectou “esforços consistentes de limpeza” a partir de Julho de 2019. O director-geral da agência, Rafael Grossi, tem reiterado preocupações por Teerão negar, há mais de quatro meses, qualquer acesso ao local.