Teatro Sá da Bandeira já é da Lello e o futuro passa por um projecto multicultural
O equipamento foi adquirido em Maio do ano passado, mas a escritura só foi celebrada entre a autarquia e a Livraria Lello nesta terça-feira, com a salvaguarda de que o teatro cumprirá a sua função cultural, sob pena de a câmara voltar a exercer o direito de compra.
O negócio ficou fechado em Maio de 2019, mas só nesta terça-feira é que foi celebrada a escritura pública que oficializa a venda do Teatro Sá da Bandeira à Livraria Lello, que o adquiriu à câmara do Porto por 3,5 milhões de euros, dois anos depois de a autarquia o ter comprado a outro privado, que durante os últimos anos arrendou o espaço à empresa Rocha Brito e Vigoço.
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O negócio ficou fechado em Maio de 2019, mas só nesta terça-feira é que foi celebrada a escritura pública que oficializa a venda do Teatro Sá da Bandeira à Livraria Lello, que o adquiriu à câmara do Porto por 3,5 milhões de euros, dois anos depois de a autarquia o ter comprado a outro privado, que durante os últimos anos arrendou o espaço à empresa Rocha Brito e Vigoço.
A assinatura entre vendedor e comprador chegou a estar marcada para 27 de Março, dia mundial do Teatro, mas a pandemia forçou a um adiamento. O compromisso foi agora selado, em véspera de São João, por Rui Moreira e pelo empresário Avelino Pedro Pinto, que detém 51% da Lello e outros investimentos que lhe custaram vários milhões de euros, entre eles o Centro Empresarial Lionesa, em Leça do Balio, para o qual, até 2025, tem previsto um investimento de 100 milhões de euros, por via de capitais próprios. O empresário é ainda proprietário, entre outros imóveis do Grande Porto, de cinco edifícios na Rua do Loureiro, também na Baixa, dos quais se inclui a Pensão Douro, a Casa Arcozelo e a Confeitaria Serrana, que adquiriu por 1 milhão de euros em 2017.
Mas foi a esposa do empresário, Aurora Pedro Pinto, presidente do conselho de administração da Lello, que deu a cara por este novo projecto da livraria. Projecto que diz ainda estar a ser desenhado. Ainda sem grandes pormenores para avançar, garante que passará por continuar a ser um equipamento que servirá a Cultura, um espaço multicultural. Certo é que, como aconteceu na Lello quando adquiriram maioria do capital, passará por obras de requalificação. Porém, ainda não consegue adiantar uma data para o arranque dos trabalhos.
Na passagem da chave do teatro para o novo proprietário, Rui Moreira lembrou que o espaço continuará a cumprir a função para o qual foi designado – quando a autarquia adquiriu o edifício em 2017 com objectivo de o voltar a vender definiu que o novo dono teria de garantir que o equipamento continuaria a funcionar como sala de espectáculos, sob pena de o negócio ser desfeito. Se o novo dono não cumprir o estipulado, a autarquia volta a ter direito de compra.
Em 2017 o teatro foi classificado como monumento de interesse público. Ficou assim salvaguardado que a sala de espectáculos mais antiga da cidade continuaria a cumprir o seu propósito, que, do ponto de vista do autarca, funcionará como alternativa a outros equipamentos, como o Teatro Municipal e o Teatro Nacional. Em véspera de São João, o presidente da câmara assinalou ter sido este o ponto alto de um dia “triste”, que por força da pandemia será muito diferente dos de outros anos em que as ruas da cidade se enchem de gente.
A Lello comprou o edifício em hasta pública em Maio do ano passado por 3,5 milhões de euros - a autarquia tinha exercido o direito de compra do edifício pouco mais de dois anos antes por 2,1 milhões de euros. A base de licitação estava fixada em 2,19 milhões de euros. Até chegar ao valor final, a livraria teve apenas como concorrente o ex-seleccionador nacional, António Oliveira, actual proprietário da Brasileira, edifício que está do outro lado da rua, que não superou o montante oferecido pelo actual dono. Na altura ficou pago 10% do valor. Nesta terça-feira, dia da escritura, saldou-se o resto do montante.
Este foi mais um negócio de compra preconizado pela livraria centenária, que, em 2016, adquiriu a empresa que gere os Armazéns do Castelo para transformar o edifício num espaço museu sobre a história do livro e uma zona de leitura livre. Neste edifício da Rua das Carmelitas funcionava desde 1910 uma casa de têxtil lar, decoração e vestuário. Esta aquisição não passou pela compra do imóvel, mas sim pela aquisição da empresa A. Vale & Cia, Lda, titular dos dois estabelecimentos. O negócio já foi feito sob alçada dos sócios-maioritários, Avelino Pedro Pinto e Aurora Pedro Pinto, que entre o início de 2000 e o final da mesma década foram protagonistas de um processo de fraude entre liquidatários e leiloeiras. O empresário e a esposa, Aurora Pinto, eram na altura proprietários da Sociedade Nacional de Leilões e foram acusados pelo Ministério Público de 108 crimes de participação económica no negócio, 107 de corrupção activa e 11 crimes de peculato.