Egípcio que submeteu as três filhas a mutilação genital feminina vai ser julgado
Pai disse às filhas que iam ser vacinadas contra a covid-19. Quando acordaram, tinham sido mutiladas. Procedimento é crime no Egipto desde 2016, mas ainda ninguém foi julgado.
As autoridades egípcias ordenaram o julgamento imediato de um pai suspeito de ter forçado as três filhas menores a serem submetidas a mutilação genital feminina, depois de as ter enganado ao dizer que iam ser vacinadas contra a covid-19. O médico envolvido também vai a julgamento.
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As autoridades egípcias ordenaram o julgamento imediato de um pai suspeito de ter forçado as três filhas menores a serem submetidas a mutilação genital feminina, depois de as ter enganado ao dizer que iam ser vacinadas contra a covid-19. O médico envolvido também vai a julgamento.
A denúncia foi feita pela mãe, que é divorciada do pai das crianças. A idade das menores não foi revelada. Contudo, a mãe disse que têm menos de 18 anos.
Segundo a acusação, o homem disse às filhas que iam receber a visita de um médico que as iria vacinar contra o coronavírus, apesar de não existir ainda qualquer vacina. As menores foram anestesiadas e submetidas à mutilação genital.
“Perderam a consciência e, quando acordaram, ficaram chocadas ao encontrarem as pernas unidas e uma sensação de dor nos genitais”, afirmou o procurador responsável pela acusação, citado pela BBC.
O Egipto baniu a mutilação genital feminina em 2008 e criminalizou-a em 2016. No entanto, este procedimento, que consiste na remoção, parcial ou total, da genitália feminina externa e que é feita para controlar o prazer sexual das mulheres, continua a ser prática habitual em vários países.
No Egipto, os médicos que submetam mulheres à mutilação genital podem ser punidos com penas de até sete anos de prisão, enquanto o pedido de mutilação, em si, é punido com uma pena de até três anos de cadeia. No entanto, até ao momento, ninguém foi julgado por este crime no país.
As organizações de defesa dos direitos humanos consideram que a lei não é eficaz, uma vez que quem sofre ou comete o crime raramente o denuncia e que grande parte da sociedade egípcia é permissiva em relação à mutilação genital feminina. Além disso, realçam que a mutilação continua a ser praticada clandestinamente, em clínicas privadas, por médicos e enfermeiros.
Os casos de mutilação genital feminina, normalmente, só são conhecidos quando mulheres ou crianças morrem. Foi o que aconteceu com Nada Hassan Abdel-Maqsoud, de 12 anos, que sangrou até à morte depois de o procedimento ter sido realizado por um médico reformado, sem qualquer anestesia. O médico foi detido, mas foi libertado dias depois, sem que haja data para o seu julgamento.
De acordo com um relatório feito pela Unicef em 2016, cerca de 87% das adolescentes e mulheres egípcias entre os 15 e os 49 anos e 14% das crianças com menos de 14 anos foram submetidas a mutilação genital feminina, uma prática que tem vindo a ser justificada no país por motivos religiosos e que pode causar traumas físicos e psicológicos, hemorragias, infecções crónicas, problemas menstruais e complicações na gravidez e no parto.