Rua de S. Paulo ficou sem estacionamento para ter mais esplanadas, mas não para todos
Obras apanharam moradores e comerciantes de surpresa. Nem todos os restaurantes podem criar esplanadas porque o projecto lhes pôs lugares para motas à frente. Câmara diz-se disposta a fazer ajustes.
Cerca de 30 lugares de estacionamento automóvel foram eliminados na Rua de São Paulo para garantir mais área pedonal e incentivar a criação de esplanadas em tempo de desconfinamento, mas alguns comerciantes queixam-se de que a Câmara de Lisboa pôs lugares para motas e bicicletas em frente aos restaurantes, impedindo o surgimento das esplanadas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Cerca de 30 lugares de estacionamento automóvel foram eliminados na Rua de São Paulo para garantir mais área pedonal e incentivar a criação de esplanadas em tempo de desconfinamento, mas alguns comerciantes queixam-se de que a Câmara de Lisboa pôs lugares para motas e bicicletas em frente aos restaurantes, impedindo o surgimento das esplanadas.
A obra começou há duas semanas e estende-se desde São Paulo até ao Conde Barão, sendo responsabilidade da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL). No troço entre a Praça de São Paulo e o ascensor da Bica, todos os lugares de estacionamento foram suprimidos com a colocação de pilaretes junto à estrada.
Num comunicado enviado às redacções na semana passada, a EMEL diz que a empreitada “irá melhorar a mobilidade pedonal e permitir a criação de esplanadas, promovendo a recuperação do comércio local no período de desconfinamento, e garantindo o regresso gradual e em segurança à normalidade do dia-a-dia.”
Só que vários empresários com bares e restaurantes no local aperceberam-se entretanto de que o projecto lhes pôs os lugares para motas e bicicletas em frente à porta, o que os impede de criar as desejadas esplanadas. “Em vez de ajudar, isto vem piorar”, resume António Vicente, gerente do restaurante Arco da Velha. Em seis anos de existência, o estabelecimento nunca pôde ter esplanada porque o passeio é muito estreito, pelo que a eliminação do lugar para carros podia ser benéfica para o negócio. “Tenho em frente a mim um lugar para motas. Aqui na rua somos seis que não vamos poder ter esplanadas”, assegura.
A EMEL andou nas últimas semanas a distribuir panfletos nos quais informa que a zona “irá ser intervencionada” – mas não especifica como e o comunicado de imprensa também não. Questionada pelo PÚBLICO, a empresa municipal remeteu esclarecimentos para a Câmara de Lisboa. Uma fonte da vereação da Mobilidade admitiu que pode haver restaurantes afectados. “Estamos disponíveis para, se for caso disso, estudar localizações alternativas para os lugares de motas”, disse.
Entre moradores e comerciantes, que se queixam de falta de informação, correu já um abaixo-assinado para pedir rectificações ao projecto. “Quem o fez não teve sequer a consideração de vir à rua falar com os estabelecimentos de restauração e bebidas”, queixa-se António Vicente. “Só vimos a obra acontecer.” Também Luís Paisana, dirigente da Associação de Moradores da Freguesia da Misericórdia, diz nada saber sobre a empreitada e que ninguém lhes pediu parecer.
O PÚBLICO procurou ao longo desta segunda-feira obter esclarecimentos da presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira, mas tal não foi possível.
De acordo com a EMEL, está prevista a criação de 18 lugares de estacionamento automóvel para moradores nas imediações da Praça e da Rua de São Paulo, além de 20 lugares para motas e 26 para bicicletas em toda a extensão da obra. Com o fim do estacionamento na Rua de São Paulo, consegue-se ainda acabar com um ponto negro da operação da Carris, cujos eléctricos se viam frequentemente obrigados a parar por causa de carros mal estacionados.
Com o desconfinamento em marcha, a câmara prepara-se para intervir no espaço público de vários locais da cidade de modo a criar mais espaço pedonal e permitir o alargamento de esplanadas, que agora podem ocupar gratuitamente os lugares de estacionamento. Estão também a decorrer trabalhos de expansão da rede de ciclovias.