Associação de ciências marinhas quer pescas baseadas em conhecimento científico

Para a associação Sciaena, em causa estão os stocks de espécies como o goraz e do peixe-espada-preto.

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Peixe-espada-preto Carlos Lopes/Arquivo

A associação Sciaena – Oceanos, Conservação e Sensibilização defende a necessidade de pareceres científicos na gestão das pescas em águas profundas, o que poderá implicar menos capturas de espécies como o goraz e o peixe-espada-preto.

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A associação Sciaena – Oceanos, Conservação e Sensibilização defende a necessidade de pareceres científicos na gestão das pescas em águas profundas, o que poderá implicar menos capturas de espécies como o goraz e o peixe-espada-preto.

A associação, que em conjunto com outras organizações não-governamentais de ambiente apelam aos governos que limitem a pesca e minimizem os impactos da actividade no mar profundo, disse esta quinta-feira à agência Lusa que “Portugal tem algumas pescarias de profundidade, nos Açores, na Madeira e na costa continental, que dependem dessas medidas”.

Gonçalo Carvalho, coordenador executivo da Sciaena, explicou que em causa estão os stocks de espécies como o goraz (pescado sobretudo nos Açores) e do peixe-espada-preto (pescado na Madeira e na costa continental).

“O que temos verificado, ao longo dos anos, são passos muito lentos para conhecermos estes stocks, para acumular mais conhecimento científico que nos permita ter mais confiança nas medidas de gestão que tomamos”, afirmou o responsável pela associação, considerando haver, por outro lado, “uma certa relutância em seguir os pareceres científicos, que são precaucionais, para estas espécies”.

A excepção em Portugal tem-se verificado nos Açores onde com “a adopção de várias medidas de gestão para controlar a forma como se pesca estas espécies”, mais sensíveis do que a maior parte das que vivem a menores profundidades. Um esforço que é reconhecido pelo Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (CIEM), que admitiu o aumento da captura recomendada de goraz para as 610 toneladas em 2021, o valor mais elevado desde 2012.

Daí a importância atribuída por Gonçalo Carvalho a que “sejam seguidos os pareceres científicos” e em alguns pontos da costa portuguesa isso represente cortes nas cotas de pesca em águas profundas.

“É urgente gerir estes stocks com estas precauções e seguindo à risca o que a ciência nos diz”, afirmou, lembrando tratar-se de espécies “muito sensíveis e que se forem postas em causa vão demorar muito tempo a recuperar”.

A Sciaena, em conjunto com a Birdwatch Irelanda, Sociedade Holandesa de Elasmobrânquios, Ecologistas en Acción, Fundació ENT, Oceana, Our Fish, e Seas At Risk apelaram aos governantes europeus para que estabeleçam limites de pesca e minimizem os impactos da actividade no mar profundo, dada a vulnerabilidade das espécies e escassez de stocks.

O apelo das organizações tem por base um parecer científico publicado na quarta-feira, pelo CIEM, e que confirma que a maioria das populações de peixes de profundidade na área da União Europeia permanece em condições preocupantes e sem dados suficientes para uma avaliação adequada.