Travel Tomorrow, um novo site para viajar: “A nossa bandeira é o turismo sustentável”
Acaba de estrear-se, expressa-se em inglês e, a partir de Bruxelas, quer pôr o mundo a viajar melhor, mesmo em tempo de covid-19. Tem à frente o português António Buscardini e Braga será um dos primeiros destinos portugueses em destaque.
Lançar um novo site de turismo global em tempos de pandemia, com o sector a viver aquela que já foi considerada a sua "pior crise” desde que há registos, poderá parecer uma ideia arriscada. Mas para António Buscardini, o português que lidera uma agência de comunicação com o seu nome em Bruxelas, foi mesmo o período de confinamento que criou tanto a oportunidade como a ideia.
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Lançar um novo site de turismo global em tempos de pandemia, com o sector a viver aquela que já foi considerada a sua "pior crise” desde que há registos, poderá parecer uma ideia arriscada. Mas para António Buscardini, o português que lidera uma agência de comunicação com o seu nome em Bruxelas, foi mesmo o período de confinamento que criou tanto a oportunidade como a ideia.
Nos últimos anos, “produzimos três séries sobre viagens para a TV5Monde sobre património cultural, gastronomia, história das cidades”, conta-nos o empresário que além da Buscardini Communications, entre os vários trabalhos de assessoria de imprensa tem também o turismo como “um dos seus pilares”. A série Embarquement produzida para aquele canal internacional francófono costuma viajar pelo mundo, com passagens por Portugal, em pequenos episódios. A pandemia, tal como ocorreu com muitas outras produções de viagens e, claro, com o sector do turismo, veio pôr tudo em stand-by. “Durante este confinamento tivemos de cancelar 14 episódios, o que me levou a reflectir sobre as consequências que isto teria para esta indústria. Foi a declaração da Organização Mundial do Turismo (OMT) sobre como iríamos viajar amanhã que originou um clique, precisamente porque nessas séries já falamos muito sobre o futuro do turismo e como pode, e quando deve, ser sustentável”.
O site Travel Tomorrow – que, por sinal, partilha uma chancela e campanha usada pela OMT, pretende tanto acompanhar a indústria turística como dirigir-se aos turistas, tendo-se estreado na passada terça-feira. E pretende ter uma palavra a dizer sobre, como o seu nome indica, o “turismo de amanhã”. O site engloba o que se espera de uma revista de viagens: destinos e experiências de viagens, novidades e notícias, gastronomia e vinhos, cultura e, entre outros segmentos, os essenciais alojamentos. Começa com algumas dezenas de artigos, algumas secções ainda em desenvolvimento, mas, diz António Buscardini, responsável pelo projecto e que também foi fundador do site noticioso Brussels Express, será também uma plataforma para “pôr novamente o turismo sustentável na agenda”, uma “conversa complicada”, nos dias que correm, admite, para todos os agentes envolvidos no turismo, do empresário ao decisor e ao turista.
“Todos precisam de cash flow e não interessa como. Havia um esforço na Europa para sensibilizar os vários agentes, das companhias aéreas à hotelaria passando por quem viaja, como por exemplo ter em conta a pegada de carbono. Todas essas políticas agora têm um ponto de interrogação” à frente, opina. Até porque, sublinha, "quando se fala de sobreviver e de pagar salários, dificilmente há espaço para ter outro tipo de conversa”.
Ainda assim, não tem dúvidas, o turismo sustentável será uma “bandeira” do site. “Queremos explicar que, apesar de todos querermos voltar a viajar, deve ser pensado e reflectido como queremos viajar amanhã. E como fazê-lo de um modo sustentável. Essa vai ser uma grande guerra para nós.”
Mas, reconhece, entre as necessidades a curto prazo e a ponderação a longo prazo inerente a pensar um turismo mais responsável e sustentável vai um grande jogo de cintura. Se por um lado é notória a busca de um turismo mais em ligação com a natureza em simultâneo com espaços não massificados (até porque a segurança em pandemia a isso obriga), por outro, empresas e países, assim como os potenciais turistas, fazem contas à vida.
“As pessoas no que pensam normalmente é no comportamento do turista mas há que pensar também nas medidas implementadas pelos operadores”, avalia Buscardini. “Os governos pela Europa fora começam a apelar aos regressos das ligações aéreas, de movimentos massivos”, algo “esquizofrénico”, tendo em conta “o que está a acontecer”. Mas é “compreensível” esta reacção, diz, defendendo porém haver aqui uma oportunidade em tempo de stand-by, “um tempo para pensar”. “Temos de aproveitar para pensar mesmo o turismo de amanhã e o que se vai implementar”, para tomar “medidas concretas". Por vezes “é mais fácil proceder assim quando se cai e recomeçar com bases mais sólidas”.
Com base na Europa, o epicentro geográfico do site, Buscardini considera que são importantes, até para o comportamento do turista, “as mensagens passadas pelos governos, de se ter um turismo de proximidade, um turismo mais pensado”. O ponto importante aqui, “sobretudo na Europa”, é “prosseguir o caminho que já tinha sido começado” em matéria de sustentabilidade”. “A sustentabilidade não é um investimento a curto prazo, nem sai barato a curto prazo. Está tudo interessado em ressuscitar o turismo e o movimento. Mas receio muito que ao seguirmos por esse caminho haja um retrocesso brutal em todas as políticas nas quais estávamos na vanguarda mundial”, sublinha. “O facto de estarmos em Bruxelas ajuda muito, iremos trabalhar muito com o Parlamento Europeu.”
Para acompanhar este “pilar” do site, e a relação entre as necessidades da sustentabilidade e o turismo real aqui e agora, Buscardini destaca que terão vários especialistas a escrever sobre o tema. O Travel Tomorrow quer também fazer o acompanhamento da “realidade da indústria”, “tentar compreender como é que os operadores viveram a pandemia e como estão a sair dela”. Para os viajantes, fica a promessa de “um lado mais prático, de explicar ao vivo coisas que parecem óbvias, mas que as pessoas precisam de rever, como se faz um check-in, quais as medidas adoptadas em cada país, etc.”. Porque é sempre preciso “fazer as pessoas sonharem”, mas indo “além da caricatura, procurando o porquê das coisas” e agora, especialmente, recuperando a confiança através do conhecimento e do esclarecimento de dúvidas, “para as pessoas quererem viajar de novo”.
E, para isso, nada como ir para o terreno e “contar as coisas mais práticas”. “Mais do que nunca quem trabalha nisto tem de fazer jornalismo de investigação, mostrar como é que as coisas funcionam neste momento”, afirma, rematando: “Afinal, estamos todos preocupados e a confiança é a base de tudo.”
À confiança, Buscardini adianta logo que, além da garantia de “Portugal estar sempre muito presente” no novo site – que tem “uma equipa ecléctica, composta por 17 nacionalidades” –, um dos primeiros destinos em destaque, e cuja reportagem marcará também uma nova temporada da série Embarquement na TV5Monde, será Braga, a cidade dos sinos.