Curadores do Museu Guggenheim denunciam “ambiente de trabalho que permite o racismo”
Dos 25 curadores da instituição nova-iorquina, 23 são brancos. Director-geral diz-se disposto a encetar um diálogo para que a fundação seja “mais diversa e acolhedora para todos”. Directora artística, criticada pela curadora da grande exposição dedicada a Basquiat, inicia um período sabático de três meses a partir do dia 1 de Julho.
Os curadores do Museu Guggenheim, em Nova Iorque, enviaram esta segunda-feira uma carta ao director-geral, à directora de operações, à representante do Conselho Geral e à directora artística da instituição em que assinalam que a fundação precisa de levar a cabo “reformas urgentes” para fazer frente a um “ambiente de trabalho desigual que permite o racismo, a supremacia branca e outras práticas discriminatórias”.
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Os curadores do Museu Guggenheim, em Nova Iorque, enviaram esta segunda-feira uma carta ao director-geral, à directora de operações, à representante do Conselho Geral e à directora artística da instituição em que assinalam que a fundação precisa de levar a cabo “reformas urgentes” para fazer frente a um “ambiente de trabalho desigual que permite o racismo, a supremacia branca e outras práticas discriminatórias”.
Num comunicado que, por medo de perseguição ou represálias, diz o New York Times, não foi assinado, o departamento manifesta uma “preocupação colectiva” relativamente ao estado do museu, salientando que este deve “pôr um fim à cultura de favoritismo e silenciamento” sob a qual, dizem os autores, o Guggenheim conduz as suas operações.
Os curadores apontam para a necessidade de os representantes do museu reverem a “história predominantemente branca e masculina das [suas] exposições” e sublinham que a direcção deve encomendar uma investigação acerca da discriminação que a artista negra Chaédria LaBouvier, que o Guggenheim convidou para fazer a curadoria da exposição Basquiat’s ‘Defacement’: The Untold Story, terá sofrido.
Na carta, os autores anónimos argumentam que LaBouvier não foi convidada pela fundação a fazer parte do painel num debate sobre a exposição, que se manteve no museu entre os dias 21 de Junho e 6 de Novembro do ano passado. A curadora, ainda assim, marcou presença no evento e, escreve o New York Times, acusou a instituição de desvalorizar o seu papel na criação e na construção de Basquiat’s ‘Defacement’: The Untold Story. À conversa com o jornal norte-americano, LaBouvier chegou a afirmar que foi “excluída” de importantes decisões sobre a exposição.
O comunicado surge um dia depois de Troy Conrad Therrien, o curador de arquitectura e iniciativas digitais do museu, ter escrito a sua própria carta à direcção, pondo o seu cargo à disposição e admitindo que havia sido cúmplice de uma “cultura que sistematicamente privou os direitos de muitos por demasiado tempo”. “Está na hora de os que têm lugares de liderança e beneficiaram deste sistema deficiente criarem espaço para aqueles que podem verdadeiramente representar uma igualdade que já não é apenas necessária mas sim urgente”, clarificou.
No último sábado, antigos e actuais membros dos quadros do Guggenheim, do Metropolitan Museum of Art, da Metropolitan Opera, do Museum of Modern Art (MoMA) e de outras instituições culturais norte-americanas assinaram a carta aberta “#ForTheCulture”, condenando a “exploração constante” e o “tratamento injusto” de trabalhadores negros nestas casas. Entre outras reivindicações, os signatários sustentam que estas fundações devem criar um departamento de “Diversidade, Igualdade e Inclusão”, “trabalhar com empresas de pesquisa que tenham provas dadas de que conseguem encontrar e recrutar negros, indígenas e pessoas de cor” para preencher vagas nos quadros destes equipamentos e proceder a uma “revisão imediata” das rescisões de contrato, “tanto voluntárias como involuntárias”, que visaram trabalhadores negros sob as actuais direcções.
Richard Armstrong, director do Guggenheim, confirmou que recebeu e leu a carta dos curadores, esclarecendo que está disposto a dialogar com o departamento. “Esta equipa é essencial para o museu e o esforço que estão a fazer para incentivar uma mudança é uma oportunidade para nos tornarmos uma organização mais diversa, justa e acolhedora para todos”, disse. Já esta segunda-feira, Armstrong esteve reunido com 22 curadores via Zoom. A directora artística e curadora-chefe da instituição, Nancy Spector, entrará por sua vez num período sabático de três meses a partir do dia 1 de Julho.
A 2 de Junho, por ocasião da Blackout Tuesday – um protesto silencioso contra a brutalidade policial e o racismo nos Estados Unidos –, Chaédria LaBouvier criticou o Museu Guggenheim por publicar um quadrado negro nas suas redes sociais, sugerindo solidariedade para com a iniciativa. “Eu sou a primeira curadora negra na vossa história com mais de 80 anos e vocês recusaram-se a reconhecer isso, ao mesmo tempo que deixaram que a Nancy Spector fosse a anfitriã de um painel sobre o meu trabalho sem me convidarem”, escreveu no Twitter. Dos 276 trabalhadores a tempo inteiro no Museu Guggenheim, observa o New York Times, 26 são negros, 24 são latinos e 20 são asiáticos. Dos 25 curadores, 23 são brancos.