Floyd, Trump, Biden
Os tweets de Trump e a voz de Biden mostram o pouco que mudou a América.
George Floyd, um homem negro de 46 anos, foi morto na segunda-feira por um polícia na América. “Não consigo respirar”, foram as suas últimas palavras. Um vídeo mostra toda a violência da polícia – um cartaz usado nestes dias de manifestações em Minnesota explica tudo: “O racismo não aumentou. Agora é filmado.”
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George Floyd, um homem negro de 46 anos, foi morto na segunda-feira por um polícia na América. “Não consigo respirar”, foram as suas últimas palavras. Um vídeo mostra toda a violência da polícia – um cartaz usado nestes dias de manifestações em Minnesota explica tudo: “O racismo não aumentou. Agora é filmado.”
É difícil dizer que o racismo na América aumentou com Trump porque ele sempre lá esteve, mesmo quando elegeu o primeiro presidente negro da sua história, Barack Obama, por muito que a maioria de nós visse ali um sinal de esperança. Floyd junta-se ao rol de vítimas da polícia americana que raramente sai condenada nestes casos – o agente que matou Floyd já tinha cadastro em crimes policiais e continuava no activo. Agora foi despedido, em conjunto com outros três agentes envolvidos, embora a primeira reacção oficial da polícia tenha sido dizer que Floyd tinha morrido “vítima de um acidente médico”. Mas a violência e o racismo foi filmada.
Ao terceiro dia das manifestações em protesto pela morte de George Floyd – que envolveram o incêndio de uma esquadra e uma detenção pela polícia de uma equipa da CNN – Trump vem mostrar tudo o que já sabíamos sobre ele. Na sua reacção à morte de George Floyd disse que “era um dia muito triste” e pôs o FBI a investigar, afirmando que aguardava pelo relatório.
Ontem, o tweet em que ameaça recorrer à força contra os manifestantes é um prodígio de miséria, aliás censurado pelo Twitter por incitamento à violência. Melania, felizmente, conseguiu demonstrar que servia para alguma coisa: a sua mensagem pacificadora foram as únicas palavras minimamente decentes que saíram da Casa Branca.
Barack Obama, aquele que iria ser o símbolo de um outro “fim da história” que não aconteceu, veio ontem dizer que a morte de Floyd “não deveria ser normal na América de 2020”. Pois não. Mas quando o candidato democrata, o seu antigo vice simpático Joe Biden, vem dizer num programa de rádio, em resposta a uma jornalista negra que o interrogava, que se ela tinha dúvidas sobre se estava por ele ou por Trump, então não era negra, mostra como o racismo é uma coisa muito mais espalhada do que desejamos reconhecer e que o paternalismo não é violento, mas é humilhante. Joe Biden, que tem um currículo de defensor das comunidades negras, pediu depois desculpa pelo que disse. Mas lá está – estamos em 2020 e o normal na América, mesmo depois de dez anos de Barack Obama, é isto.