Mesmo sem santos populares, eis as sardinhas que escaparam ao confinamento
A anual pescaria artística das sardinhas dos santos populares já tem as suas sete vencedoras. Há quatro portuguesas e três que chegam das águas internacionais da Turquia, Itália e Canadá, sem esquecer os turbulentos tempos por que passamos.
Será difícil imaginar Lisboa sem os seus santos populares, arraiais, bancas de sardinha e de cerveja, sem enfeites pelas ruas e música sempre a tocar nos bairros da capital. Este ano será assim, por conta da pandemia, mas parte da tradição alfacinha lá seguiu apesar da quarentena: estão escolhidas as sete sardinhas vencedoras da pescaria artística anual, que marca o arranque das Festas de Lisboa.
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Será difícil imaginar Lisboa sem os seus santos populares, arraiais, bancas de sardinha e de cerveja, sem enfeites pelas ruas e música sempre a tocar nos bairros da capital. Este ano será assim, por conta da pandemia, mas parte da tradição alfacinha lá seguiu apesar da quarentena: estão escolhidas as sete sardinhas vencedoras da pescaria artística anual, que marca o arranque das Festas de Lisboa.
E não há como fugir à realidade dos últimos meses. Dois vizinhos à janela, esse local de refúgio e de esperança, “no qual nos podemos confortar uns aos outros dizendo ao vizinho através da varanda da nossa casa a seguinte frase: ‘Vai ficar tudo bem!'”. “Estamos Juntos” é o retrato de Susana Carvalho, do Catujal, e um dos vencedores do 10.º Concurso Sardinhas Festas de Lisboa.
Directamente do Porto, onde também não se festejará a sempre longa noite de S. João, a ilustradora Amalteia mostra como se pode festejar “Em Casa”. “Este ano, a festa faz-se em casa, há pão, vinho e muita cantoria à janela!”, resume a autora.
Das festas populares ao quotidiano e às incessantes esperas em qualquer serviço, a sardinha toma assim a forma de senha. “O conceito desta sardinha é baseado no presente, particularmente no consumo e no tempo de espera. Um pedaço de papel tão icónico e insignificante que passa pelas mãos de todos nós nos dias de hoje”, descreve a ilustradora Maraca (Jullyvrose), de Fátima.
Os vencedores deste ano chegam também de águas internacionais. Muhammet Akyıldız, de Istambul, na Turquia, deu a um alfinete a forma de sardinha. “É usado para manter unidas duas ou mais partes. Tal como o alfinete, as Festas também mantêm as pessoas juntas”, diz o autor. Chamou a esta representação “Keep Together” — Ficar juntos. “Espero que este peixe bonito se torne um símbolo de paz e felicidade, mantendo o mundo unido no futuro.”
De Turim, em Itália, Irene & Irene puseram um pescador a ser “pescado” pela sardinha, numa homenagem a “um dos ofícios tradicionais portugueses”. A ilustração mostra o descanso do pescador na calmaria do pôr-do-sol.
A sardinha de Boris Biberdzic, de Montreal, no Canadá, condensa muitos dos problemas que o mundo enfrenta actualmente: da poluição dos mares, com a sardinha feita de luvas de plástico, à covid-19 e às luvas descartadas que encontramos a cada passo. Mas as mãos que preenchem a sardinha significam também a “cooperação entre países e a mobilização dos profissionais de saúde, trabalhando juntos nestes tempos de crise.
A “coerência gráfica e plástica”, aliada à “originalidade, legibilidade e qualidades técnica e estética” ditaram a escolha das vencedoras pelo júri deste ano, composto pelo artista plástico Ricardo Ramos (que assina como Xico Gaivota e tem desenvolvido obras com lixo recolhido nas praias), pela radialista e apresentadora de televisão Inês Lopes Gonçalves, pelo escritor, realizador, ilustrador e músico Afonso Cruz e pelo designer Jorge Silva (o “Pai da Sardinha”), diz a EGEAC, em comunicado.
Mas nesta décima edição houve ainda honrosas sardinhas que, não figurando entre as vencedoras, mereceram a distinção do público uma votação online. São elas a de Ana Leite, de Felgueiras, que é uma homenagem à fadista Amália Rodrigues, a de Dai Morales Loire, de Lisboa, que pôs os vizinhos, a dançar, cozinhar as suas sardinhas e a conversar de janela em janela, nestas festas de 2020 que, segundo o autor, serão lembradas como “Santos Quarentales”. E ainda a da dupla Fil Oliveira e Miguel Madeira, de Braga, que é uma homenagem aos “nossos heróis” da pandemia: “Os que amparam as nossas casas, que nos protegem, com um abraço invisível, de um inimigo comum, e que de cabeça erguida enfrentam os nossos maiores medos. A eles, uma sentida homenagem e um agradecimento do tamanho da esperança com que alimentamos o reencontro.”
A melhor da Turma da Sardinha foi para a “Sardinha SMILE” do aluno do 5.º ano, Manuel Santos Sousa Ramalhete, da E.B. 2/3 Professor Paula Nogueira, em Olhão. É uma “sardinha azul e brilhante acabada de sair do Oceano Atlântico, as suas belas escamas azuis são compostas por pequenos homenzinhos ‘Smile'”. Para deixar uma mensagem de que “juntos serão mais fortes e tudo ficará mais sorridente”.
As menções honrosas foram para as sardinhas idealizadas por alunos do Colégio da Bafureira, na Parede, e da Escola Básica de Vendas Novas n.º 1.
Os vencedores receberão um prémio no valor de 1500 euros. Segundo diz a EGEAC, foram apresentadas nesta décima edição do concurso 3639 propostas de sardinhas — mais 1686 do que no ano passado —, provenientes de 53 países. À Turma da Sardinha candidataram-se 672 propostas de escolas de todo o país.