Em Dia Mundial da Criança, ler ainda é a actividade menos preferida dos mais novos
A maioria dos inquiridos considerou a leitura como uma ferramenta para “esquecer a pandemia”.
A leitura é a actividade que reúne menos preferência entre as crianças em casa, quer sejam leitores autónomos ou não. Esta é uma das conclusões de um estudo nacional, realizado em parceria entre a Leya Educação e o Clube de Leytura, para “apurar o que mudou nos hábitos de leitura durante o período de confinamento das famílias portuguesas”.
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A leitura é a actividade que reúne menos preferência entre as crianças em casa, quer sejam leitores autónomos ou não. Esta é uma das conclusões de um estudo nacional, realizado em parceria entre a Leya Educação e o Clube de Leytura, para “apurar o que mudou nos hábitos de leitura durante o período de confinamento das famílias portuguesas”.
Segundo o inquérito, realizado online ao longo das últimas semanas, durante o período de confinamento, a 2480 encarregados de educação, a maioria dos inquiridos (59%) revelou ter passado a ler mais aos seus filhos não autónomos, com 55% a considerarem que o período de isolamento “libertou mais tempo para que pudessem ler para os seus filhos”.
Semelhante realidade foi observada entre as crianças, com autonomia na leitura: “61% dos inquiridos referem que a leitura passou a ser mais frequente desde que estão em casa, em período de confinamento”. O facto foi explicado por vários encarregados de educação como resultado de “as crianças poderem acordar mais tarde”, já que é ao fim do dia ou antes de dormir que a maioria tem o hábito de ler. Além disso, foi explicado que, com “uma carga lectiva menor”, havia “mais tempo para a leitura”.
Já a função da leitura terá sido terapêutica durante este período, já que uma larga fatia de quem respondeu ao questionário (mais de 80%) considerou que esta serviu também para “esquecer a pandemia”.
Ouvir para depois ler
Mais de 83% dos pais com leitores não autónomos têm o hábito de ler para as crianças — a grande maioria desde o nascimento, 20% a partir dos 4 anos e 8% diz ter começado quando a criança iniciou o processo de escolarização, aos 6 anos. E, isso, conclui este estudo, contribui para fomentar o gosto pela actividade — entre quem respondeu com filhos autónomos, 87% afirmaram ter tido o hábito de ler para os seus filhos em mais pequenos.
E, ao contrário do que poderia ser expectável, a autonomia na leitura fê-los passar a ler mais, atestam 70% dos pais. Apenas o género de leitura muda — enquanto os pais afirmam ter o hábito de ler para os mais pequenos sobretudo livros de fantasia (27,7%) e de actividades (23,9%), as crianças com autonomia na leitura revelam preferência pelos livros de aventuras/suspense (33,3%), ainda que se mantenham fiéis aos de actividades (28,1%).
A regularidade da leitura nas crianças autónomas é consistente, com 74% a referirem que os filhos lêem todos os dias ou entre duas e três vezes por semana, mas quase 85% confessa que “gostaria que o filho lesse mais”. Até porque, 99% dos pais consideram que “a leitura pode melhorar o desempenho escolar”.
As formas de conseguir que os pequenos dediquem mais tempo aos livros são, porém, várias: a começar por terem menos acesso a tecnologia (tablets, jogos, telemóvel, redes sociais) e mais tempo. Outras respostas incluíram “ter mais livros em casa, terem menos trabalhos de casa, os livros serem mais cativantes e sedutores para os leitores e o preço mais acessível”.
O custo dos livros infantis volta a ser referido para justificar os fracos hábitos de compra: 31% dos inquiridos compram livros de três em três meses; 19%, duas vezes por ano; e 12% apenas uma vez ao ano. No entanto, quase 85% dos inquiridos referem que comprariam mais se os livros fossem mais baratos. “O preço é sempre um factor de peso nos hábitos e comportamentos de compra e os livros não são excepção”, conclui o estudo da Leya.
Paralelamente, os encarregados de educação questionados, apesar de não referirem dificuldade na hora de escolher um livro infantil, expressam claramente (71%) que “os seus filhos leriam mais caso especialistas seleccionassem livros adequados”, reconhecendo “a importância de ter alguém com maior conhecimento do mundo literário como forma de reforçar os hábitos de leitura”.
Ler é cumplicidade
Quase 88% dos pais de leitores não autónomos consideram que “a leitura é uma actividade que une a família” e, apesar de reconhecerem nela uma forma para que os filhos “desenvolvam a linguagem, a capacidade de imaginação e a abstracção” (46%) e também “o gosto pela leitura” (26%), há uma fatia (18%) que considera o momento em que lê para os filhos como um de “cumplicidade”, entre adultos e os mais novos.
De acordo com as famílias que têm ao seu encargo leitores não autónomos, os livros podem ser uma realidade quotidiana (43%) ou regular, com a leitura a realizar-se entre três vezes por semana (30%) ou apenas uma (15%).
Mas também quem tem filhos que já não precisam de apoio a ler considera a leitura uma actividade de união familiar (mais de 80%). Além disso, praticamente todos os inquiridos (99,3%) julgam “importante incentivar a leitura dos mais novos” por estar associada à sabedoria e à aprendizagem, mas também “porque vai ajudar profissionalmente” e “alargar horizontes”.