BMG promete rever contratos com músicos negros para eliminar “anomalias e desigualdades”
Empresa discográfica quer que as repercussões da Blackout Tuesday resultem em mais do que “uma série de slogans” e promete desenhar um plano para rectificar termos discriminatórios em 30 dias.
Começou com uma sugestão, via Twitter, do professor universitário e crítico Josh Kun, a propósito da Blackout Tuesday, protesto silencioso contra a discriminação racial no mercado das artes que na semana passada encheu as redes sociais de quadrados negros. “Se a indústria musical quer mesmo apoiar as vidas negras, as editoras podem começar por emendar contratos, distribuir direitos de autor e pagar retroactivamente aos artistas negros a partir dos quais construíram os seus impérios”, argumentou. Ao que tudo indica, a BMG terá levado a sugestão à letra: Hartwig Masuch, o seu director executivo, anunciou que a empresa vai reavaliar todos os “contratos históricos” no seu portefólio, de modo a corrigir “quaisquer anomalias ou desigualdades” nos termos assinados com os artistas negros a quem está associada.
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Começou com uma sugestão, via Twitter, do professor universitário e crítico Josh Kun, a propósito da Blackout Tuesday, protesto silencioso contra a discriminação racial no mercado das artes que na semana passada encheu as redes sociais de quadrados negros. “Se a indústria musical quer mesmo apoiar as vidas negras, as editoras podem começar por emendar contratos, distribuir direitos de autor e pagar retroactivamente aos artistas negros a partir dos quais construíram os seus impérios”, argumentou. Ao que tudo indica, a BMG terá levado a sugestão à letra: Hartwig Masuch, o seu director executivo, anunciou que a empresa vai reavaliar todos os “contratos históricos” no seu portefólio, de modo a corrigir “quaisquer anomalias ou desigualdades” nos termos assinados com os artistas negros a quem está associada.
Depois de a Warner, a Sony e a Universal, três dos conglomerados com maior influência e poderio financeiro na indústria musical, terem colectivamente doado um total de 225 milhões de dólares a fundações e iniciativas anti-racismo, a BMG parece estar a atender directamente à primeira cláusula do tweet de Kun. “Estamos conscientes do tratamento vergonhoso por parte da indústria para com os artistas negros”, esclareceu Masuch na terça-feira, explicando que apesar de a BMG só ter “iniciado operações” enquanto editora discográfica em 2008, depois de a Bertelsmann ter adquirido as suas acções junto da Sony, a companhia adquiriu muitos “catálogos mais antigos”.
Nomes como Lenny Kravitz, Quincy Jones ou os Cypress Hill, importante grupo de hip-hop dos anos 90, têm parte do seu trabalho no catálogo da empresa, que também exerce “influência”, aponta a Pitchfork, sobre a Trojan Records – lendária editora, eternizada pelo dub do jamaicano Lee “Scratch” Perry, que ajudou a trazer o reggae de Kingston para Londres – e adquiriu os direitos da RBC Records, cujo selo cobre os álbuns dos Run The Jewels, por exemplo.
“Precisamos de desempenhar o nosso papel e de enfrentar estas injustiças históricas infligidas sobre as pessoas negras”, referiu o director executivo da BMG, numa carta publicada integralmente pela Music Business Worldwide. “Queremos que as acções da semana passada sejam mais do que um quadrado negro nas redes sociais ou uma série de slogans”, acrescentou, avançando que, dentro de um prazo de “30 dias”, a BMG criará “um plano” para resolver as desigualdades inscritas nos termos dos seus contratos, dos mais antigos aos que serão celebrados no futuro.
Num artigo publicado há uma semana pela Pitchfork, intitulado “O que as maiores companhias de música efectivamente fizeram durante a Blackout Tuesday”, o site norte-americano assinala que a editora Republic Records – que representa Drake, Kid Cudi, Lil Wayne, Nicki Minaj ou The Weeknd, entre outros – divulgou a intenção de abandonar o termo “urbano” enquanto identificador de estilo musical.
O uso dessa palavra para descrever sonoridades merece frequentes críticas por parte de artistas, que a descrevem como um guarda-chuva fácil e vago para abranger tudo o que seja música feita por pessoas negras. A mais mediática em tempos recentes terá sido a de Tyler, the Creator, que, depois de lhe ser atribuído um Grammy pelo álbum IGOR, sublinhou que “a palavra ‘urbano’ é uma maneira politicamente correcta de dizer a n-word [nigger]”.
Por falar nos Grammys, a instituição decidiu alterar a sua categoria de “Best Urban Contemporary Album” (melhor álbum urbano contemporâneo) para “Best Progressive R&B Album” (melhor álbum de r&b progressivo), numa decisão não menos controversa. Se a anterior designação, argumentou o crítico Anthony Fantano, conhecido pelo seu canal de YouTube The Needle Drop, segregava os músicos negros que, independentemente do seu género musical, eram como que empurrados para uma categoria redutora e inconclusiva, a mudança de nome pouco faz para alterar esse problema.