Nos EUA, as pulseiras criadas por uma criança fizeram nascer uma corrente de solidariedade

No Minnesota, a poucos minutos de onde George Floyd morreu, Kamryn, de 9 anos, começou a fazer pulseiras coloridas para apoiar a “união e justiça” e a comunidade local. Começou a vendê-las no jardim de casa e já são um caso nacional, com dezenas de milhares de dólares angariados.

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A filha do ex-jogador da NFL Ron Johnson tem sido uma inspiração para a comunidade DR

Kamryn Johnson tem nove anos e é filha do ex-jogador da NFL, a liga de futebol americano, Ron Johnson. A viver em Chanhassen, Minnesota, a cerca de 20 minutos de carro do sítio onde George Floyd foi assassinado enquanto estava sob custódia policial, a menina não quis ficar de braços cruzados perante o tumulto que assola o país e teve uma ideia.

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Kamryn Johnson tem nove anos e é filha do ex-jogador da NFL, a liga de futebol americano, Ron Johnson. A viver em Chanhassen, Minnesota, a cerca de 20 minutos de carro do sítio onde George Floyd foi assassinado enquanto estava sob custódia policial, a menina não quis ficar de braços cruzados perante o tumulto que assola o país e teve uma ideia.

Kamryn e cinco dos seus amigos, que vivem no mesmo bairro e têm estado em confinamento durante a pandemia de covid-19 numa bolha de quatro famílias, entraram em acção. Com a menina ao leme, as crianças, de 5 a 12 anos, começaram a fazer pulseiras de cordel coloridas para vender, com todas as receitas a irem para ajudar as comunidades necessitadas de Mineápolis. E decidiram chamar à iniciativa Kamryn & Amigos: Pulseiras pela União e Justiça.

As crianças montaram pela primeira vez um toldo e uma mesa no dia 30 de Maio no relvado à frente da casa de Kamryn. A partir do momento em que o sinal grande e colorido foi exibido, os vizinhos começaram a passar por lá.

As pulseiras têm um preço entre um e cinco dólares, dependendo da complexidade do padrão e do tipo de fio utilizado. As opções incluem sombras simples e combinações de cores, bem como variedades de néon e fios que brilham no escuro.

E, até agora, a maioria dos transeuntes tem deixado mais do que o preço pedido. “As pessoas estão a dar dez, vinte, cinquenta dólares”, contou o pai de Kamryn. “Um homem apareceu do nada e deixou uma nota de cem dólares por uma pulseira.”

De centenas para milhares angariados

Johnson nunca imaginou que a sua filha iria receber mais do que algumas centenas de dólares. “Presumimos que ela só ia vender uma mão-cheia de pulseiras, no máximo, e eu igualaria a quantia que ela fizesse”, lembrou.

Mas, quando Johnson – que é analista desportivo numa estação de rádio local – mencionou a iniciativa da sua filha no ar, a notícia sobre as pulseiras de Kamryn espalhou-se rapidamente. E as doações começaram a chegar de pessoas dentro das Twin Cities e de todo o país. Os noticiários locais cobriram a história.

Embora metade das receitas tenham sido recolhidas pessoalmente no relvado da frente da família, muitas contribuições foram feitas online através da Venmo e GoFundMe. As pulseiras são enviadas por correio a qualquer pessoa que forneça um endereço.

Em menos de uma semana, Kamryn e os seus amigos angariaram cerca de 40 mil dólares (35.330 euros).

Salvar empresas de negros

A família Johnson está a direccionar as receitas a várias causas na comunidade. A família entregou dinheiro, assim como mantimentos vários, a várias unidades locais de ajuda alimentar. Mas o principal objectivo é utilizar os fundos para reforçar as empresas negras afectadas pela pandemia e pelos protestos.

“Queremos realmente concentrar-nos nas empresas propriedade de negros, em especial naquelas às quais foi negado o direito a indemnização por danos causados pelos motins”, afirmou Johnson.

