Internet fraca dificulta vida a quem procurou Interior para teletrabalho
Os habitantes de Miranda do Douro, Bragança, vêem o teletrabalho como uma forma de ajudar a fixar gente no interior. Mas é preciso resolver os problemas com a Internet lenta.
Os efeitos de confinamento dos últimos meses e o teletrabalho levaram várias pessoas a trocar o litoral pelo Planalto Mirandês para aqui continuarem os seus projectos, mas as limitações da Internet podem levá-los a mudar de ideias.
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Os efeitos de confinamento dos últimos meses e o teletrabalho levaram várias pessoas a trocar o litoral pelo Planalto Mirandês para aqui continuarem os seus projectos, mas as limitações da Internet podem levá-los a mudar de ideias.
Paulo Fernandes, um engenheiro ligado ao ramo da nanotecnologia, trocou a Grande Lisboa para se instalar em Fonte da Aldeia, uma localidade do concelho de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, devido à pandemia provocada pela covid-19.
Aquele profissional disse à Lusa que a pouca velocidade oferecida pela Internet que é distribuída por vários operadores, “dificulta o trabalho a quem quer instalar-se neste território do interior”.
“Tinha a minha vida organizada em Lisboa, mas com o aparecimento e agravamento da pandemia provocada pelo novo coronavírus resolvi instalar-me em Fonte da Aldeia, onde me sinto seguro para viver e para desenvolver a minha actividade em teletrabalho. Mas fui-me deparando com muitas dificuldades em desenvolver o meu trabalho devido à fraca qualidade da Internet”, indicou Paulo Fernandes.
Várias pessoas que se mudaram para este território ou aqui já desenvolviam a sua actividade garantem que este um problema fácil de resolver e que só é preciso “um pouco de vontade e disponibilidade” por parte de quem administra as redes, já que a menos de um quilometro daquela aldeia “há pontos de ligação à fibra ótica”.
“A rede de fibra ótica está instalada ao longo do Itinerário Complementar (IC5), que passa a cerca de 500 metros da localidade, pelo que penso que seria fácil resolver o problema”, vincou o residente.
Paulo Fernandes admite que se o problema não for resolvido terá que regressar a Lisboa, acrescentando que há mais pessoas que estão em iguais circunstâncias e que o teletrabalho seria uma forma de ajudar a fixar gente no interior.
Na rede de Internet via ADSL as operadores prometem 20 megabits. Na realidade, o que recebemos é um megabit. Demorei o um dia para fazer um “upload” de trabalho de que necessitava com urgência”, contou à Lusa.
Os habitantes de Fonte da Aldeia já se mobilizaram, manifestando o seu descontentamento às operadoras de telecomunicações e dando conta do problema, igualmente, ao município de Miranda do Douro.
Pedro Luís, estudante no Instituto Superior de Engenharia do Porto, garante que veio para Fonte de Aldeia para poder estudar e desenvolver projectos durante este período pandémico, sendo impossível trabalhar muito mais agora que há mais pessoas na aldeia ligadas à Internet.
Estes problemas têm-se agravado nos últimos meses, altura em que mais necessitámos de recorrer à Internet, para poder continuar os estudos. Caso não haja melhorias, terei de regressar e ficar pelo Porto”, vincou.
Por seu lado, Paulo Meirinhos, um músico e professor de música, avançou que neste tempo de confinamento em que grande parte das actividades culturais e de ensino estão a ser feitas através das novas tecnologias, a população de Fonte de Aldeia e das aldeias vizinhas está privada deste serviço, quando a rede de fibra ótica passa tão perto.
Um grupo de habitantes de Fonte Aldeia lembrou, numa declaração escrita à Lusa, que em grande parte do território nacional a fibra ótica já é uma realidade o que permite, ter uma velocidade similar à que existe nos grandes centros urbanos.
Em declarações à Lusa, o presidente de Miranda do Douro, Artur Nunes, admitiu que há algum tempo que se fizeram diligências junto do Governo, ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicações no sentido de se resolver este problema que existe um pouco por todo o concelho.
Sabemos que é um problema que existe, mas até momento ainda não obtivemos quaisquer respostas. Continuamos a insistir”, disse o autarca trasmontano.