Luís Filipe Vieira garante continuidade de Bruno Lage se falhar o título
Presidente do Benfica defende que a OPA sobre a SAD foi “transparente” e que recebeu uma proposta de 60 milhões por Carlos Vinícius.
A ambição neste final de temporada, as consequências da pandemia de covid-19, as ofertas do mercado, a OPA falhada sobre a SAD, a relação com Pedro Proença. Numa longa entrevista à BTV, Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, passou vários temas em revista e garantiu a continuidade de Bruno Lage à frente da equipa técnica mesmo que falhe a conquista do campeonato.
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A ambição neste final de temporada, as consequências da pandemia de covid-19, as ofertas do mercado, a OPA falhada sobre a SAD, a relação com Pedro Proença. Numa longa entrevista à BTV, Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, passou vários temas em revista e garantiu a continuidade de Bruno Lage à frente da equipa técnica mesmo que falhe a conquista do campeonato.
A dois dias da retoma da I Liga, Vieira reconheceu que paragem forçada até “fez bem” à equipa, do ponto de vista desportivo, e que a confiança no título é total, com 10 jornadas para o final da prova. Sem conseguir explicar o apagão da equipa no mês de Fevereiro, que a deixou um ponto atrás do FC Porto, a única certeza que tem é de que não aconteceu por falta de empenho ou ambição dos atletas.
“O Bruno Lage fez um trabalho fantástico na última época, contra todas as perspectivas. Este ano, começámos muito bem, mas tivemos um percalço sério e perdemos sete pontos. Estou satisfeito com o trabalho que tem feito no Benfica. Compreendo os adeptos, mas eu não posso reagir a quente. É o treinador ideal para o projecto que temos. Vai continuar, independentemente de ser ou não campeão”, assumiu.
Sem poder gerar a pés juntos, à semelhança do que já tinha dito noutras ocasiões, que Jorge Jesus não voltará um dia a treinar as “águias”, o dirigente deixou claro que este não é o momento. Tal como não é o momento de fazer regressar um jogador como David Luiz, que no Arsenal tem um salário “impensável” para a realidade portuguesa.
Covid-19 obriga a gestão de curto prazo
Durante a paragem competitiva, decretada a meio de Março, o Benfica manteve os salários dos jogadores e funcionários, por uma questão de princípio e porque, sublinha Vieira, faz questão de ser um clube cumpridor. Mas a almofada financeira de que os “encarnados” têm disposto corre o risco de desaparecer em breve, se os efeitos da pandemia se agravarem.
É neste clima de incerteza que Luís Filipe Vieira fala na necessidade de gerir “dia a dia”. “Neste momento, não podemos planear a um ou dois anos. Temos de gerir o momento”, sustentou, sem colocar de parte a possibilidade de o Benfica ter de vir a financiar-se para fazer face aos compromissos - neste particular, não exclui o cenário de “um ou dois” empréstimos obrigacionistas.
“Se for preciso, se chegar a esse ponto, podem ir os anéis, mas garanto que ficam os dedos”, ilustrou, deixando claro que o plantel do Benfica é, em termos contabilísticos, um activo valorizado muito por baixo. E adiantou, a propósito, que em Janeiro chegou a receber uma proposta de 60 milhões de euros pelo avançado Carlos Vinícius, que foi contratado por 17. Por que razão recusou? Porque ficava bastante abaixo da cláusula de rescisão de 100 milhões.
OPA “sempre foi transparente"
Sem saber até que ponto os principais parceiros financeiros do clube poderão ser afectados pela pandemia, Luís Filipe Vieira abordou o tema da Oferta Pública de Aquisição (OPA) do clube sobre a SAD, entretanto chumbada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), para reforçar o que descreve como “visão empresarial para o Benfica”.
“Aquela era a altura ideal face ao valor que tínhamos em caixa. A OPA foi chumbada por uma questão técnica, que eu não sou especialista nisso, os nossos juristas é que podem explicar”, limitou-se a afirmar, insistindo na ideia de que o clube “sempre foi transparente” ao longo do processo e que nunca falou sobre a operação com António dos Santos, empresário que poderia beneficIar fortemente desse investimento.
“Sou amigo dele há mais de 30 anos, nunca falámos sobre acções, sobre o investimento que ele fez aqui, nunca falámos sobre a OPA, nunca nos poderão acusar de conflito de interesses”, reforçou, reforçando a vontade de o clube vir a deter “95% ou 97%” da SAD. Uma estratégia que, no entender de Vieira, permitirá negociar uma posição accionista com sponsors de peso (a expressão que usou foi “dois ou três baluartes"), à semelhança do que já acontece, por exemplo, com o Bayern Munique.
"Indignado” com Pedro Proença
A saída do Benfica da direcção da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) também mereceu uma explicação da parte do presidente do clube, que assumiu não poder aceitar que Pedro Proença, líder do organismo, tivesse escrito uma carta ao Presidente da República a solicitar uma intervenção junto dos operadores no sentido de negociar a emissão dos jogos em falta em canal aberto.
“Eu fiquei indignado, porque ninguém pode falar de direitos que são nossos, em nosso nome, sem darmos autorização para isso. Não gosto da palavra traição, é muito forte, mas acho que nunca o devia ter feito”, comentou, argumentando que se limitou a ser frontal nas críticas que dirigiu a Pedro Proença, em sede reunião da LPFP, e que mantém uma boa relação com o ex-árbitro. “Se houve alguém que o apoiou durante muito tempo fui eu”.
“Tinha de sair [da Liga] até para mostrar aos operadores que não estávamos coniventes. O Benfica saiu e não tem agora de opinar em lado nenhum. Saio de consciência tranquila”, rematou.
Cortes nas modalidades
O abalo financeiro provocado no desporto vai ter, isso é certo, consequências directas nos orçamentos das modalidades para a próxima temporada e a verdade é que já foram vários os jogadores a abandonar o clube no hóquei em patins, no andebol ou no hóquei em patins.
Ainda assim, o presidente do Benfica acredita que vai ser possível manter a mesma competitividade na próxima época, “embora com menos dinheiro”. A excepção, reconhece, deverá ser o andebol, por força da “superequipa do FC Porto”, mas nesta modalidade a ideia é reestruturar - e o processo já começou, com a troca de treinador (Carlos Resende saiu, entrou o espanhol Chema Rodríguez).
“Isto é simples, não se pode gastar o que não se tem. Quem está à frente das modalidades tem a obrigação de fazer bons plantéis, bastante competitivos e para ganhar. Ninguém se pode queixar de não ter equipa para competir com quem quer que seja”, repisou, deixando a garantia de que não acabará com nenhuma modalidade, masculina ou feminina.