Trump tornou a América mais pequena
Trump age como se fosse um pirómano, irreversivelmente atraído pelo caos, para aplicar a sua dose de “lei e ordem”, que mais não é do que apertar o colete-de-forças a quem o contesta.
A polícia nos Estados Unidos está armada como se se tratasse de um exército e actua enquanto tal, longe de qualquer finalidade de segurança pública, tendo herdado das forças armadas tanto as sobras do armamento utilizado no Afeganistão ou no Iraque como uma permanente necessidade de beligerância. Pôr o Exército nas ruas, como pretende Donald Trump, só vai acentuar essa tensão, contra a vontade dos governadores, num gesto mais consentâneo com Xi Jiping do que de um presidente de uma potência ocidental.
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A polícia nos Estados Unidos está armada como se se tratasse de um exército e actua enquanto tal, longe de qualquer finalidade de segurança pública, tendo herdado das forças armadas tanto as sobras do armamento utilizado no Afeganistão ou no Iraque como uma permanente necessidade de beligerância. Pôr o Exército nas ruas, como pretende Donald Trump, só vai acentuar essa tensão, contra a vontade dos governadores, num gesto mais consentâneo com Xi Jiping do que de um presidente de uma potência ocidental.
Como sublinhava ontem o The New York Times em editorial, naquele país, o protesto é patriótico. Não é esse o entendimento da polícia. No mesmo artigo, referia-se o caso de um homem negro que, simbolicamente, colocou o joelho no chão, num protesto em Atlanta, e disse que todos os polícias eram seus irmãos. Outro homem de cor, numa manifestação em Kansas City, clamou entre os protestantes: “Se não tens coragem para proteger as ruas e proteger e servir como foste pago para fazer, entrega o teu maldito distintivo.” Ambos foram presos.
Nem os jornalistas escapam. Estes são não só alvo dos habituais ataques do Presidente, que os acusa de fomentarem o ódio e a anarquia, como também são objecto da violência policial e impedidos de cobrir jornalisticamente os protestos que se espalharam por mais de uma centena de cidades. Não é o que proclama a tão americana Primeira Emenda da Constituição. Hong Kong não terá chegado tão longe. Também vimos o contrário: polícias de joelho no chão e expressando compaixão, mas trata-se, infelizmente, de uma clara minoria.
Trump age como se fosse um pirómano, irreversivelmente atraído pelo caos, para aplicar a sua dose de lei e ordem, que mais não é do que apertar o colete-de-forças a quem o contesta, num contexto de crise impensável no seu início de mandato.
A poucos meses das eleições presidenciais, Trump falhou a gestão da crise da covid-19, que resultou em mais de 100 mil mortos e 40 milhões de desempregados, e não tem outra forma de responder à revolta provocada pela morte de George Floyd a não ser multiplicando os motivos da violência.
Se o Papa ou até George W. Bush fazem discursos de união, Trump jamais o fará. Até o Pentágono se opõe à ideia de mobilizar o Exército. O racismo nos EUA — a supremacia racial branca é omnipresente — sempre foi a causa maior das suas divisões históricas. A fractura está exposta e não será Trump quem a vai tapar.