Ministro da Educação com um pé fora do Governo brasileiro

Futuro de Abraham Weintraub, um dos expoentes do “bolsonarismo” militante, deve indicar disposição de Bolsonaro em apaziguar tensão com restantes poderes.

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Permanência de Abraham Weintraub no Governo está em risco ADRIANO MACHADO

O jogo das cadeiras em que o Governo brasileiro se transformou, com demissões a um ritmo inédito, está próximo de ter um novo capítulo. Desta vez, o alvo é o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que deverá ser sacrificado pelo Presidente Jair Bolsonaro na tentativa de baixar a tensão com a Câmara dos Deputados e com o Supremo Tribunal Federal (STF).

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O jogo das cadeiras em que o Governo brasileiro se transformou, com demissões a um ritmo inédito, está próximo de ter um novo capítulo. Desta vez, o alvo é o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que deverá ser sacrificado pelo Presidente Jair Bolsonaro na tentativa de baixar a tensão com a Câmara dos Deputados e com o Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao contrário de casos recentes, como os de Sergio Moro ou dos dois ministros da Saúde demitidos em plena pandemia, a possível demissão de Weintraub não acontece por o ministro ter saído das boas graças de Bolsonaro. Na verdade, a imprensa brasileira diz que no seio do Governo há fortes pressões tanto para o ministro sair como para continuar, mostrando como o assunto é divisivo mesmo no Palácio do Planalto.

Weintraub tornou-se num dos expoentes da chamada “ala ideológica” do Governo que diz manter-se fiel ao ultraconservadorismo que ajudou a eleger Bolsonaro, mesmo sob pena de defender métodos radicais nessa tarefa. Por isso, o ministro tornou-se um crítico feroz das restantes instituições democráticas, como a Câmara dos Deputados e o STF, que afirma funcionarem apenas para sabotar o trabalho do Governo.

Na reunião ministerial de Abril, cuja gravação foi revelada no contexto das investigações sobre a alegada interferência de Bolsonaro junto da Polícia Federal (PF), Weintraub chamou os juízes do STF de “vagabundos” e disse que por ele estariam todos presos. No domingo, Weintraub deixou de lado o fato e gravata de ministro e participou numa manifestação em Brasília, um dia depois de um grupo de apoio ao Governo ter disparado fogos-de-artifício na direcção do edifício do STF.

Durante a manifestação, Weintraub – que não usou máscara e, por isso, foi multado em dois mil reais (350 euros) – voltou a falar de “vagabundos”, reforçando o que já tinha dito na reunião de Abril.

A presença do ministro no acto de protesto não caiu bem no Governo e até Bolsonaro veio dizer que Weintraub “não foi muito prudente”. “Ele não estava representando o governo, estava representando a si próprio”, sublinhou o Presidente, que recebeu o ministro da Educação na segunda-feira.

Braço-de-ferro

No STF há a convicção de que a saída de Weintraub é certa, escreve a jornalista Mônica Bergamo na sua coluna na Folha de São Paulo, como prova de boa vontade de que Bolsonaro está empenhado na pacificação com os restantes poderes. Para além disso, o ministro está envolvido em duas investigações: uma sobre a divulgação de notícias falsas, movida pelo próprio STF, e outra sobre publicações de teor racista contra a China. Esta terça-feira, o STF rejeitou um pedido de habeas corpus que visava excluir Weintraub da investigação sobre fake news.

No entanto, o processo de demissão de um ministro que ganhou um estatuto importante para a militância “bolsonarista” mais aguerrida deve ser gerido com pinças. A pressão para que Weintraub saia vem sobretudo do sector dos militares na reserva que estão no Governo, mas também dos novos aliados de Bolsonaro no Congresso, cuja importância é fundamental para evitar o andamento de processos de impeachment.

Por outro lado, a “ala ideológica”, onde se incluem os influentes filhos do Presidente, parece não querer abrir mão de Weintraub que é visto como alguém com “um simbolismo muito grande” para a militância, de acordo com um assessor citado pelo site G1. A deputada Carla Zambelli, próxima do ministro, garantia na segunda-feira que Weintraub se iria manter no Governo.

O desfecho do processo será indicativo da correlação de forças actual no Governo de Bolsonaro, especialmente num ambiente de grande tensão institucional. Na segunda-feira, a PF deteve Sara Winter, pseudónimo de Sara Giromini, líder de um grupo de extrema-direita que estava acampado há várias semanas em Brasília, entre os quais havia elementos armados, no âmbito de uma investigação a actos anti-democráticos.

Na terça-feira, ao abrigo do mesmo inquérito, foram realizadas mais de 20 buscas a moradas de activistas “bolsonaristas”.