Cabo Delgado: ONG acusa Governo de Moçambique de “silêncio perturbador” sobre morte de 52 pessoas
Na ausências de resultados do inquérito oficial sobre massacre no distrito de Muidumbe, na província de Cabo Delgado, ergue-se um protesto da sociedade civil moçambicana.
O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não-governamental moçambicana, acusou o Governo de “silêncio perturbador” por ainda não ter divulgado os resultados do inquérito à morte de 52 pessoas por grupos armados em Abril.
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O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não-governamental moçambicana, acusou o Governo de “silêncio perturbador” por ainda não ter divulgado os resultados do inquérito à morte de 52 pessoas por grupos armados em Abril.
O Ministério da Defesa Nacional disse em Abril que as vítimas, maioritariamente jovens, foram mortas na aldeia de Xitaxi, distrito de Muidumbe, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, por grupos armados que realizam ataques na região.
Os assassínios foram resultado de retaliação por as vítimas se terem recusado a aderir aos grupos armados, disse o Governo do Presidente Filipe Nyusi.
Na altura, as autoridades disseram que uma equipa de especialistas se encontrava no terreno a fazer a avaliação e a produzir um relatório “para os moçambicanos e para o mundo entenderem a ocorrência de Xixati”.
Num comunicado que divulgou nesta terça-feira, o CDD assinala que dois meses após “o massacre”, o Governo ainda não cumpriu a promessa de apresentar os resultados, considerando que prima por um “silêncio perturbador”.
“A falta de uma informação oficial sobre as circunstâncias em que o massacre ocorreu e o ruidoso silêncio que marcou estes dois meses remete para o esquecimento dos chamados ‘mártires de Xitaxi'”, lê-se na nota.
O acontecimento, prossegue o CDD, não pode ser apagado da memória colectiva dos moçambicanos, porque representa uma das fases mais críticas da história recente de Moçambique.
“Depois de terem falhado na sua missão de garantir segurança às vítimas e neutralizar ataques violentos contra civis, o máximo que as Forças de Defesa e Segurança podem fazer é avaliar e compreender as circunstâncias em que o massacre ocorreu para evitar que actos como este voltem a acontecer”, refere aquela organização da sociedade civil moçambicana.
A Lusa tentou ouvir o Ministério da Defesa sobre o inquérito às mortes em Xitaxi, mas sem sucesso.
O escritor moçambicano Nelson Saúte divulgou um poema chamado Os mortos de Muidumbe, que procura arrancá-los do esquecimento. “O sacrifício dos que foram assassinados em Muidumbe/ não é bastante para sangrar os jornais além das efémeras notícias/ que não abalam a nossa moçambicaníssima complacência?/ Quem fica de joelhos pelos mortos de Muidumbe?”, escreve.
Cabo Delgado, província onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, vive um conflito armado desde Outubro de 2017, em que militantes de inspiração islâmica – conhecidos como Ahlu Sunnah Wa-Jamo e que estarão ligados ao Daesh fazem investidas territoriais, conquistando território, embora sem se estabelecerem durante muito tempo, aterrorizando a população - com raptos, assassínios, decapitações, roubos, mas também procurando conquistar adeptos para um levantamento contra o Estado moçambicano.
Desde o início deste ano que são classificados pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Em dois anos e meio de conflito, estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 600 pessoas. Segundo números da Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED), uma ONG norte-americana dedicada a recolher e analisar dados sobre violência política em grande parte do mundo, até 25 de Abril deste ano, 1100 pessoas morreram neste conflito, mais de 700 delas civis.
Há mais de 210 mil deslocados internos, segundo o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, a maioria delas crianças e mulheres, e Cabo Delgado é a província moçambicana mais afectada pela pandemia de covid-19. Enquanto inicialmente o conflito afectou pequenas povoações, este ano o padrão mudou: foram atacadas capitais de distrito, o que levou ao aumento de pessoas em fuga.