PREC em 2020? Ganhem lá juizinho
As manifestações insufladas por ideologias radicais multiplicam-se em tom de superioridade moral injustificável. Confronta-se a autoridade, ameaça-se a serenidade, instala-se o conflito. Quem mais destruir, mais acha que tem poder.
O mundo despertava lentamente de uma ‘hibernação’ forçada pela pandemia em curso, a América revoltou-se com um homicídio filmado em directo por um polícia sem escrúpulos nem ética profissional, e o rastilho de pólvora que há tanto tempo acumulava pressão rebentou nas ruas encapotada de manifestações anti-raciais, que desenterraram feridas que o tempo cicatrizou há muito, mas das quais o fanatismo ideológico despudorado tanto gosta de se alimentar.
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O mundo despertava lentamente de uma ‘hibernação’ forçada pela pandemia em curso, a América revoltou-se com um homicídio filmado em directo por um polícia sem escrúpulos nem ética profissional, e o rastilho de pólvora que há tanto tempo acumulava pressão rebentou nas ruas encapotada de manifestações anti-raciais, que desenterraram feridas que o tempo cicatrizou há muito, mas das quais o fanatismo ideológico despudorado tanto gosta de se alimentar.
E de repente, a pretexto de um homicídio hediondo e absolutamente condenável que rotularam de acto racista, pilham-se lojas de marca, açambarcam-se caixas e caixas de ténis de marca, televisores, telemóveis, equipamentos de som e tudo o que o consumismo mais aprecia ostentar.
Racismo? Anti-racismo? Não! Crime, roubo, gatunagem, vandalismo e extermínio da paz social.
O poder está nas ruas dos EUA. O vandalismo e a destruição fortuita ganha terreno dias e noites a fio. Confronta-se a polícia com barricadas e ataques com tudo o que possa vingar uma morte injustificável.
E no meio da indignação e revolta, misturam-se reivindicações sem qualquer ligação ao acto. De um homicídio passamos ao racismo instituído, do racismo ao antifascismo.
Na amálgama desenterram-se as lutas esclavagistas, e o mundo assiste impávido à destruição de estátuas e monumentos que marcam períodos em que a Humanidade se desconfinava das suas geografias conhecidas, ganhava o horizonte e a Terra fazia-se redonda.
Também em Portugal este outro ‘bicho’ que se somou ao coronavírus ganhou expressão. Vimos multidões descerem avenidas empunhando cartazes com expressões absurdas e criminosas. O inimigo comum? A polícia! Imagine-se! Lemos incrédulos que “polícia bom é polícia morto”, e o vozerio costumeiro dos fanáticos gargalhou como hienas vorazes.
Marcharemos todos e sempre contra o racismo ou qualquer outra forma de descriminação, sempre! E a polícia e todas as forças de segurança marcharão também, como sempre o têm feito, lado a lado connosco.
No meio da multidão de indignados que indignou os moderados do país, em Lisboa a policia viu-se confrontada por uma turba que impedia o despejo de um prédio, propriedade privada, ocupada por pessoas sem teto, que merecem dignidade e soluções sociais. E no delírio do antifascismo e rebelião contra os “maus”, surge um Bloco de Esquerda indignado e condoído. Mas a sua indignação e revolta é tão só, ainda que disfarçada, contra si próprio, já que os direitos sociais em Lisboa e a responsabilidade sobre os sem abrigo e os refugiados cabe a quem? Ao Bloco de Esquerda, pois claro. Ou seja, rebelam-se, indignam-se contra eles próprios, utilizando a arma menos digna de se usar em política: a carência social. Soluções? Zero. Pois, soluções, zero.
E ao mesmo tempo que zeram soluções e políticas públicas de inclusão, dá-se força à invasão da propriedade privada, em atentado aos direitos dos “outros”, dos “maus”, das instituições. Um conselho ao Bloco em Lisboa, peguem nas pastas, estudem as pastas, conheçam as pastas e apresentem soluções. Lisboa, os sem abrigo, os refugiados e as minorias étnicas, precisam de e merecem soluções à altura, não de guerras entrincheiradas de bons e maus, em que o mundo se transforme numa anarquia sem regras nem deveres, só direitos. Mostrem o que valem na paz e não na guerra.
Mostrem o que valem no duro, com a “mão na massa”, construam um amanhã democrático melhor. Governar não é pegar no trabalho bem feito dos outros e dizer que é nosso ao mesmo tempo que se pega no trabalho não feito por nós e se atribui culpas aos mesmos outros. Isso não é bonito! Toda a gente vê, toda a gente sabe, toda a gente avalia. Mas a verdade é que isso não é mesmo nada bonito.
Governar é construir. Governar é encontrar soluções. Se não estivesse em junho de 2020, diria que estamos a viver um novo PREC. Mas já se passaram mais de 45 anos, não quero acreditar que alguma vez isto possa ser de novo possível.
As manifestações insufladas por ideologias radicais multiplicam-se em tom de superioridade moral injustificável. Confronta-se a autoridade, ameaça-se a serenidade, instala-se o conflito. Quem mais destruir, mais acha que tem poder. Vandalizam-se figuras maiores da nossa história a exigir a descolonização que há mais de 40 anos se concretizou e que a ignorância e maldade atribuem epítetos de esclavagista a homens que superiormente defenderam os povos indígenas, organizam-se petições para se destruírem monumentos que celebram a epopeia portuguesa. Como em 1975, parece que estamos num Processo Revolucionário em Curso (PREC) cujos contornos ninguém parece antever, mas percebe-se claramente que visa, como todos os processos ideológicos, o corte com a nossa História, a destruição das instituições e da nossa identidade, e a apologia da insegurança e dos caos generalizado.
Não podemos aceitar isto. Temos que impedir que estas forças trevosas ganhem expressão que o passado tão bem enterrou. Abrem-se fendas de consequências imprevisíveis que devemos combater. Há quem não tenha memória e pense que vinga a história que desconhece porque outros os manipularam, mas esses não passarão. Já conhecemos bem o modus operandi e os resultados. Temos memória, e sabemos que não vamos por aí.
Façamos da paz o nosso caminho e da igualdade de direitos a nossa bandeira.