Tal como na Terra, a atmosfera de Marte também brilha

A sonda Trace Gas Orbiter, que orbita Marte desde Outubro de 2016, detectou uma luz verde na atmosfera de Marte, semelhante àquela que é possível observar na Terra a partir do Espaço.

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Ilustração da sonda Trace Gas Orbiter, que orbita Marte desde Outubro de 2016 Agência Espacial Europeia

Cientistas identificaram uma luz verde na atmosfera de Marte, um brilho semelhante àquele que se pode ver sobre a Terra quando os astronautas observam a atmosfera do Espaço.

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Cientistas identificaram uma luz verde na atmosfera de Marte, um brilho semelhante àquele que se pode ver sobre a Terra quando os astronautas observam a atmosfera do Espaço.

Esta luz incandescente provém de uma reacção dos átomos de oxigénio à luz solar. Há muito que se previa que este fenómeno pudesse ocorrer noutros planetas, mas esta foi a primeira vez que a sonda Trace Gas Orbiter, que orbita Marte desde Outubro de 2016 numa missão conjunta da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Rússia, observou a ocorrência do fenómeno noutro planeta além da Terra.

A emissão de luz verde é o resultado de colisões entre moléculas atmosféricas e partículas portadoras de carga eléctrica provenientes do Sol. Na Terra, este tipo de interacção é bastante influenciada pelo seu forte campo magnético, que atrai essas partículas. Marte, por sua vez, não tem um campo magnético uniforme, embora tenha áreas altamente magnetizadas.

Se, por um lado, a Terra tem bastante oxigénio na atmosfera, em Marte a presença de oxigénio resulta, em grande parte, da decomposição do dióxido de carbono. A luz solar acaba por libertar um dos átomos de oxigénio presentes no dióxido de carbono e é a partir da transição desse átomo que se forma o brilho verde que cobre o planeta vermelho.

A descoberta foi revelada num artigo publicado esta segunda-feira na revista Nature Astronomy. Manish Patel, professor da Universidade Aberta do Reino Unido que faz parte da equipa que assina o artigo, afirma à BBC que este “é um bom resultado”. “Nunca planearias uma missão para procurar este tipo de coisa. Hoje em dia, temos de ser muito claros sobre a ciência que vamos fazer antes de chegarmos a Marte. Mas tendo lá chegado, pensamos: ‘Bom, vamos dar uma olhada’. E resultou”, explica, clarificando que este fenómeno é diferente da aurora polar.

O fenómeno foi descoberto com a ajuda de um instrumento (NOMAD) que detecta oxigénio a altitudes de 80 e 120 quilómetros acima da superfície marciana. “Ao observar as altitudes onde esta emissão se dá, podemos analisar a espessura da atmosfera e como varia”, acrescenta à emissora britânica Manish Patel, sugerindo que a análise da composição e dinâmica da atmosfera é importante para o planeamento das aterragens em Marte — o que significa, em teoria, que o brilho verde poderá ajudar a planear os modelos e estratégias de aterragem de sondas no planeta vermelho.