França terá o seu memorial da escravatura em 2021

Associação pede para ser escolhido artista afrodescendente e também quer um museu.

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O novo monumento da capital francesa ficará na parcela que acompanha o Museu Jeu de Paume, no? Jardim das Tulherias Edward Berthelot / Getty Images

O Governo francês abriu concurso para a concepção de um memorial de homenagem às vítimas da escravatura que será instalado no Jardim das Tulherias, um dos principais destinos turísticos de Paris e lugar de memória da escravatura.

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O Governo francês abriu concurso para a concepção de um memorial de homenagem às vítimas da escravatura que será instalado no Jardim das Tulherias, um dos principais destinos turísticos de Paris e lugar de memória da escravatura.

O concurso é aberto a todos os artistas e colectivos que trabalhem no campo alargado das artes visuais. Numa segunda fase, serão escolhidos entre três a cinco finalistas e o vencedor anunciado no primeiro semestre de 2021. No calendário apresentado pelos ministérios da Cultura e do Ultramar, a obra estará concluída no Outono de 2021.

“O projecto exprime a vontade de honrar as vítimas da escravatura e de reconhecer o seu contributo inestimável para a nação. O memorial tem a vocação de ser um lugar comemorativo e de transmissão com uma dimensão pedagógica forte, em ligação estreita com as partes interessadas, como associações e fundações”, lê-se no anúncio.

Para o presidente do Conselho Representativo das Associações Negras (CRAN), Louis-Georges Tin, a decisão para a construção do memorial é bem-vinda, mas o artista escolhido deve ser afrodescendente, segundo declarações esta semana ao Art Newspaper

O anúncio da abertura do concurso foi publicado a 5 de Junho pelo Ministério da Cultura francês e é a concretização de uma ideia lançada em 2016 pelo antigo Presidente François Hollande — a criação de uma fundação capaz de desenvolver um memorial e um museu sobre o tema da escravatura na capital francesa.

No ano passado, o actual Presidente, Emmanuel Macron, deu outro empurrão à construção do memorial, criando, finalmente, a prometida fundação, actualmente dirigida pelo antigo primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault. Nos últimos dias, à imagem do movimento anti-racista que sucedeu à morte de George Floyd, Ayrault tem pedido que se rebaptizem espaços ligados à república francesa, como a Assembleia Nacional, que ostentam nomes relacionados com a história da escravatura, abolida em França em 1848, nomeadamente o de Jean-Baptiste Colbert (1619-1683), o conhecido ministro de Luís XIV ligado ao mercantilismo, igualmente autor do Código Negro, que definiu as condições da escravatura no império colonial francês.

“A ideia de Hollande acabou por não dar em nada. Um memorial é uma boa ideia mas um museu seria melhor. Já é altura de termos um museu em Paris; precisamos de ter alguma compensação financeira”, disse ainda Louis-Georges Tin ao Art Newspaper, acrescentando que pretende entregar à câmara municipal de Paris, depois da segunda volta das eleições previstas para 28 de Junho, uma proposta para arrancar com o projecto do museu.

Memorial em Lisboa

Cabe ao Museu do Louvre a gestão do monumento, devendo o vencedor do concurso — que tem como prazo de entrega 1 de Setembro — ser escolhido por um comité que inclui personalidades ligadas às comemorações da abolição da escravatura, à arte contemporânea e ao património, bem como ao município de Paris. A propriedade do memorial será do Estado francês e a obra fará parte da colecção nacional de arte contemporânea (Fonds National D’Art Contemporain). No Jardim das Tulherias, ficará na parcela que acompanha o Museu Jeu de Paume​.

Em Portugal, o artista luso-angolano Kiluanji Kia Henda foi escolhido em Março para desenvolver o memorial de homenagem às vítimas da escravatura a instalar no Campo das Cebolas, junto ao Terreiro do Paço, em Lisboa. O processo resultou de um concurso por convites gerido pela Djass – Associação de Afrodescendentes no âmbito de uma proposta submetida ao orçamento participativo da Câmara Municipal de Lisboa de 2017/2018. Com um financiamento de 150 mil euros, o monumento deverá ser seguido pela construção, numa segunda fase, de um centro interpretativo na mesma praça, que já tem um edifício destinado.