FMI mais pessimista: queda maior em 2020, com retoma lenta a seguir

Em vez de uma contracção de 7,5% do PIB da zona euro prevista em Abril, o FMI prevê agora uma queda de 10,2%. Para Portugal não foram divulgadas novas previsões, mas o redobrado pessimismo do Fundo deixa o governo ainda mais isolado nas suas previsões.

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Reuters/MARCOS BRINDICCI

A constatação de que a quebra do consumo e do investimento está a ser mais acentuada do que o previsto, a persistência dos efeitos da pandemia em vários países e os sinais de que a mobilidade das populações e a produtividade das empresas vão demorar a voltar aos níveis do passado levaram a que o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisse esta quarta-feira em forte baixa as suas previsões para a economia mundial durante este ano e o próximo. Uma queda da economia de quase 5% no mundo e de mais de 10% na zona euro é agora o cenário base do Fundo para este ano.

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A constatação de que a quebra do consumo e do investimento está a ser mais acentuada do que o previsto, a persistência dos efeitos da pandemia em vários países e os sinais de que a mobilidade das populações e a produtividade das empresas vão demorar a voltar aos níveis do passado levaram a que o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisse esta quarta-feira em forte baixa as suas previsões para a economia mundial durante este ano e o próximo. Uma queda da economia de quase 5% no mundo e de mais de 10% na zona euro é agora o cenário base do Fundo para este ano.

Na actualização que normalmente faz no intervalo entre as suas previsões de Primavera e as de Outono, o FMI aproveitou para rever as estimativas que fez ainda no início da presente crise, em Abril, e que, até essa altura, estavam entre as mais pessimistas apresentadas. Essa revisão fez com que o Fundo se revelasse agora ainda mais pessimista.

Para a economia mundial, enquanto em Abril apontava para uma quebra do PIB de 3% em 2020 com uma recuperação de 5,8% em 2021, agora projecta uma contracção de 4,9% este ano e retoma de 5,4% em 2021.

Mas o aumento do pessimismo é particularmente notório no que diz respeito à Europa. Em Abril, os responsáveis do Fundo estimavam no seu cenário base uma queda do PIB da zona euro de 7,5%. Agora vêem a economia a cair 10,2%.

Em Espanha, Itália e França, países particularmente afectados pela economia, a quebra prevista para o PIB este ano supera agora os 12%. Em França, a revisão em baixa da previsão do PIB foi de 5,3 pontos percentuais, em Espanha de 4,8 pontos e em Itália de 3,7 pontos.

No que diz respeito a 2021, o FMI projecta agora uma taxa de crescimento para a zona euro um pouco maior (6% em vez de 4,3%), mas a perda no valor do PIB de 2021 face a 2019 acentuou-se, com o Fundo a antecipar agora um período de tempo mais prolongado até que as economias regressem ao nível que se encontravam antes da crise.

No outros pontos do globo, a deterioração das expectativas também é a norma. Nos EUA, a previsão de contracção da economia este ano passou de 5,9% para 8%. No Reino Unido, de 6,5% para 10,2%. Na Índia, em vez de um crescimento de 1,9%, prevê-se agora uma recessão de 4,5%. No Brasil, a previsão de variação negativa do PIB passou de 5,3% para 9,1%. E na África subsaariana, a redução do PIB será de 3,2%, em vez dos 1,6% antes previstos.

A grande excepção nesta tendência de maior pessimismo é a China, para a qual o FMI deixou as suas previsões quase inalteradas: em vez de um crescimento de 1,2% este ano e de 9,2% no próximo, antecipam-se agora taxas de crescimento de 1% e 8,2% respectivamente.

Expectativas mais negativas para Portugal

Para Portugal, como é habitual nestas actualizações intercalares que o FMI faz às suas previsões, não há novos números publicados, mas ao olhar para as revisões em baixa que foram feitas às projecções da generalidade dos países, em particular na Europa, ficam poucas dúvidas de que aquilo que o Fundo previu no passado mês de Abril, uma queda do PIB de 8% este ano, com um crescimento de 5% em 2021, já está desactualizado.

Se se olhar para Espanha, um país com o qual Portugal tem normalmente uma maior sincronia na evolução da economia, aquilo que o FMI poderá já estar a esperar é também uma contracção do PIB superior a 10%. No caso espanhol, a previsão passou de uma recessão de 8% para 12,8%.

A confirmar-se, isto fará com que as previsões do FMI fiquem ainda mais distantes daquelas que foram feitas pelo Governo na sua proposta de Orçamento Suplementar. Nesse documento, o Executivo aponta para uma contracção da economia portuguesa de 6,9% este ano, mas a verdade é que, à medida que as diversas instituições - Banco de Portugal, Conselho das Finanças Públicas, OCDE e agora FMI - divulgam previsões mais actualizadas, esta previsão do Governo vai ficando mais isolada. Neste momento, apenas a Comissão Europeia, que apresentou previsões em Maio, prevê uma contracção da economia portuguesa semelhante à do Governo, todas as outras entidades, com previsões mais recentes, estão a apontar para quedas do PIB português próximas de 10%.

Dívidas e défices mais elevados

No relatório, os responsáveis do FMI explicam que a revisão que efectuaram nas previsões se deve, não só aos dados mais negativos entretanto conhecidos, como também à convicção crescente de que esta crise irá representar, para os próximos meses, um entrave mais persistente para o crescimento.

Ainda assim, diz o Fundo, tudo seria bastante pior sem a intervenção que tem vindo a ser feita pelos Estados através da política orçamental e monetária, algo que se recomenda continue a ser feito nos próximos tempos.

Isto tem, no entanto, uma consequência: uma subida muito acentuada dos valores do défice e da dívida em praticamente todos os países. No caso da zona euro, diz o Fundo, a dívida irá superar os 100% do PIB em 2020 e manter-se a esse nível em 2021.

O caso da Espanha é emblemático. Em Abril, o FMI previa que o rácio da dívida pública espanhola no PIB passasse de 95,5% em 2019 para 113,4% em 2020, mas agora projecta uma escalada para 123,8% este ano, com uma nova ligeira subida em 2021.

No caso de Portugal, que parte de 117% em 2019, o FM previa em Abril uma dívida acima de 130%, com redução deste indicador logo a partir de 2021.