Strefa Wolna Od Demokracji

O silêncio da Europa perante o que se está a passar na Polónia é criminoso, quando há um Estado-membro a violar nitidamente os direitos da comunidade LGBT.

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Cânticos homofóbicos, tiros, bandeiras LGBT queimadas, pisadas, rasgadas, cuspidas e várias tentativas de agressão física contra activistas. Com uma enumeração descontextualizada como esta, talvez a nossa mente remeta este fenómeno para bem longe do nosso país ou, até, para fora da União Europeia, mas desenganemo-la. Apresento-vos a Polónia.

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Cânticos homofóbicos, tiros, bandeiras LGBT queimadas, pisadas, rasgadas, cuspidas e várias tentativas de agressão física contra activistas. Com uma enumeração descontextualizada como esta, talvez a nossa mente remeta este fenómeno para bem longe do nosso país ou, até, para fora da União Europeia, mas desenganemo-la. Apresento-vos a Polónia.

Isto aconteceu há poucos dias, resultado de um ajuntamento da extrema-direita, apoiante do partido do Governo – Lei e Justiça –, enquanto erguiam bandeiras fascistas e incutiam o medo sobre a comunidade LGBT e contra os seus apoiantes, que mais não fizeram devido à corrente policial que os impedia.

Os olhares mais atentos viram o caminho ser aberto para este tipo de manifestações antidemocráticas e de ódio para com minorias sexuais. Não é surpreendente vindo de um país que se habituou a processar jornalistas que pudessem ser considerados uma ameaça ao poder e que, em três anos, caiu quarenta posições no Índice Global de Liberdade de Imprensa por ser um instrumento de propaganda nacionalista do Governo.

Em Julho de 2019, o jornal Gazeta Polska distribuiu autocolantes com uma cruz preta por cima da bandeira LGBT, com as palavras “Strefa Wolna Od LGBT” (Zona livre de LGBT), uma ideia inspirada nos fascistas alemães que criaram uma zona livre de judeus. Mereceu a condenação por parte do Parlamento Europeu e de outras figuras políticas, mas não chegou. No mesmo ano, em Setembro, uma Marcha do Orgulho, em Bialystok, foi violentamente atacada por um motim de nacionalistas e católicos. Ameaças de morte, apedrejamento, pontapés, garrafas com urina atiradas e vários insultos, tudo em nome da família tradicional polaca que, segundo querem fazer crer, está a ser atacada pela “ideologia perigosa” LGBT.

À imprensa politicamente enviesada e à violência barata, juntou-se a influência poderosíssima da Igreja Católica polaca que, revendo-se nas políticas protofascistas do Governo, tem cultivado na população o sentimento negativo por esta comunidade com base em desinformação, descrevendo-a como a “praga arco-íris” e reforçando a campanha anti-homossexual do Governo.

As imagens assustadoras que nos chegam são da Polónia, mas não estamos livres de vir a enfrentar o mesmo problema. Com a eleição de um partido de extrema-direita pela primeira vez em quase meia década de democracia, a extrema-direita, que até agora se concentrava em partidos nacionalistas com uma quantidade de votos insignificantes e em movimentos neonazis, viu um porto de abrigo onde se pôde agora infiltrar.

André Ventura é também a voz da comunidade cristã e católica que sangra ódio pela comunidade LGBT sob a farsa de uma luta contra uma alegada “ideologia de género”. O deputado do Chega é a voz de quem usa as minorias como um bode expiatório para os problemas da sociedade e é o silêncio de quem consente e se cala perante as atrocidades cometidas contra essas mesmas pessoas. E, para não bastar, Ventura é a voz contra a imprensa portuguesa independente.

O silêncio da Europa perante o que se está a passar na Polónia é criminoso, quando há um Estado-membro a violar nitidamente os direitos da comunidade LGBT. É um dever nosso ser a voz de quem não a tem naquele país, mas não nos esqueçamos da fragilidade da nossa democracia e de que tudo o que construímos em décadas pode ser destruído num abrir e fechar de olhos. Que nunca sejamos uma Zona Livre de Democracia.