Detidos mais três suspeitos da morte de Giovani. Golpe fatal com pau

O estudante Luís Giovani Rodrigues, de 21 anos, morreu no último dia do ano, na sequência de uma violenta agressão que sofreu à saída de uma discoteca em Bragança.

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Luís Giovani dos Santos Rodrigues FACEBOOK

A aproximar-se do fim da investigação, a Polícia Judiciária (PJ) deteve mais três suspeitos. No total, oito homens vão responder pelas agressões a quatro estudantes do Instituto Politécnico de Bragança, que resultaram na morte do jovem Luís Giovani Rodrigues, de 21 anos.

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A aproximar-se do fim da investigação, a Polícia Judiciária (PJ) deteve mais três suspeitos. No total, oito homens vão responder pelas agressões a quatro estudantes do Instituto Politécnico de Bragança, que resultaram na morte do jovem Luís Giovani Rodrigues, de 21 anos.

Pouco a pouco, tudo se foi esclarecendo. Primeiro, nem a autópsia era conclusiva, deixando em aberto a possibilidade de a morte não ter sido provocada pelas agressões, mas pela queda que Giovani sofreu a seguir, numas escadas, junto às quais uma patrulha da PSP o encontrou. Houve que fazer exames complementares. Determinou-se então como causa de morte uma agressão com um objecto contundente, o que é compatível com o pau usado, adianta António Trogano, coordenador de investigação criminal da PJ em Vila Real.

As buscas domiciliárias, as inquirições e os interrogatórios levaram a PJ a deter, no dia 16 de Janeiro, os primeiros cinco homens, com idades compreendidas entre os 22 e os 35 anos. Indiciados pelo crime de homicídio qualificado, três na forma tentada, foram todos sujeitos a prisão preventiva. Revistas as medidas de coacção, dois passaram a aguardar o julgamento em prisão domiciliária. 

Agora, o Departamento de Investigação Criminal de Vila Real juntou estes três novos suspeitos, na mesma faixa etária.“Fizemos inúmeras diligencias, nomeadamente a reconstituição dos factos, o que permitiu aclarar os factos e responsabilizar mais estes três”, explicou António Trogano. 

Embora os oito homens tenham tido intervenções "diferentes e diferenciadas”, a PJ coloca-os ao mesmo nível de responsabilidade. Ainda esta segunda-feira, estes três foram presentes ao Tribunal de Bragança, indiciados pelo mesmo crimeO interrogatório judicial foi suspenso até terça-feira, a pedido da defesa, que quis consultar o processo. 

Por haver presos preventivos, o prazo está a acabar. Até ao início do próximo mês, o Ministério Público tem de deduzir acusação ou arquivar.​ Perto de fechar a investigação, a PJ mantém a tese de que os suspeitos não agiram por ódio relacionado com a cor, a etnia ou a nacionalidade das vítimas. Na origem da agressão terão estado “motivos torpes ou fúteis” associados ao “consumo de álcool” e à “cultura do macho latino”.

Os factos remontam à noite de 20 para 21 de Dezembro. Giovani saíra com três amigos mais ou menos da sua idade, também estudantes do Politécnico de Bragança, oriundos de Cabo Verde. Estavam já na fila para pagar quando o conflito estourou. O rapaz mais velho terá tocado acidentalmente numa rapariga; um dos suspeitos tê-lo-á empurrado e ele terá devolvido o gesto e, de repente, levado um soco. Alguns funcionários do bar tentaram acalmar os ânimos. O amigo de Giovani terá sido aconselhado a aguardar uns minutos na cabine de som do DJ (os amigos ficaram à espera). O outro saiu. Era suposto tudo ter ficado por ali, mas o outro reuniu reforços.

Os quatro estudantes cabo-verdianos foram surpreendidos por um grupo de rapazes portugueses armados com “paus, ferros, cintos”. Na confusão, acabaram por se separar. Giovani foi encontrado por uma patrulha da Polícia de Segurança Pública, sozinho, caído. A PSP até pensou estar perante um caso de excesso de álcool. Acorreram ao local os Bombeiros de Bragança, que lhe viram o hematoma na cabeça. Desconfiando de traumatismo cranioencefálico, conduziram-no ao Hospital Distrital de Bragança. Ainda naquela madrugada, a unidade hospitalar terá alertado a PSP para os sinais de agressão. Giovani foi transferido para o Hospital Geral de Santo António, no Porto. Morreu no dia 31 de Dezembro. 

A morte do jovem estudante causou grande consternação. O rapaz era muito apreciado na sua comunidade, para onde o corpo foi transladado. Tocava piano na igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Mosteiros, ilha do Fogo, Cabo Verde. Era um dos mais jovens membros dos Beatz Boys, um grupo de música tradicional. Tinha vindo para Portugal em Outubro de 2019 para estudar Design de Jogos Digitais no Instituto Politécnico de Bragança.

Em Janeiro deste ano, centenas de pessoas saíram às ruas em Lisboa e em Bragança para homenagear Luís Giovani Rodrigues. Nessa altura, houve muito quem criticasse as autoridades portuguesas por as entender pouco diligentes. Na Praia (ilha de Santiago, Cabo Verde), mais de mil pessoas exigiram justiça — a manifestação acabou por ficar descontrolada junto à embaixada portuguesa.