Enquanto a época balnear não abre, muitos são os surfistas que fazem salvamentos

Autoridade Marítima Nacional diz que só foram registados cinco “presumíveis afogamentos”, mas os nadadores e surfistas falam de um aumento deste tipo de acidentes em comparação com outros anos. A época balnear terá início este sábado, 6 de Junho.

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Tiago Lopes

Sebastião Furtado entrou no mar com os seus alunos, na praia de Leça da Palmeira, Matosinhos, porque as ondas estavam demasiado altas. Alertado por um aluno, o treinador e surfista de 28 anos, acudiu aos gritos de uma banhista com cerca de 13 anos, que já estava “junto à rebentação, sem pé, numa zona de forte corrente e a engolir muita água”. Foi o terceiro salvamento que fez este ano e o “Verão ainda não começou”, salvaguarda. “Os surfistas têm concretizado muitos salvamentos na Costa da Caparica este ano. Sem eles, garantidamente já teria morrido muita gente nesta zona”, declara Miguel Gomes, 51 anos, presidente da Associação de Surf da Costa da Caparica (ASCC), que admite que, este ano, “garantidamente já foram mais de 40” os salvamentos só naquela zona.

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Sebastião Furtado entrou no mar com os seus alunos, na praia de Leça da Palmeira, Matosinhos, porque as ondas estavam demasiado altas. Alertado por um aluno, o treinador e surfista de 28 anos, acudiu aos gritos de uma banhista com cerca de 13 anos, que já estava “junto à rebentação, sem pé, numa zona de forte corrente e a engolir muita água”. Foi o terceiro salvamento que fez este ano e o “Verão ainda não começou”, salvaguarda. “Os surfistas têm concretizado muitos salvamentos na Costa da Caparica este ano. Sem eles, garantidamente já teria morrido muita gente nesta zona”, declara Miguel Gomes, 51 anos, presidente da Associação de Surf da Costa da Caparica (ASCC), que admite que, este ano, “garantidamente já foram mais de 40” os salvamentos só naquela zona.

Segundo Fernando Pereira da Fonseca, comandante da Autoridade Marítima Nacional (AMN), desde o início do ano foram registados cinco “presumíveis afogamentos” em zonas que em anos anteriores eram consideradas balneares. O militar explica que são “supostos afogamentos” porque só a autópsia poderá dizer se esta foi de facto a causa da morte ou se a pessoa morreu em consequência de uma queda, ataque cardíaco ou ataque súbito — três tipos de ocorrência muito comuns em praias. “O resultado da morte de uma pessoa num espaço balnear só é confirmada depois da autópsia”, sublinha Pereira da Fonseca. “Quando um corpo aparece no mar ou numa praia temos que descobrir a causa da morte, pode não ser necessariamente afogamento”, esclarece.

Por seu lado, a Federação Portuguesa de Nadadores-Salvadores (Fepons), diz ao PÚBLICO que este ano registou um aumento do número de afogamentos: foram 48 desde Janeiro. O presidente da federação, Alexandre Tadeia, adianta que este valor pode vir a aumentar uma vez que a Fepons está ainda a confirmar seis acidentes em praias com os respectivos Comandos Distritais de Operações de Socorro. “Este número pode subir para 54”, refere. ​Em comparação com o mesmo período de 2019, e feitas as contas, foram registadas mais 17 situações.

“Existem mais registos antes de Maio, mas são referentes a outras causas e a zonas supostamente não balneares”, explica, por sua vez, o comandante Pereira da Fonseca, sublinhando que um possível aumento de afogamentos e salvamentos não pode ser directamente relacionado com a falta de meios de socorro porque muitos acidentes aconteceram em zonas não vigiadas e antes do começo da época balnear, que terá início este sábado, a 6 de Junho.

As datas foram publicadas em Diário da República esta quinta-feira e variam de norte a sul do país, mas sempre com a intenção de a encurtar. Na região norte, por exemplo, a época balnear deste ano vai de 27 de Junho a 30 de Agosto, quando no ano passado começou a 15 de Junho e terminou a 15 de Setembro.

Estudar os salvamentos por surfistas

“Não foi por se ter atrasado a época balnear que as pessoas não foram à praia”, constata Sebastião Furtado. Os dias de bom tempo levaram milhares de pessoas aos areais, o que reforça o papel dos surfistas no que toca ao salvamento dos banhistas. O treinador chega a ver “sete a oito salvamentos por parte de surfistas” só nos últimos dias. Com o atrasar do início da época balnear, as praias ficam como no resto do ano: “Vigiadas única a exclusivamente por nós, surfistas.”

“Embora haja registo dos milhares de salvamentos feitos pelos nadadores-salvadores durante as épocas balneares, não há registos quando os intervenientes são surfistas”, começa por dizer Joel de Oliveira, professor de Ciências do Desporto na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto. Por isso, quer estudá-los. 

Do seu programa de doutoramento faz parte um estudo promovido pelas universidades do Porto e de Vigo acerca dos salvamentos efectuados por surfistas ao longo dos anos em Portugal e Espanha. “Sabemos que são muitos, mas queremos chegar a um número para perceber o grau de importância e de quantas vidas se poderão poupar por causa da presença dos surfistas no mar”, revela Joel de Oliveira, que é surfista e foi nadador-salvador. “Todos os surfistas que conheço têm várias histórias de salvamentos que aumentam quantos mais anos de prática têm”, conta, revelando que também já passou por essa experiência.

As relações entre surfistas e nadadores-salvadores são de cooperação, “até porque a maior parte deles são surfistas ou ex-praticantes”, testemunha Miguel Gomes, da ASCC, que defende a profissionalização e a permanência dos nadadores-salvadores nas praias durante todo o ano, “como se faz na Austrália, Brasil e EUA”, o que “pouparia mortes como a que aconteceu estes dias” numa praia da zona. “Sobretudo para as praias mais concorridas da Costa da Caparica, ter sempre essa vigilância seria muito importante”, considera. Essa permanência dos nadadores-salvadores durante todo o ano nas praias, lembra Pereira da Fonseca, depende dos concessionários de praia e autarquias, as entidades responsáveis pelo pagamento dos salários.

Questionado pelo PÚBLICO sobre os custos dos salvamentos, o comandante responde que esses não são fáceis de calcular, uma vez que as respostas aos pedidos de socorro podem surgir da parte de entidades como a Polícia Marítima, capitanias locais, do INEM, entre outras.

Por isso, enquanto a época balnear não abre e os nadadores-salvadores não voltam às praias — com novas regras para cumprir por causa da covid-19 — os salvamentos continuarão por conta das testemunhas dos que se aventuram no mar em praias não vigiadas. No caso dos surfistas, o professor Joel de Oliveira defende que devem ter formação para tal. “O ideal seria que o Governo ou as entidades que regem o desporto conseguissem que todos os surfistas tivessem formação em suporte básico de vida”, conclui.