Os vários membros da comunidade desportiva têm contribuído para a causa.

“Foi apenas uma rede de pessoas que ouviu falar da história e a partilharam”, afirmou Johnson. “Tivemos muitos atletas e treinadores a fazer doações”.

Um grande doador é Anthony “Spice” Adams, antigo jogador do San Francisco 49ers e do Chicago Bears. Ele e Johnson cresceram juntos em Detroit e são amigos de longa data. “É incrível para Kam ver que ela pode fazer diferença no mundo só por fazer algo do seu jardim no Minnesota”, disse Adams.

Outros doadores do mundo do desporto incluem Chad Greenway, um antigo linebacker dos Vikings do Minnesota, e Harrison Smith, um actual jogador Vikings que visitou Kamryn e os seus amigos pessoalmente para ir buscar a sua pulseira roxa e amarela – para combinar com as cores da sua equipa.

“A Kam ficou com um sorriso de orelha a orelha quando [Smith] apareceu”, disse Johnson.

Joan Gabel, a presidente da Universidade do Minnesota, também doou. “Nada pode fazer-nos sentir mais optimistas para o futuro do que uma criança que sabe que pode fazer a diferença”, disse Gabel. “E ela pode, por isso eu queria ajudá-la”.

Uma inspiração

As empresas e os residentes locais também apoiam a iniciativa. Nick Rancone, o co-proprietário de um pequeno grupo de restaurantes, comprou 15 pulseiras para o seu pessoal usar em Mineápolis.

“As pulseiras de Kamryn são um exemplo perfeito para quem questiona a sua capacidade de mudança”, disse Rancone. “Esta miúda de 9 anos é uma inspiração.”

Emily Rooney, uma residente de Mineápolis, conduziu meia hora para visitar o stand de pulseiras de Kamryn, depois de ter lido sobre o assunto nas redes sociais. “Ver uma criança de 9 anos a tomar medidas é tão inspirador”, disse Rooney. “Estava disposto a atravessar as cidades de carro para a apoiar”.

Kamryn e os seus amigos, que aprenderam a fazer as criações coloridas durante o período de confinamento, têm trabalhado arduamente para acompanhar a procura. Eles até têm bolhas nos dedos para mostrar. E por isso alguns vizinhos começaram a fazer pulseiras para aliviar a carga.

“Tornou-se maior do que apenas Kamryn, é todo o bairro e a comunidade”, disse Johnson. “Kamryn está a liderar o negócio e nós estamos todos bem atrás dela.”

A mãe de Kamryn, Shani Johnson, de 39 anos, confessou que esta experiência tem sido a fonte de luz de que ela precisava neste momento. “Passámos muitos dias em luto e processar a morte de George Floyd e tudo o que aconteceu aqui na nossa cidade, por isso foi um enorme encorajamento e alegria ver o bem [que existe] lá fora”, disse.

Kamryn e os seus amigos estão a planear continuar a fazer pulseiras enquanto as pessoas estiverem dispostas a comprá-las”. “Queremos que esta iniciativa fique”, disse Johnson. “Isto não é uma coisa de uma semana”.

Não só as pulseiras de Kamryn angariaram mais dinheiro do que imaginavam ser possível, como os Johnson afirmaram que também suscitaram discussões importantes na sua vizinhança. “As conversas que estamos a ter com os nossos vizinhos sobre racismo e injustiça enquanto estamos aqui fora estão a unir-nos de uma forma que é realmente única”, disse Shani Johnson. “Para além do dinheiro que estamos a usar para ajudar os outros, sinto-me muito encorajada pela forma como isso juntou a nossa comunidade e o nosso bairro num momento de grande divisão.”

Ron Johnson disse que se a sua filha de 9 anos pode fazer a diferença, qualquer um pode. “Todos os dias que estás nesta Terra, a tua função é transmitir o máximo de amor e empatia que conseguires”, disse. “A nossa filha lembrou-nos disso.”