1. Os franceses comemoraram esta semana, com relativa discrição, o octagésimo aniversário do apelo do 18 de Junho. Nessa data, no já longínquo Verão de 1940, um general do Exército francês, à revelia do poder instituído, lançou um repto aos seus compatriotas: não se rendam. Fê-lo a partir de Londres, com o conhecimento do primeiro-ministro britânico Winston Churchill, através da rádio BBC. O que teria sido o destino da França sem esse excepcional gesto de rebeldia praticado por um general inconformado com a capitulação nacional perante o invasor alemão? De Gaulle constitui uma das mais sugestivas manifestações do papel do indivíduo na História e da importância da acção livre no curso dos acontecimentos humanos. Hanna Arendt, depois de assistir ao julgamento de Adolf Eichmann em Israel, desenvolveu a ideia da banalidade do mal. O homem que aceita ser uma peça acrítica num mecanismo institucional monstruoso torna-se irremissivelmente um agente do mal. Não há inocência na aceitação pacifica da perfídia. Eichmann, na sua pavorosa “normalidade”, representa o ser humano burocratizado e reduzido a uma condição não moral. Foi por ter recusado qualquer compromisso acomodatício com uma ordem politica imoral que o General de Gaulle restituiu à França uma dignidade que o regime de Vichy, com excessiva facilidade, aceitou hipotecar.
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1. Os franceses comemoraram esta semana, com relativa discrição, o octagésimo aniversário do apelo do 18 de Junho. Nessa data, no já longínquo Verão de 1940, um general do Exército francês, à revelia do poder instituído, lançou um repto aos seus compatriotas: não se rendam. Fê-lo a partir de Londres, com o conhecimento do primeiro-ministro britânico Winston Churchill, através da rádio BBC. O que teria sido o destino da França sem esse excepcional gesto de rebeldia praticado por um general inconformado com a capitulação nacional perante o invasor alemão? De Gaulle constitui uma das mais sugestivas manifestações do papel do indivíduo na História e da importância da acção livre no curso dos acontecimentos humanos. Hanna Arendt, depois de assistir ao julgamento de Adolf Eichmann em Israel, desenvolveu a ideia da banalidade do mal. O homem que aceita ser uma peça acrítica num mecanismo institucional monstruoso torna-se irremissivelmente um agente do mal. Não há inocência na aceitação pacifica da perfídia. Eichmann, na sua pavorosa “normalidade”, representa o ser humano burocratizado e reduzido a uma condição não moral. Foi por ter recusado qualquer compromisso acomodatício com uma ordem politica imoral que o General de Gaulle restituiu à França uma dignidade que o regime de Vichy, com excessiva facilidade, aceitou hipotecar.