Como mostrar ao cão e ao gato que voltamos a sair de casa
Manter um diário dos comportamentos do cão e voltar de forma progressiva às regras antigas são formas de ajudar os animais de companhia na transição entre os meses de confinamento e mais tempo no exterior. Conselho: “ter paciência”. Afinal, eles não sabem o que se está a passar.
A pata do cão no teclado, o gato no colo e o humano que não se lembra de como algum dia conseguiu trabalhar de outra forma. Na grande parte dos casos, os animais de companhia estão apenas contentes por receber mais companhia. De resto, “não fazem ideia do que se está a passar”. E não conseguem antecipar que, com o regresso aos escritórios e às saídas, o tempo dos passeios que se alongam e das regras que se encurtam pode estar para acabar. “Os cães são animais que se adaptam com uma rapidez absolutamente fenomenal. Acredito que a grande maioria dos cães se vão adaptar lindamente”, começa por dizer Cláudia Estanislau. “Mas haverá alguns que se vão ressentir com a mudança de rotina.”
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A pata do cão no teclado, o gato no colo e o humano que não se lembra de como algum dia conseguiu trabalhar de outra forma. Na grande parte dos casos, os animais de companhia estão apenas contentes por receber mais companhia. De resto, “não fazem ideia do que se está a passar”. E não conseguem antecipar que, com o regresso aos escritórios e às saídas, o tempo dos passeios que se alongam e das regras que se encurtam pode estar para acabar. “Os cães são animais que se adaptam com uma rapidez absolutamente fenomenal. Acredito que a grande maioria dos cães se vão adaptar lindamente”, começa por dizer Cláudia Estanislau. “Mas haverá alguns que se vão ressentir com a mudança de rotina.”
O “regresso gradual” que tem guiado o desconfinamento é também a palavra-chave da treinadora e comportamentalista de cães. “Nesta altura, provavelmente ultrapassaram muitas barreiras e deixaram os cães fazer tudo porque é difícil com muita gente em casa estar sempre atento a estas regras. Se queremos voltar a instituir regras antigas temos de começar a fazê-lo de uma forma progressiva”, explica. “É muito fácil eles habituarem-se rapidamente a terem companhia humana o tempo todo. Porque é para isso que eles são procriados hoje em dia: são animais de companhia. Para a maior parte deles, esta é uma mudança para melhor. O problema coloca-se quando de repente isto desaparece e volta-se à normalidade anterior.”
A ansiedade pela separação pode ser possível até em cães que nunca se mostraram ansiosos, diz Luísa Guardão. “Estou numa fase de ignorar”, explica a médica veterinária, a seguir o mesmo conselho que deixa ao tutores dos animais que acompanha. “O cão tem de aprender a ficar sozinho”, dizem as duas comportamentalistas com quem o P3 falou. “Durante o dia é importante não estar o tempo todo na companhia do cão ou o cão na nossa companhia e deixá-lo algum tempo numa divisão onde ele possa estar a roer o osso, na hora de comer ou a descansar depois do passeio”, sugere Cláudia Estanislau. “Devemos também começar a diminuir gradualmente o número de passeios, se houve um aumento. Porque eles rapidamente se habituam a um grande número de passeios.”
A treinadora de cães indica que a “às vezes mal definida ansiedade de separação pode ter um espectro”, desde o cão que demonstra ansiedade “com alguma vocalização ao outro extremo que destrói varandas, estores e portas que fiquem perto de saídas”. "É um dos problemas que surge com cães em canis, principalmente se o cão é adoptado depois de uma situação menos feliz, eles apegam-se muito à família que os acolhe. Em casos mais graves, temos cães que se magoam bastante, inclusivamente que saltam de varandas e janelas.” Os casos de auto-mutilação são “facilmente identificáveis”, mas os “níveis mais baixos de ansiedade não deixam de ser preocupantes, principalmente se não existir um acompanhamento”.
Não existe um bálsamo milagroso para aplicar em todas as casas. Mas um começo para entender o ser com quem partilhamos a habitação — e agora o escritório — é “vestir a pele de um biólogo e observar”, desafia Luísa Guardão. “Ao conhecê-lo melhor vou saber as necessidades do meu animal”, diz. “Manter um diário é outro dos conselhos”, bem como “filmar os comportamentos do animal”. “Tudo isto ajuda o médico veterinário a perceber se o animal precisa de mais estímulos e a conhecer o ambiente que o rodeia”, explica. “Existem muitos brinquedos. E arranjar um leque de dispositivos a que eles possam recorrer quando estivermos fora pode ser uma ideia. Mas tudo depende de cada animal.”
A treinadora não tem recebido pedidos de ajuda referentes às novas alterações de rotinas dos últimos meses. “Acho que ainda vai haver muita gente a deparar-se com essa questão. Infelizmente, eu acho que as pessoas não pensaram muito nisso. Porque é possível prevenir.” Há, no entanto, um aspecto que Luísa Guardão acha que não passou despercebido aos tutores, mesmo para quem o teletrabalho não foi uma possibilidade. “As pessoas puderam ter noção das vidas dos animais fechados em casa o dia todo. Veio ajudar a sensibilizar os tutores e espero que agora sejam capazes de ser mais persistentes e de compreender um problema muito sério para o qual os médicos veterinários têm vindo a alertar”. Em jeito de resumo: “desafiar os animais, ver o que é que eles gostam, ensiná-los a brincar”.
E os gatos?
Se os cães são, na sua maioria, “muito adaptáveis, os gatos não”, frisa Patrícia Pimenta. “Durante os meses de confinamento, a maior parte dos problemas que tivemos foram relacionados com o stress”, conta a médica veterinária, membro da Sociedade Internacional de Medicina Felina. “Não é tanto a questão de serem independentes. É viverem em função de uma rotina. Havia uma comportamentalista que dizia que os gatos precisavam da rotina porque, no fundo, na psicologia deles, eles também são presas no habitat deles. Pelo que o gato tende a viver um bocadinho como: o que é que eu fiz ontem que me permite sobreviver?”
Os tutores devem estar atentos “quer a alterações nos hábitos alimentares e nos hábitos de higiene, quer alterações no que toca a brincadeira e comportamento predatório”. “A verdade é que há muitos gatos que amuam”, atira. “E é muito fácil romper-se a ligação que existe entre um dono e um gato com mudanças na rotina.”
A médica veterinária também sugere um afastamento “gradual" — que pode ser amenizado com a televisão ligada, num canal de YouTube onde apenas se vê pássaros e peixes. “É muito importante tentar enriquecer o ambiente do gato o mais que se pode. Uma das coisas que funciona muito bem são os puzzles de alimentação. Acaba por estimular a parte predatória do gato e como ele também perde mais tempo à procura acaba por passar melhor o tempo”, sugere.
Depois, o trabalho está em diminuir as alterações no dia-a-dia, desde a frequência da limpeza da caixa de areia, aos “cheiros estranhos que levamos mais para casa”. “Para o dono que quer respeitar isso, se calhar é uma ideia deixar os sapatos e o saco das compras à porta.” Fingir que não se conhece o “local de segurança onde ele se esconde” é outra regra. Mesmo quando o gato se esconde com o rabo de fora.