Brasil torna-se no segundo país com mais mortes por covid-19

A OMS considera que o sistema de saúde ainda está, na generalidade, a responder adequadamente à pressão do aumento do número de casos.

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Em São Paulo já foram reabertos os estabelecimentos comerciais Reuters/AMANDA PEROBELLI

A evolução da pandemia no Brasil não dá sinais de desagravamento, com o maior país sul-americano a tornar-se no segundo do mundo com mais mortes causadas pela covid-19, de acordo com os dados da Universidade Johns Hopkins revelados na sexta-feira.

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A evolução da pandemia no Brasil não dá sinais de desagravamento, com o maior país sul-americano a tornar-se no segundo do mundo com mais mortes causadas pela covid-19, de acordo com os dados da Universidade Johns Hopkins revelados na sexta-feira.

Com 909 mortes registadas entre quinta e sexta-feira, o Brasil tem mais de 41 mil mortes, ultrapassando a marca do Reino Unido, que era o segundo país com mais vítimas mortais provocadas pela covid-19, numa lista encabeçada pelos EUA, com 113 mil. O Brasil é também o segundo país com mais casos de infecção, com 828 mil.

Apesar de o número de óbitos estar a subir ao ritmo de mil todos os dias, vários estados estão a avançar para medidas de alívio das restrições de deslocações e para a reabertura de estabelecimentos comerciais. Na sexta-feira, era possível ver filas de pessoas nas lojas da rua 25 de Março, uma das principais vias comerciais de São Paulo, a fazer compras por ocasião do Dia dos Namorados, celebrado no Brasil a 12 de Junho.

A progressão da pandemia no Brasil parece estar ainda em fase ascendente. Em apenas duas semanas, o país passou da quinta posição para a segunda em número de mortes. Para além disso, continua a haver um grave problema de subnotificação de casos por causa da falta de testes à população.

Este sábado de manhã, o balanço realizado por um consórcio de órgãos de comunicação, que se juntaram depois de o Governo ter deixado de revelar dados totais sobre a pandemia, indicava 41.952 mortes e mais de 831 mil casos.

O professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Vitor Engrácia Valenti, acredita que o Brasil poderá ser neste momento o epicentro global da pandemia de covid-19. “Era esperado que, com uma estimativa de comportamento da doença, o pico de contágios chegasse em dois ou três meses depois do primeiro caso, mas a covid-19 ainda está em avanço no Brasil”, afirma o investigador, citado pelo El País Brasil.

O Presidente Jair Bolsonaro tem desvalorizado desde o início da crise a pandemia e tem insistido na reabertura do comércio, temendo o impacto económico. Esta semana, Bolsonaro incitou os seus apoiantes a deslocarem-se aos hospitais e filmarem a fim de verificar se existem camas vazias nas unidades de cuidados intensivos.

As declarações foram condenadas pelo Conselho Nacional de Saúde que criticou o “total desprezo pela vida da população”, acusando o Presidente de não expressar “qualquer sentimento de solidariedade, empatia e compaixão”. Foi noticiado pelo menos um caso de um grupo de pessoas que invadiu um hospital no Rio de Janeiro, exigindo ver se havia camas vazias.

A Organização Mundial de Saúde disse que, apesar da tendência crescente do número de casos, o sistema hospitalar brasileiro parece estar a responder bem à pressão. “Os dados que temos neste momento mostram um sistema sob pressão, mas um sistema que ainda consegue lidar com o número de casos graves”, afirmou o especialista em emergências da OMS, Mike Ryan, citado pela Reuters.

Ainda assim, nos estados do Amapá e de Pernambuco, a taxa de ocupação das unidades de cuidados intensivos está acima dos 90%, de acordo com um levantamento feito pelo site G1.