Procuradores alemães tentam comprovar ligação com caso semelhante ao de Maddie na Alemanha
O desaparecimento de Madeleine McCann poderá estar ligado a um caso semelhante, que ocorreu em 2015 com o mesmo suspeito.
A procuradoria de Stendal, na Alemanha, confirmou esta sexta-feira à agência Lusa que está a “tentar confirmar a possível ligação” entre o desaparecimento de Madeleine McCann, em 2007, e um crime semelhante, em 2015, envolvendo o mesmo suspeito.
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A procuradoria de Stendal, na Alemanha, confirmou esta sexta-feira à agência Lusa que está a “tentar confirmar a possível ligação” entre o desaparecimento de Madeleine McCann, em 2007, e um crime semelhante, em 2015, envolvendo o mesmo suspeito.
“Nesta altura só podemos dizer que se está a tentar comprovar a possível ligação entre os casos ‘Madeleine’ e ‘Inga’ [a criança desaparecida em 2015], aqui na Alemanha, e perceber até que ponto isso pode levar a sustentar as suspeitas, aí em Portugal, contra o acusado”, explicitou a procuradoria da cidade de Stendal, acrescentando que “a investigação está a seguir o seu curso”.
O Ministério Público alemão também confirmou esta sexta-feira que abriu uma nova investigação sobre o homem de 43 anos suspeito de estar envolvido no desaparecimento de Madeleine McCann, na sequência de uma alegada ligação a um crime semelhante Alemanha.
Segundo os procuradores da cidade de Stendal, cerca de 100 quilómetros a oeste de Berlim, o homem, identificado como Christian B., poderá estar associado ao desaparecimento, em 2015, de uma menina de cinco anos. O suspeito alemão tinha uma propriedade a 100 quilómetros a sudoeste de Stendal, na cidade de Neuwegersleben, quando a menina desapareceu.
Christian B. está detido na Alemanha por abuso sexual de menores, entre outros crimes e, segundo as polícias britânica e alemã, é suspeito de envolvimento no desaparecimento de Madeleine McCann, no Algarve, em 2007. As autoridades alemãs estão também a assumir a morte de “Maddie” e a investigar Christian B. por suspeita de homicídio.
O jornal britânico The Guardian diz que as autoridades estão também a investigar as conexões entre este suspeito e o desaparecimento de um menino alemão de seis anos em 1996. O menino Rene Hasee desapareceu de uma praia no Algarve quando estava de férias com a família.
Também esta sexta-feira a Polícia Judiciária (PJ) sublinhou que a polícia britânica recebeu, em 2012, os elementos do processo da PJ sobre o desaparecimento de Madeleine McCann no qual constavam centenas de pessoas, entre elas o alemão anunciado agora como suspeito, a quem não atribuiu relevância.
“Pelo menos desde 2012, quando se iniciou a operação Orange, a polícia inglesa recebeu da PJ todos os elementos que estavam no nosso processo referente ao caso do desaparecimento da criança. Se Christian Bruckner lá estava, como lá estavam centenas de pessoas e se fossem assim tão evidentes as suspeitas sobre essa pessoa, teria sido alvo de diligências pedidas pelos ingleses, e que sempre foram autorizadas em Portugal, mas nunca solicitaram”, afirmou esta sexta-feira o director-adjunto da PJ à agência Lusa.
Confrontado com criticas à actuação da PJ publicadas por alguns órgãos de comunicação social britânicos, Carlos Farinha refuta-as e afirma de forma peremptória que “a falta de relevância que é atribuída à PJ em relação a Bruckner é a mesma que se pode atribuir à Scotland Yard ou à Metropolitan Police, pelo menos desde 2012, porque os dados que havia sobre o cidadão eram também do conhecimento deles”.
As suspeitas do envolvimento de um cidadão alemão no desaparecimento da criança inglesa de três anos na Praia da Luz, no Algarve, adensaram-se apenas em 2017, quando um outro cidadão alemão forneceu informações à Scotland Yard. “Depois disso, com a ajuda da PJ, conseguiu-se descodificar a quem dizia respeito essa informação, chegando-se ao actual suspeito, tendo sida activada a polícia alemã (BKA)”, disse o director-adjunto da PJ.
Para Carlos Farinha, “em tese tudo poderia ter sido diferente”, mas “em 2007 [altura do desaparecimento de “Maddie"] e em 2012 não se sabia o que se soube em 2017 e os desenvolvimentos posteriores foram também fruto do cruzamento de informações com a PJ. Houve depoimentos obtidos na Alemanha e em Portugal”.
O homem terá vivido no Algarve entre 1995 e 2007 e registos telefónicos colocam-no na área da Praia da Luz no dia em que a criança inglesa, de apenas três anos, desapareceu.
Segundo a agência Associated Press (AP), a descrição do suspeito corresponde à de um homem de 43 anos que foi condenado em Dezembro na cidade de Braunschweig pela violação, em 2005, de uma mulher americana de 72 anos no seu apartamento em Portugal, com base, em grande parte, em provas de ADN. O suspeito negou as acusações durante o seu julgamento e recorreu da condenação.
De acordo com uma cópia do veredicto, enviada pelo tribunal de Braunschweig em resposta a uma pergunta da AP sobre a condenação do suspeito em Dezembro, o alemão era um criminoso com várias condenações anteriores, entrando e saindo regularmente da prisão.
Os seus crimes incluem o abuso sexual de uma criança em 1994, quando teria cerca de 17 anos e pelo qual foi julgado num tribunal de menores, bem como um caso em 2016, no qual foi condenado por abuso de outra criança e por posse de pornografia infantil. Outras condenações abrangem também acusações de tráfico de droga, roubo e infracção na posse de arma.
Madeleine McCann desapareceu em 3 de Maio de 2007, poucos dias antes de fazer quatro anos, do quarto onde dormia juntamente com os dois irmãos gémeos, mais novos, num apartamento de um aldeamento turístico, na Praia da Luz, e o seu desaparecimento tornou-se um caso mediático à escala global.
A polícia britânica começou por formar uma equipa em 2011 para rever toda a informação disponível, abrindo um inquérito formal no ano seguinte, tendo até agora gasto perto de 12 milhões de libras (14 milhões de euros) no processo.
A PJ reabriu a investigação em 2013, depois de o caso ter sido arquivado pela Procuradoria-Geral da República em 2008, ilibando os três arguidos, os pais de Madeleine, Kate e Gerry McCann, e um outro britânico, Robert Murat.