Estratégia para a covid pede reforço na prevenção e mais psicólogos no SNS
Fórum Nacional de Psicologia alerta para o surgimento ou agravamento de sintomas de ansiedade, de stress e de adição e propõe estratégia para dar resposta na era covid e ao período de desconfinamento.
“Vivemos um tempo sem precedentes”, alerta o Fórum Nacional de Psicologia, estrutura que junta as 31 instituições de ensino superior de psicologia e a Ordem dos Psicólogos, que elaborou uma estratégia para dar resposta na era covid e ao período de desconfinamento. No documento, alerta para o surgimento ou agravamento de sintomas de ansiedade, de stress e de adição e pede uma aposta na prevenção e mais psicólogos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
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“Vivemos um tempo sem precedentes”, alerta o Fórum Nacional de Psicologia, estrutura que junta as 31 instituições de ensino superior de psicologia e a Ordem dos Psicólogos, que elaborou uma estratégia para dar resposta na era covid e ao período de desconfinamento. No documento, alerta para o surgimento ou agravamento de sintomas de ansiedade, de stress e de adição e pede uma aposta na prevenção e mais psicólogos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Estamos a passar a fase em que as pessoas estão a desconfinar, em que pode parecer que o problema deixou de existir, mas daqui a algum tempo as pessoas vão aperceber-se que a pandemia não acabou e haverá a questão económica. Haverá ansiedade associada a isso e o receio de se poderem contagiar. A psicologia pode ajudar a encontrar respostas, até na perspectiva da prevenção”, diz Saúl Neves de Jesus, coordenador do Fórum Nacional de Psicologia. Como? “Tornar as pessoas mais resilientes para terem ferramentas para lidar com a situação. Do ponto de vista do SNS e das empresas é muito vantajoso. Não é uma despesa, é um investimento em treino de competências”, salienta.
A estratégia, agora tornada pública, deixa um alerta sobre os efeitos que o isolamento social poderá ter tido, citando um estudo sobre o impacto da covid na saúde mental em Portugal — submetido a uma revista internacional —, que recolheu dados de 10.519 portugueses adultos no início do estado de emergência. Segundo o qual, “quase metade (49.2%) reportou impacto psicológico moderado ou grave, variando os níveis de depressão, ansiedade e stress entre os 12% e os 30% da amostra”.
“O documento alerta para o que a situação representa em si, o isolamento social, o impacto que poderá ter. Ainda não foi feita nenhuma avaliação, mas a nossa percepção é que poderá ter aumentado a adição ao jogo, à internet, o consumo de álcool, situações de violência doméstica, sintomas depressivos. Mas também tentamos lançar o futuro, a questão dos grupos mais vulneráveis, como as pessoas com mais idade e os profissionais de saúde que tiveram muito expostos à infecção”, afirma o também vice-reitor da Universidade do Algarve.
Consequências duradouras
É “provável que as consequências para a saúde mental sejam mais duradouras e atinjam o seu pico após a pandemia ter sido ultrapassada, mantendo-se risco de depressão e de perturbação de stress pós-traumático naqueles que sobrevivem à doença”, diz a estratégia. Que dá um “destaque particular ao SNS, procurando uma perspectiva de prevenção e de tornar mais acessível a resposta aos mais vulneráveis, que não têm acesso a este tipo de serviço”, refere o coordenador do Fórum.
Além da acessibilidade a estratégias de diagnóstico precoce e do encaminhamento para respostas adequadas, o documento defende que deve ser garantido “o acesso atempado aos cuidados psicológicos a todos os cidadãos, seja qual for a sua condição social, económica e geográfica” e equidade na distribuição de recursos.
Diz ainda que deve ser criado “um modelo multinível de organização das respostas às necessidades de saúde mental/psicológica” que garanta que as situações de psicopatologia moderada e ligeira têm resposta adequada “através do reforço da capacidade de intervenção psicológica ao nível dos cuidados de saúde primários” e que deve haver um reforço na prevenção através de estratégias de promoção de estilos de vida saudáveis e de autocuidado também nos contextos laborais e escolares.
Para o Fórum, “o reforço com um número significativo de psicólogos no Serviço Nacional de Saúde será o caminho para prevenir o aumento, em número e em gravidade, dos problemas de saúde mental”. Mas lembra que nos cuidados de saúde primários “existem apenas cerca de 250 psicólogos” em todo o país.
Um número que o coordenador do Fórum diz ser “muito baixo”. “Um estudo anterior apontava para a necessidade de pelo menos o dobro de psicólogos. Agora, com a covid, será ainda mais necessário. As consultas de psicologia não podem ter cinco minutos. As situações têm de ter o acompanhamento devido, senão não resultam”, reforça Saúl Neves de Jesus.