Eurodeputado Francisco Guerreiro sai do PAN por “divergências políticas” com direcção
Pessoas-Animais-Natureza fica sem representação no Parlamento Europeu. Em reacção, André Silva garantiu que o PAN “não tem nenhum patrão político”.
O eurodeputado Francisco Guerreiro anunciou esta terça-feira que sai do PAN por “divergências políticas” com a direcção do partido pelo qual foi cabeça de lista nas europeias do ano passado, mas vai manter-se no Parlamento Europeu. Sandra Marques, deputada na Assembleia Municipal de Cascais e mulher de Francisco Guerreiro, também se desfiliou do PAN. André Silva, porta-voz do partido, já reagiu à saída e considerou que o eurodeputado deveria ter cedido o seu lugar.
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O eurodeputado Francisco Guerreiro anunciou esta terça-feira que sai do PAN por “divergências políticas” com a direcção do partido pelo qual foi cabeça de lista nas europeias do ano passado, mas vai manter-se no Parlamento Europeu. Sandra Marques, deputada na Assembleia Municipal de Cascais e mulher de Francisco Guerreiro, também se desfiliou do PAN. André Silva, porta-voz do partido, já reagiu à saída e considerou que o eurodeputado deveria ter cedido o seu lugar.
“O eurodeputado Francisco Guerreiro sai do partido Pessoas-Animais-Natureza por divergências políticas com a direcção e garante que continuará a defender no Parlamento Europeu os ideais pelos quais foi eleito e se rege”, refere um comunicado enviado à Lusa.
O comunicado acrescenta que “as divergências que justificam o seu afastamento do PAN assentam na falta de identificação política com várias posições relevantes tomadas pelo partido no Parlamento nacional, bem como com a linha política global que tem caracterizado a actuação do PAN nos últimos meses”, considerando que esta tem “limitado a independência política do eurodeputado em Bruxelas”.
“Tem existido um constante afastamento de alguns princípios fundadores do partido que fazem com que, em consciência, não me reveja em várias das decisões tomadas”, afirma Francisco Guerreiro, no comunicado. E aponta, por exemplo, “a crescente e vincada colagem do PAN à esquerda”, considerando que tal “quebra uma das bases filosóficas do partido, que não se revê nas dicotomias políticas tradicionais”.
O eurodeputado refere ainda uma “recente apologia ao incentivo para a entrada de jovens no serviço militar (contra a base pacifista do partido), a passividade perante as acções geopolíticas da China na Europa ou o aumento da agressividade discursiva” do PAN como razões para a sua saída.
Francisco Guerreiro considera que existiu um “bloqueio da divulgação do trabalho europeu” que desenvolveu, em áreas como o Rendimento Básico Incondicional (RBI). “Enquanto eurodeputado independente, continuarei a defender as linhas programáticas com as quais fui eleito, como é o caso do estudo da implementação de um projecto-piloto de RBI na Europa tão importante, particularmente, no actual contexto de pandemia”, assegura o eurodeputado.
Francisco Guerreiro indica que continuará a integrar, na condição de deputado independente, Os Verdes Europeus/Aliança Livre Europeia. “Continuarei a respeitar o mandato que me foi concedido, tal como os ideais do programa das eleições europeias de 2019 votado por mais de 168 mil cidadãos”, garante.
O PÚBLICO tentou contactar Francisco Guerreiro, mas o eurodeputado nada quis acrescentar à nota enviada à Lusa.
O porta-voz do PAN, André Silva, reagiu a este afastamento em conferência de imprensa, rejeitando as várias críticas de Francisco Guerreiro e fazendo referência a “tentativas de diálogo infrutíferas”. “Esta saída vem defraudar compromissos assumidos perante os eleitores não por vontade do próprio partido, mas pela conduta do eurodeputado”, disse André Silva.
Depois de negar limitações à independência política do parlamentar, o porta-voz assumiu que “o que está em causa é uma postura de ausência de articulação com os órgãos internos no partido”, uma “individualização” da actividade por parte de Francisco Guerreiro. “Não temos nenhum patrão político”, acrescentou.
“É um episódio que infelizmente tem precedentes. O PAN não foi imune. A sua eleição resulta da proposta do partido, por isso, seria correcto se tivesse cedido o lugar”, disse ainda André Silva.
O historial do primeiro eurodeputado do PAN
Francisco Guerreiro tornou-se militante do partido Pessoas-Animais-Natureza em 2012, entrando na comissão política nacional do partido em 2013 e na comissão política permanente no ano seguinte.
No Parlamento Europeu, destaca o comunicado, conseguiu a primeira vice-presidência da Comissão de Agricultura e do Desenvolvimento Rural, o lugar como efectivo nas comissões das Pescas e dos Orçamentos, a vice-presidência do Intergrupo pela Conservação e Protecção do Bem-estar Animal, bem como a integração na aliança da FAO contra a fome e a má nutrição no Parlamento Europeu.
“Tem-se destacado pela participação activa quer no plenário em Bruxelas e Estrasburgo, quer enquanto relator e relator-sombra de importantes relatórios, como é o caso do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP)”, destaca a nota enviada à Lusa.
Francisco Guerreiro, de 35 anos, foi o cabeça de lista do PAN e único eleito desta força política nas europeias de Maio de 2019, as primeiras em que o partido obteve representação em Bruxelas (com cerca de 5% dos votos).
Nasceu em Santiago do Cacém, a 12 de Setembro de 1984, licenciou-se em Comunicação Social pela Escola Superior de Educação de Coimbra e trabalhou como analista de estudos de mercado, e “project leader” para a Comissão Europeia, até 2014.
Nas últimas legislativas, em Outubro do ano passado, o PAN passou de um deputado único – o porta-voz André Silva Ü para um grupo parlamentar de quatro, correspondentes a 3,3% dos votos.
Notícia actualizada às 12h15 com a posição do porta-voz do PAN.