O combate à covid ainda pode correr mal
Para correr mal nem é preciso a tão temida “segunda vaga”, basta que os números da região de Lisboa se mantenham mais umas semanas como estão.
Tendo ultrapassado o pico da epidemia com números controlados e sem sobrecarga dos hospitais, Portugal conquistou justamente a imagem de um país que conseguiu ultrapassar esta grave crise com sucesso. Uma das populações mais envelhecidas do Europa e o baixo número de camas de cuidados intensivos fazia recear o pior, mas foi possível contornar as probabilidades. Só que, como reforçou no dia 10 de Junho Marcelo Rebelo de Sousa, “a pandemia não terminou” e ainda há espaço para as coisas correrem mal.
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Tendo ultrapassado o pico da epidemia com números controlados e sem sobrecarga dos hospitais, Portugal conquistou justamente a imagem de um país que conseguiu ultrapassar esta grave crise com sucesso. Uma das populações mais envelhecidas do Europa e o baixo número de camas de cuidados intensivos fazia recear o pior, mas foi possível contornar as probabilidades. Só que, como reforçou no dia 10 de Junho Marcelo Rebelo de Sousa, “a pandemia não terminou” e ainda há espaço para as coisas correrem mal.
E para correr mal nem é preciso a tão temida “segunda vaga”, basta que os números da região de Lisboa se mantenham mais umas semanas como estão, para estarmos à beira de um desastre.
Não é que em termos sanitários os casos de Lisboa e Vale do Tejo sejam, em si, um gigantesco problema. Parte deles podem até ser justificados pelo sucesso que o país teve ao multiplicar os testes e já se sabia que o desconfinamento traria um risco acrescido do aumento do contágio. Mas o espinho que Lisboa tem sido, nas últimas semanas, tem o grande risco de poder contaminar a boa imagem de Portugal. Um país que tem no regresso do turismo uma das melhores formas de mitigar a colossal crise económica que vivemos tem de agir com urgência, com a consciência de que também neste caso não basta ser, também tem de parecer.
Alguns jornais internacionais já começaram a fazer uma comparação negativa entre os nossos números actuais e os de outros países como Espanha e Itália, e outros se seguirão. A balança está viciada, quando se sabe, por exemplo, que entre a primeira morte em Espanha por covid (13 de Fevereiro) e em Portugal (16 de Março) há um mês de distância. É injusto, mas quanto mais normalidade houver, pior vai parecer a nossa situação, mesmo que, durante algum tempo, ela possa ser justificada por a pandemia nos ter atingido mais tarde.
Por isso, Governo e autoridades de Saúde têm de encarar a situação na região da capital com mais firmeza e especialmente com mais clareza, quando entramos numa nova fase de levantamento de restrições. Se a região merece “o foco” do Governo, como diz a ministra, explique-se melhor como estão a ser combatidos os focos de contágio, o secretário de Estado encarregado da região faça prova de vida e a nova comissão nomeada para monitorizar a situação revele o que pensa fazer.
Os lisboetas, como mostrou um tristíssimo S. António, estão empenhados na luta. O Governo tem de mostrar o mesmo e cruzar os dedos para que lá fora todos percebam. Seria, por exemplo, terrível perder a oportunidade de brilhar como destino, com a recepção da fase final da Champions, por causa dos maus números de Lisboa.