Ministério Público diz que Flávio Bolsonaro era “líder” de “organização criminosa”
Fabrício Queiroz “transferia parte da verba desviada da Assembleia do Rio de Janeiro para o então deputado estadual”, filho mais velho do Presidente do Brasil, acusam os procuradores na justificação para o pedido de detenção do ex-assessor de Flávio Bolsonaro, detido na quinta-feira.
O Ministério Público do Rio de Janeiro está convencido de que Fabrício Queiroz dirigia um esquema de desvio de dinheiro da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) em benefício de Flávio Bolsonaro, filho do Presidente do Brasil e na altura deputado estadual. O pagamento em dinheiro vivo de 261 mil reais (quase 44 mil euros) das propinas do colégio das filhas do agora senador, duas das parcelas provadamente pagas pelo assessor de Bolsonaro, ditaram o pedido para o mandado de detenção de Queiroz, na quinta-feira.
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O Ministério Público do Rio de Janeiro está convencido de que Fabrício Queiroz dirigia um esquema de desvio de dinheiro da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) em benefício de Flávio Bolsonaro, filho do Presidente do Brasil e na altura deputado estadual. O pagamento em dinheiro vivo de 261 mil reais (quase 44 mil euros) das propinas do colégio das filhas do agora senador, duas das parcelas provadamente pagas pelo assessor de Bolsonaro, ditaram o pedido para o mandado de detenção de Queiroz, na quinta-feira.
“A análise de suas actividades bancárias permitiu ao [Grupo de Actuação Especializada no Combate à Corrupção] GAECC /MPRJ comprovar que Fabrício Queiroz também transferia parte dos recursos ilícitos desviados da ALERJ directamente ao património familiar do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, mediante depósitos bancários e pagamentos de despesas pessoais do parlamentar e de sua família”, lê-se na justificação do pedido de detenção a que a TV Globo teve acesso.
De acordo com a investigação, 116 mensalidades do colégio foram pagas em numerário e em pelo menos duas delas (no valor de quase sete mil reais), como se comprovou através de imagens de câmaras de videovigilância, foi o próprio Queiroz quem as pagou.
Em parte incerta há mais de um ano, desde que o escândalo envolvendo Flávio Bolsonaro (filho mais velho do chefe de Estado e 01 na nomenclatura que este usa para identificar a sua prol) rebentou no final de 2018, Queiroz estava escondido na quinta do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia, no interior do estado de São Paulo, onde foi detido na manhã de quinta-feira.
Para o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Queiroz geria um esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro na ALERJ, termo usado para denominar a prática de coagir funcionários a entregarem parte dos seus salários aos ocupantes dos cargos públicos, que depois usam essas verbas para proveito próprio ou financiamento de outros projectos políticos. Só entre Janeiro de 2016 e Janeiro de 2017, o assessor do 01 e amigo de Jair Bolsonaro desde 1984 recebeu na sua conta 1,2 milhões de reais (202 mil euros).
Os procuradores dizem que o agora senador sabia de tudo, Queiroz admitiu que recebia parte do salário dos funcionários para remunerar outros assessores, informais, mas que o deputado não tinha conhecimento.
“As movimentações bancárias atípicas e o contexto temporal nas quais foram realizadas resultam em evidências contundentes da função exercida por Fabrício Queiroz como operador financeiro na divisão de tarefas da organização criminosa investigada, tanto na arrecadação dos valores desviados da ALERJ quanto na transferência de parte do produto dos crimes de peculato ao património familiar do líder do grupo, o então deputado estadual Flávio Nantes Bolsonaro”, refere o MPRJ.
O anjo anuncia o fim?
Curiosamente, a polícia baptizou a operação de detenção de Fabrício Queiroz como Operação Anjo, e Anjo é a alcunha que a família Bolsonaro dá ao advogado Wassef. “Eles todos devem saber porquê”, escreve Reinaldo Azevedo na sua coluna desta sexta-feira na Folha de S. Paulo, em que dá o Governo de Jair Bolsonaro como acabado.
Frederick Wassef é uma figura-chave em todo este processo. Segundo a Folha, o “ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, preso na quinta-feira, era monitorado e sofria restrições de movimentação impostas pelo advogado”, de acordo com “mensagens apreendidas pelo MPRJ”. Queiroz e os seus familiares desligavam os telefones sempre que se aproximavam da quinta em Atibaia para o caso de estarem a ser vigiados pela polícia.
“Quero deixar claro que sou advogado do Presidente, sim, como sou advogado do Flávio Bolsonaro, seu filho, também. E actuei em todos os casos no passado, inclusive no caso Maria do Rosário”, disse Wassef à Folha, em nota enviada recentemente à redacção. Maria do Rosário Nunes é a deputada federal que processou Jair Bolsonaro em 2016 por “quebra de decoro parlamentar”.
Durante mais de um ano, tanto o advogado como a família presidencial negaram ter qualquer contacto com Queiroz desde que este e a mulher, Márcia Aguiar (alvo de mandado de detenção, está actualmente em parte incerta), foram despedidos do gabinete de Flávio Bolsonaro, que terá sido alertado por alguém da Polícia Federal da investigação em curso antes da busca ao seu gabinete.
Wassef, a quem a BBC Brasil chama “ministro sem pasta” do Governo Bolsonaro, tem acesso livre ao Palácio do Planalto (presidência) e ao Palácio da Alvorada (residência oficial do chefe de Estado), recomendou ministros e políticas e é uma espécie de iminência parda do Presidente.
A Operação Anjo trouxe Wassef para a luz e leva Reinaldo Azevedo a escrever “o governo Bolsonaro acabou”, como se a perspectiva desse anjo caído arrastasse com ele Bolsonaro e a sua família. “A partir de agora, não há mais como o Presidente se ocupar do Governo. Enquanto estiver por aí, vai ter de pagar, às custas do futuro do Brasil, o preço para que não se formem os 342 votos na câmara [Congresso dos Deputados] que o empurrariam para julgamento, e condenação certa!” Para o mesmo impeachment que acabou com a presidência da sua antecessora, Dilma Rousseff.