Jantar fora, levar o filho a brincar, ir às compras. Qual é o risco de contrair covid-19 nas actividades do dia-a-dia?
Ir ao restaurante ou andar de transportes públicos são actividades seguras? Cinco especialistas avaliam o perigo do que fazemos todos os dias e deixam o alerta: apesar de algumas actividades serem mais seguras do que outras, é importante nunca descurar as medidas de segurança como o distanciamento social e a etiqueta respiratória.
Um pouco por todo o mundo, a economia volta a reabrir. Ainda estamos longe de ter uma vacina e o vírus continua a circular e, por isso, é preciso ter cuidado no regresso à normalidade. Mas qual é o risco real das actividades do dia-a-dia? Que actividades são seguras?
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Um pouco por todo o mundo, a economia volta a reabrir. Ainda estamos longe de ter uma vacina e o vírus continua a circular e, por isso, é preciso ter cuidado no regresso à normalidade. Mas qual é o risco real das actividades do dia-a-dia? Que actividades são seguras?
A Reuters falou com cinco epidemiologistas e peritos em saúde pública que classificaram 11 actividades do dia-a-dia, como ir ao médico ou jantar fora, numa escala de um a cinco – um para as actividades de baixo risco e cinco para as de alto risco. Todos deixam um alerta: apesar de algumas actividades serem mais seguras do que outras, é importante nunca descurar as medidas de segurança como o distanciamento social ou a etiqueta respiratória.
“As actividades de maior risco são aquelas que são feitas dentro de casa, com pouca ventilação, muitas pessoas durante longos períodos de tempo”, caracterizou Ryan Malosh, investigador da Universidade de Michigan. “As actividades de menor risco são ao ar livre, com amplo espaço para a distância social, poucas pessoas fora do seu agregado familiar e por períodos de tempo mais curtos.”
Ir ao médico
Baixo risco (classificação média 2,1)
“As pessoas estão a adiar tanto as consultas de rotina como as urgentes. [Mas] ir ao médico neste momento é uma das actividades mais seguras que se podem fazer porque os protocolos de rastreio do pessoal, salas de espera e acesso às salas de espera são rigorosos em todo o lado”, classifica Jared Baeten, da Universidade de Washington, que a considera uma actividade com um nível de risco um.
Fazer um piquenique ao ar livre
Baixo risco (classificação média 2,3)
“As pessoas [devem] usar máscaras quando não estão a comer, trazer álcool-gel para as mãos e usá-lo antes de comer, manter sempre que possível uma distância de 1,80 metros entre si e não partilhar alimentos ou bebidas. Tudo o que envolva um contacto mais próximo ou partilha de alimentos, em especial qualquer tipo de buffet, aumenta o risco”, avalia Marybeth Sexton, da Universidade Emory, que considera que esta actividade representa um risco de nível um.
Levar o seu filho a brincar com os amigos
Risco baixo a moderado (classificação média 2,4)
Marybeth Sexton avalia esta actividade com um risco de nível dois: “Se envolver crianças mais velhas que compreendem a importância do afastamento durante a [pandemia de] covid-19, o número de crianças for pequeno e o tipo de actividade não envolver contacto físico directo, é provável que seja um dois. Se envolver crianças pequenas, o nível de risco pode aumentar para um quatro ou cinco.”
Ir às compras
Risco baixo a moderado (classificação média 2,5)
De acordo com Jared Baeten, é uma actividade de nível dois “se entrar e sair com um plano, e todas as pessoas estiverem de máscara”.
Voltar ao trabalho
Risco moderado (classificação média 2,6)
“Os locais de trabalho podem optar por horários em dias alternados para evitar grandes aglomerações nos espaços físicos”, começa por explicar Barun Mathema, da Universidade de Columbia, que considera que esta actividade tem um risco de nível três. “Devem ainda assegurar-se de que os empregados sabem identificar os seus sintomas e encorajar as pessoas a fazerem testes serológicos.”
Em Portugal, são aconselhadas as escalas de trabalho desfasadas, o reforço da limpeza de superfícies como maçanetas ou varões de escadas, e máscaras quando não se puder manter uma distância de segurança.
