“Vamos caminhar!” Quando a polícia dá as mãos e se ajoelha com os manifestantes
O escalar de violência nos protestos na sequência da morte de George Floyd, asfixiado por um agente, espalha-se pela América. Mas há exemplos que tentam contaminar os manifestantes de esperança.
As imagens dos confrontos entre as autoridades e os que clamam por justiça para a morte de George Floyd e contra um sistema intrinsecamente racista têm corrido mundo. Mas, em algumas localidades americanas, agentes da polícia começaram a juntar-se aos protestos — e o efeito parece ter contagiado a atitude de outros polícias.
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As imagens dos confrontos entre as autoridades e os que clamam por justiça para a morte de George Floyd e contra um sistema intrinsecamente racista têm corrido mundo. Mas, em algumas localidades americanas, agentes da polícia começaram a juntar-se aos protestos — e o efeito parece ter contagiado a atitude de outros polícias.
Em Flint, no estado do Michigan, a pouco mais de cem quilómetros da problemática Detroit (onde os protestos já resultaram em pelo menos um morto), o xerife Chris Swanson optou, no sábado, por uma abordagem diferente daquela que tem sido defendida pela Casa Branca, com o Presidente Donald Trump a acusar as manifestações de serem organizadas por grupos anarquistas e de extrema-esquerda e a mandar a Guarda Nacional avançar sobre os manifestantes.
Em vez de investir contra quem gritava palavras de ordem, Swanson retirou o seu capacete de protecção e poisou o seu bastão, perguntando à multidão: “O que querem que façamos?” A resposta fez-se ouvir: “Caminhe connosco!” E, no vídeo que registou o momento, o xerife parece não ter sequer pensado duas vezes: “Quero que isto seja uma parada, não um protesto. Vamos caminhar!”
A opção deste xerife — que, mais tarde, em declarações à Global News, considerou que os americanos estão “num ponto de ebulição de frustração” com a polícia, considerando o estado de espírito “compreensível” — acabaria por transformar o ambiente, segundo o próprio: a raiva e a hostilidade dissiparam-se, dando lugar a sentimentos de união. “Tudo o que [os manifestantes] estão a pedir é para que todos possam ter voz e dignidade, independentemente de quem se é.”
Juntos, de joelho no chão
Na soalheira Califórnia, os protestos tornaram-se virais quando a multidão se ajoelhou na Pacific Avenue, na cidade de Santa Cruz, numa homenagem à memória de George Floyd e contra a violência policial exercida sobre a comunidade negra. Mais ainda quando a polícia se juntou ao protesto, no sábado de manhã.
O chefe da polícia de Santa Cruz, Andy Mills, reagiu ao assassinato de George Floyd descrevendo-o como “horrível e nojento”. Por isso, tratou de esclarecer que as autoridades sob a sua chefia iriam fazer de tudo para “garantir a protecção dos direitos da Primeira Emenda para quem quiser protestar a favor da acusação ou contra as acções dos agentes da polícia de Mineápolis”.
Mas o chefe Mills acabou por fazer mais do que isso. E quando a multidão se ajoelhou, o polícia fez o mesmo. Mais tarde, na sua conta pessoal no Twitter, escreveu como legenda a uma imagem captada por si dos protestos: “Uma pequena parte de um protesto muito pacífico. Vidas Negras Importam.” Já no domingo, publicou uma declaração assinada por si defendendo que “quando o agente Derek Chauvin pôs o seu joelho sobre o pescoço de George Floyd, matou o sr. Floyd e deu um passo para destruir a profissão”.
Também em Nova Iorque, no bairro de Queens, agentes das forças de segurança da cidade colocaram o joelho no chão com os manifestantes, num protesto que decorreu, no domingo, de forma pacífica — e que contava com a organização de uma igreja local. A atitude mereceu agradecimentos por parte da população, que se revelou emocionada durante a manifestação.
Enquanto isso, no estado vizinho de New Jersey, o chefe da polícia da cidade de Camden, Joseph Wisocky, e outros agentes da cidade juntaram-se aos manifestantes e ajudaram a transportar uma faixa onde se lia “Sem justiça, não há paz”.
“Rezo para que nunca tenhamos de assistir a uma morte tão insensata”, disse Wisocky, citado pelo jornal Courrier Post, durante uma declaração à porta do departamento, que juntou ainda membros da comunidade religiosa e política.
Outra imagem que se tornou viral foi a de um polícia, junto a uma esquadra em Fargo, no Dacota do Norte, a ajudar vários manifestantes a segurar um cartaz onde se lia “Uma raça, a raça humana”. Já no Michigan, no condado de Genesee, o discurso do ajudante de xerife, o negro Deon Smith, acabou por inspirar os que protestavam contra a violência policial. “Como agente negro fiquei enojado com o que vi naquele dia [da morte de George Floyd]. Como agente, ponto!, fiquei enojado.”