Na Bielorrússia há algo de novo, um youtuber que põe Lukashenko em causa

Serguei Tikhanovski tornou-se muito popular e quer entrar nas presidenciais de 9 de Agosto. Presidente disse que não vai tolerar uma revolução e deteve mais de 100 opositores, incluindo o yotuber.

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Sergei Tikhanovski foi detido, mas conseguiu criar uma vontade de mudança nos bielorrussos Vasily Fedosenko/REUTERS

Imagina uma Bielorrússia diferente, ganhou mediatismo com o seu canal de YouTube e tornou-se uma ameaça para o Presidente Aleksandr Lukashenko ao anunciar a sua candidatura nas próximas eleições presidenciais, a 9 de Agosto. Serguei Tikhanovski foi detido a 29 de Maio para dificultar a sua campanha contra o comummente apelidado “último ditador da Europa”. Lukashenko, que quer cumprir um sexto mandato, já disse que não vai permitir uma revolução no país que há décadas governa com punho de ferro. 

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Imagina uma Bielorrússia diferente, ganhou mediatismo com o seu canal de YouTube e tornou-se uma ameaça para o Presidente Aleksandr Lukashenko ao anunciar a sua candidatura nas próximas eleições presidenciais, a 9 de Agosto. Serguei Tikhanovski foi detido a 29 de Maio para dificultar a sua campanha contra o comummente apelidado “último ditador da Europa”. Lukashenko, que quer cumprir um sexto mandato, já disse que não vai permitir uma revolução no país que há décadas governa com punho de ferro. 

“Tikhanovski é um fenómeno. É muito diferente dos oponentes estabelecidos. Não tem um roteiro positivo para a Bielorrússia, mas consegue unir a população, recrutando adeptos até no ex-eleitorado de Lukashenko, em torno de uma retórica simples: transformar o chefe de Estado no responsável pelos males da Bielorrússia”, disse ao Le Monde Artyom Shraibman, analista político. 

A oposição de Lukanshenko sempre teve uma enorme dificuldade em unir-se e estabelecer pontes com a população, especialmente com uma parte do eleitorado menos fiel ao Presidente. Mas Tikhanovski, através do seu canal, conseguiu nos últimos meses dar voz à população lendo cartas que lhe são dirigidas sobre problemas económicos, corrupção das elites, desemprego ou mentiras das autoridades. É, no fundo, visto como um homem do povo e, por isso uma ameaça populista ao Presidente que não hesita em usar a força para controlar o descontentamento – fê-lo em 2017, por exemplo. 

A pandemia de covid-19 veio dar ainda mais munições a Tikhanovski porque Lukashenko, que se apresenta como “pai dos bielorrussos”, desvalorizou a gravidade da pandemia – o país tem mais de 42 mil casos e 225 mortes – e usa os serviços secretos para vigiar quem usava máscara e mantinha distância social.

O mediático youtuber fez frente ao Governo e recusou-se a cumprir as ordens de confinamento, incitando os bielorrussos a seguirem-no. No início de Maio acabou detido. E voltou a ser detido no final de Maio, sem razão aparente, para o tentarem silenciar, diz o Le Monde

As detenções em prisões com condições atentatórias aos direitos humanos são uma táctica usada pelo regime para silenciar os opositores, mas, ao contrário do que Lukashenko esperava, Tikhanovski não se tem calado. Bem pelo contrário, ganha mais popularidade, instando à mudança. 

Está a correr uma recolha de assinaturas para que a sua mulher, Svetlana, se possa candidatar às presidenciais, concorrendo contra Lukashenko.

Mas dificilmente ele ou sua mulher terão hipóteses. “Serguei Tikhanovski ou a sua esposa não têm quase hipóteses de serem eleitos, mas o homem criou um movimento que promete atrapalhar a campanha”, disse ao jornal francês Iulia Shukanprofessora de Estudos Eslavos na Universidade Paris-Nanterre. 

Lukashenko recusa-se a debater e a ceder e, no fim-de-semana passado, voltou a usar a força, à qual se acostumou nas últimas décadas. Proibiu todos os protestos até às presidenciais e deteve quase 50 membros da oposição, quando estavam a protestar contra a detenção de Thikhanovski, disse a organização de direitos humanos Viasna.

Um dos detidos foi Mikola Statkevich, candidato presidencial nas eleições de 2010, condenado a seis anos de prisão por participação em protestos. Desta vez foi condenado a 15 dias de prisão pela mesma razão. O Parlamento Europeu emitiu uma condenação destas detenções.

“Nunca permitiremos que a situação no nosso país se destabilize”, disse Lukashenko, citado pela Deutsche Welle. “Não queremos nenhuma ‘revolução colorida'”, continuou, garantindo não haver nenhum Volodimir Zelensky na Bielorrússia. O chefe de Estado referia-se às várias revoluções na Ucrânia e ao comediante com grande mediatismo eleito Presidente no país vizinho. 

A Human Rights Watch denunciou que em Maio mais de 100 jornalistas, activistas e membros da oposição foram detidos pelas autoridades. “A nova onda de detenções arbitrárias na Bielorrússia é particularmente perturbadora à luz da pandemia de covid-19”, disse em comunicado Tania Lokshina, directora para a Europa e Ásia Central da Human Rights Watch. “As autoridades bielorrussas não devem prender pessoas por fazerem protestos pacíficos, e expô-las a um maior risco de uma infecção mortal é inaceitável”.