Cartas ao director

Esther Mucznik

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Esther Mucznik

O excelente artigo de Esther Mucznik dado à estampa no PÚBLICO de 14 de Junho, com o título “A solidão de um homem bom”, tocou-me, particularmente, porque Esther lembrou, de forma pungente, como Aristides de Sousa Mendes foi esquecido, ao tempo, por todos. Não teve solidariedade de ninguém. Foi esquecido e castigado pelo regime que serviu. Foi esquecido pela Igreja, pela dita esquerda e pelos movimentos antifascistas. A política de Salazar, como muito bem referiu Esther ( e vou citá-la) “com o seu legalismo rigorista quanto ao reconhecimento da nacionalidade portuguesa; com a inflexibilidade quanto ao carácter transitório do acolhimento de refugiados, que se reflectiu na precariedade da sua situação em Portugal e o manobrismo equilibrista entre a Alemanha e os Aliados” com o objectivo perspicaz de assegurar a sobrevivência do regime, essa mesma política salazarista fez com que se olvidasse, criminosamente, Sousa Mendes. Ora esse manobrismo equilibrista de Portugal face à 2.ª Guerra Mundial poderia ter poupado Sousa Mendes à instauração de um vergonhoso processo disciplinar, sem hipótese de recurso. O hediondo desta situação é que Sousa Mendes morreu, amarguradamente, na miséria. Salazar foi um carrasco e comportou-se de forma indigna, tanto mais que a táctica do pretenso manobrismo equilibrista permitir-lhe-ia “perdoar” o grande gesto humanitário que Sousa Mendes revelou ao salvar milhares de pessoas perseguidas pelos nazis. Os restos mortais deste homem bom no Panteão Nacional não farão esquecer a ignomínia e a desconsideração a que foi votado pelo Estado Novo.

António Cândido Miguéis, Vila Real

E porque seria desta?

Será grande o atrevimento, mas não resisto a responder à pergunta capital que Vicente Jorge Silva colocou na sua crónica de domingo: não vai ser desta que ultrapassaremos a fatalidade entre “‘contas certas’ e realidade errada”. Na próxima pandemia, que, estou certo, não tardará muito, as condições mais propícias à propagação do malfadado vírus manter-se-ão na periferia de Lisboa e noutros locais que, se o quisermos, facilmente serão localizáveis. A medida certa para o futuro, para nos precavermos de futuras pandemias, deveria ser a correcção das condições em que essas populações vivem, no meio das maiores desigualdades sociais, em promiscuidade habitacional inaceitável, com condições de transportes deploráveis para quem forçosamente tem de ir trabalhar e não se pode dar ao luxo do teletrabalho. Mas não: é mais fácil confinar tudo e todos, aplicando métodos que só não são os dos chineses porque as pessoas estão completamente predispostas a aceitá-los, à vela de uns ventos soprados pelos meios de comunicação e pelas redes sociais. Passada a fase do susto, voltaremos pacatamente à banalidade das “contas certas”. Como faria Salazar, antes de Maria Luís Albuquerque e Mário Centeno.

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia