Comissão Europeia diz ter “provas suficientes” de desinformação chinesa sobre a covid-19
A Comissão Europeia afirma ter “provas suficientes” de que há propaganda chinesa na Europa sobre a pandemia de covid-19, um “novo fenómeno” que se junta à desinformação russa e à propagação de informação falsa por “actores europeus”.
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A Comissão Europeia afirma ter “provas suficientes” de que há propaganda chinesa na Europa sobre a pandemia de covid-19, um “novo fenómeno” que se junta à desinformação russa e à propagação de informação falsa por “actores europeus”.
“Temos provas suficientes para perceber como é que a propaganda chinesa funciona e como tem funcionado nesta crise da covid-19. Por isso, penso que é altura de dizermos a verdade, de informar as pessoas”, declarou a vice-presidente da Comissão Europeia com a pasta dos Valores e Transparência, Vera Jourová.
Jurová revelou que a Comissão Europeia está a preparar uma lista de tarefas para o combate às notícias falsas, que visa sobretudo as grandes plataformas digitais – essa decisão foi adoptada nesta quarta-feira pelo colégio de comissários.
Gigantes tecnológicas como a Google, Facebook ou Twitter “têm de fazer mais” para combater as fake news relacionadas com a pandemia. “Reconheço as importantes medidas adoptadas pelas plataformas nesta crise e apoio o esforço feito para disponibilizar acesso a informações credíveis de autoridades de saúde e para remover conteúdos e anúncios falsos ou maliciosos”, disse Vera Jourová. Mas considerou que “há espaço para melhorarem”.
Bruxelas quer, então, relatórios mensais sobre os esforços das plataformas numa altura em que se multiplica desinformação na internet sobre a pandemia. Esses documentos “serão públicos” e terão de conter “informações específicas sobre a natureza da desinformação, as técnicas de manipulação utilizadas, a dimensão da rede abrangida, a origem geopolítica e o público-alvo”, enumerou a vice-presidente da Comissão Europeia.
Plataformas digitais como a Google, Facebook, Twitter, Microsoft e Mozilla comprometeram-se, no final de 2018, a combater a desinformação nas suas páginas através da assinatura de um código de conduta contra as fake news, um mecanismo voluntário de autorregulação que nos últimos meses tem estado centrado na desinformação sobre a covid-19.
Por seu lado, as redes sociais têm estado a monitorizar e a retirar “conteúdo que era prejudicial e perigoso para a saúde” e a promover informações das autoridades sanitárias, acrescentou Vera Jourová, notando que “todas estas acções trouxeram resultados e [...] ajudaram a melhorar o ambiente informativo na internet”. Ainda assim, “isto não significa que tenhamos resolvido o problema”, admitiu Vera Jourová.
Como exemplo, Jourová apresentou as provas “recolhidas pelo Serviço Europeu de Acção Externa” de desinformação de países estrangeiros tendo como alvo da UE no contexto da pandemia da covid-19.
“Tomámos conhecimento de uma série de acusações, como a de que o novo coronavírus foi desenvolvido em laboratórios norte-americanos e sobre uma promoção exagerada do apoio da China à UE, com muita propaganda que indica que os Estados-membros e as instituições democráticas europeias não foram capazes de lidar com a crise”, precisou Vera Jourová.
“Há uma série de situações em massa deste género e este é um novo fenómeno, com comunicação mais assertiva no território europeu e dirigida aos cidadãos europeus” por parte de Pequim, afirmou a vice-presidente do executivo comunitário.
Além da China, também a Rússia foi identificada como “promotora ou fonte de desinformação”. É a primeira vez que a União Europeia assinala tão claramente estas origens de fake news, sublinhou a comissária. "Claro que, no que toca à Rússia, não é nenhuma novidade, porque têm a desinformação incluída na doutrina militar, mas a China é pela primeira vez assinalada e fico satisfeita por o termos feito, porque se existem provas, não nos devemos comedir de o apontar”, acrescentou Vera Jourová.
Para responder a estas questões, a responsável defendeu um reforço da “cooperação interna e também ao nível da NATO e do G7 [grupo das sete nações mais industrializadas] porque a desinformação é uma ameaça híbrida e, por isso, uma questão de segurança”.
“Temos de limpar a nossa própria casa e temos de reforçar a nossa estratégia de comunicação e as ligações diplomáticas”, sublinhou Vera Jourová, numa alusão ao que chamou os “diferentes actores” que, dentro da Europa, “actuam como inimigos exteriores”. “Estou a falar de diferentes grupos extremistas, forças políticas com programas nacionalistas”, especificou.