O ioga reinventou-se com a pandemia e passou a ter lugar também no digital
O ioga tradicional já “sofreu uma série de metamorfoses” ao longo do tempo e, devido à pandemia, a prática teve de se adaptar uma vez mais. Hoje, no Dia Internacional do Ioga, percebe-se que a mudança para o digital veio para ficar.
De um apelo à paz e fraternidade mundial nasceu o Dia Internacional do Ioga, celebrado no maior dia do ano: o solstício de Verão. A prática saudada conta com cinco mil anos, foi classificada pela Unesco como Património Cultural e Imaterial da Humanidade e surgiu na Índia. Hoje, a tradição é praticada em todo o mundo e já deu origem a diversas outras técnicas. Do ensino aos mais novos ao riso induzido, em tempos de distanciamento social e sem condições para continuar as aulas presenciais, o ioga moldou-se ao virtual.
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De um apelo à paz e fraternidade mundial nasceu o Dia Internacional do Ioga, celebrado no maior dia do ano: o solstício de Verão. A prática saudada conta com cinco mil anos, foi classificada pela Unesco como Património Cultural e Imaterial da Humanidade e surgiu na Índia. Hoje, a tradição é praticada em todo o mundo e já deu origem a diversas outras técnicas. Do ensino aos mais novos ao riso induzido, em tempos de distanciamento social e sem condições para continuar as aulas presenciais, o ioga moldou-se ao virtual.
Para Paulo Hayes, coordenador da pós-graduação em Instrução de Ioga da Universidade Lusófona, a adaptação ao ensino online “tem corrido bem”. Embora considere que se tenha criado uma certa polémica, pois o ioga é uma “tradição guru-discípulo”, o professor defende que “faz sentido o ensino online”. “O ioga sofreu uma série de metamorfoses ao longo dos séculos”, explicou Paulo Hayes, que vê as aulas e sessões online como “mais uma metamorfose e mais uma adaptação”.
A mulher e a Lua
O primeiro retiro online da série Moon & Women Gatherings, de Filipa Veiga, aconteceu este sábado e serviu para assinalar o solstício e anteceder o eclipse solar deste domingo. Foi a primeira vez que a professora de ioga e coach de ayurveda organizou um evento do género em formato digital. “Ainda é uma coisa nova aqui em Portugal”, conta ao PÚBLICO, por chamada. Filipa conhece outras instrutoras que já fizeram esta mudança na Índia e na Indonésia. A autora de Ioga-me: A arte de abrir o coração, editado pela Nascente, sente um certo cepticismo a este novo formato, e a maioria das inscrições são de clientes habituais das aulas online.
“Não estou a dizer que substitui, porque não substitui”, afirma a instrutora que, no entanto, vê “muitas vantagens” nesta adaptação virtual. Como para o ambiente, pois as pessoas não precisam de se deslocar, mas também em termos de logística: Filipa não está agora condicionada pelo número de pessoas que podiam aparecer na aula, ao mesmo tempo que os praticantes têm agora a possibilidade de ter o apoio do professor em qualquer sítio que queiram, não estando limitados ao estúdio.
A série tem como objectivo ensinar as mulheres a perceber e a respeitar os seus ciclos. “A verdade é que nós não somos ensinadas a ser mulheres”, diz a embaixadora do Wanderlust Festival em Portugal. Actualmente a viver na Alemanha, a instrutora aproveitou o confinamento para trabalhar num novo livro, relacionado com o tema dos retiros. “Tem explicações sobre cada fase da Lua, como é que nós reagimos, o que devemos fazer, o que devemos comer e que exercícios devemos praticar”, enumera.
A experiência do ioga imersivo
Também a Gaya Immusions, fundada por Sara Montes, professora de ioga com mais de 20 anos de experiência, já iniciou a adaptação online. O projecto, que surgiu em Bali, Indonésia, há cinco anos, lançou há duas semanas uma plataforma online que procura “trazer tudo o que são sabedorias mais ancestrais, da alimentação, da meditação e do ioga, para a era digital”, com especial foco nas empresas.
A plataforma disponibiliza aulas de live stream, com professores internacionais, a maioria residente em Portugal, com um mínimo de dez anos de experiência. Até agora, conta com mais de cem inscrições, maioritariamente de portugueses, mas, a partir do próximo mês, vai passar a dispor de pacotes desenhados especialmente para empresas. “Podem oferecer aos seus funcionários um estilo de vida mais saudável e minimizar todo o impacto que esta transformação está a ter”, explica Sara.
O recente conceito de ioga imersivo vai ser explorado pela Gaya Immersions quando abrir o estúdio, na Avenida da Liberdade, em Lisboa — uma inauguração adiada pela pandemia e prevista para o início do próximo ano, mas sem data marcada. “Vai ter videomapping, vai ser uma coisa completamente diferente”, adianta a fundadora sobre a experiência.
Ioga para os mais pequenos
Cláudia Borralho Vieira, iniciou-se no ioga para crianças há quatro anos. Designer a tempo inteiro, ensina a prática aos mais novos nas “pausas” e em horário pós-laboral. Durante o confinamento, ensinou pelo Facebook.
“Para as crianças, [a prática do ioga] é muito mais dinâmica, é muito mais rápida. É um ioga que acaba por ser diferente, mas aprendem as bases na mesma”, explica a instrutora, referindo que, ao migrar as sessões para o meio digital, “tudo isso desapareceu”, ficando apenas “a parte que eles podiam fazer sozinhos”.
As aulas ao vivo no Facebook duraram quase três meses, mas, há algumas semanas, Cláudia decidiu parar, pois não o fazer implicava um grande ajuste. “É como se eu já tivesse esgotado as minhas ideias de coisas para fazer com as crianças sem interacção”, diz sobre as aulas, que começaram a ter menos adesão devido aos horários mais ocupados com o ensino à distância.
“Não precisamos de um motivo para rir”
O ioga do riso é um dos conceitos mais novos da prática, contando apenas com 25 anos. “É uma dinâmica que combina exercícios de respiração profundos com exercícios de riso adaptados ao quotidiano”, explica Sabrina Tacconi, terapeuta do riso e formadora internacional. “Não precisamos de um motivo para rir”, justifica.
Também a técnica se adaptou ao formato online há cerca de dois meses. Dado o carácter “social”, “interactivo” e “presencial” da prática, a terapeuta “tinha receio” da mudança aprovada pelo fundador do ioga do riso, o médico indiano Madan Kataria, autor do livro Yoga do Riso. Agora, descreve a adaptação como um “sucesso”. As aulas são dadas através da plataforma Zoom, com os microfones ligados para os participantes poderem interagir e ouvir-se uns aos outros.
As formações para líderes do riso são também online, embora contem com uma parte presencial obrigatória, ainda por realizar. Uma das vantagens observada por Sabrina é o facto de já não ser necessária a deslocação até ao Porto ou a Lisboa para assistir às sessões ou formações. Só isso, conclui, permite chegar a mais pessoas. Um motivo com força suficiente para que a terapeuta deseje que o ensino virtual se mantenha no futuro.
Texto editado por Carla B. Ribeiro