Visitar um familiar idoso
Risco moderado (classificação média 3,2)
Richard Jackson, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, diz que o risco é dois: “O risco é maior para a pessoa idosa, especialmente se a pessoa que vai visitar não tiver cumprido o distanciamento, ao contrário do idoso. Há benefícios [psicológicos] para jovens e idosos, se ambos estiverem bem. Use máscaras, lave as mãos e mantenha distância.”
Já Jared Beaton considera ser uma actividade de nível três: “Se não tiver estado em contacto com mais ninguém e não tiver sintomas, visitar familiares mais velhos pode ser muito benéfico. Se tiver contacto com um número restrito de pessoas, pode visitar um familiar mais velho, de preferência no exterior e com máscara.”
Cortar o cabelo
Risco moderado (classificação média 3,4)
“Se o cabeleireiro ou barbeiro não tiver sintomas e usar uma máscara, assim como a pessoa que vai cortar o cabelo, o risco é baixo… Mas se o profissional estiver a espirrar ou a tossir, afaste-se”, disse Richard Jackson, que considera uma actividade de nível dois.
Em Portugal, as regras para cabeleireiros e barbeiros incluem máscaras obrigatórias para todos, marcações, horários de trabalho diferenciados e distância de segurança.
Ir a um restaurante
Risco moderado (classificação média 3,4)
“Comer no exterior é menos arriscado do que comer no interior de um restaurante devido ao maior fluxo de ar. Os níveis de risco, quer para as esplanadas quer para os restaurantes, dependem de com quem se está (por exemplo, a família a quem se está exposto diariamente, versus contactos externos), do quão próximas estão as mesas, de quantas pessoas estão presentes no restaurante e se os empregados e cozinheiros estão com máscara”, afirma Sexton, que diz que esta actividade tem um nível de risco quatro.
Em Portugal, as regras para os restaurantes incluem a obrigatoriedade de se manter uma distância de dois metros entre todos os que circularem no interior do estabelecimento, excepto no caso em que as pessoas morem juntas, e os funcionários devem usar máscaras. Os pratos, copos e talheres devem ser colocados na mesa na presença do cliente que os vai utilizar e toda a loiça deve ser lavada na máquina, com detergente e temperatura de 80º/90º.
Ir a uma festa na casa de outras pessoas ou no interior de um restaurante
Risco moderado a alto (classificação média 3,8)
Para Jackson, “para adultos com distanciamento físico é provavelmente um dois”, mas é importante não “deixar entrar pessoas que pareçam doentes”. “Pode ser confrangedor mandar as pessoas embora à porta, e é bom deixar isso bem claro enquanto convidamos. Se alguém tiver sintomas, é um quatro.”
Deixar o seu filho num campo de férias
Risco alto (classificação média 3,9)
“Caminhadas, desporto, refeições em grupo, fogueiras, beliches, artesanato e canto são importantes para a experiência do campo de férias e são formas eficazes de propagação do vírus. É essencial que quem gere o campo leve muito a sério a prevenção e o controlo da doença”, afirma Jackson, que considera ser uma actividade de nível quatro.
Já Baeten acredita ser uma actividade de risco 3,5: “Os campos que seguem todas as regras — pequenos grupos e actividades no exterior — são um três. Os acampamentos com muitas crianças e sem rastreio são um quatro e só não são um cinco porque as crianças têm um risco muito baixo de ficarem doentes com este vírus. Mas os funcionários estão em risco.”
Em Portugal, a Direcção-Geral da Saúde emitiu um documento com recomendações para os campos de férias onde são desaconselhados os desportos de contacto e actividades em recintos fechados.
Andar de transportes públicos
Risco alto (classificação média: 4,1)
“Normalmente é uma coisa que as pessoas são obrigadas a fazer se forem trabalhadores essenciais e precisarem de ganhar a vida, especialmente em áreas urbanas. Eu usaria luvas, máscara e lavaria as mãos”, afirma Jackson, que acha que esta é uma actividade de nível três. Evitar carruagens muito cheias e abrir as janelas dos autocarros são outros dos seus conselhos.