Activistas brasileiros chamam “genocida” a Bolsonaro e pedem pressão do Governo português
Quase uma dezena de activistas afixaram faixas na fachada do Consulado-Geral do Brasil, em Lisboa, a pedir o impeachment do Presidente brasileiro e a chamar-lhe “genocida” e “demente”.
Cerca de uma dezena de activistas brasileiros afixaram esta sexta-feira três faixas na fachada do Consulado-Geral do Brasil, em Lisboa, chamando “genocida”e “demente” ao Presidente Jair Bolsonaro e pedindo o seu impeachment. Apelaram ainda ao Governo português para que não fique de braços cruzados perante a mortandade do “povo irmão”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Cerca de uma dezena de activistas brasileiros afixaram esta sexta-feira três faixas na fachada do Consulado-Geral do Brasil, em Lisboa, chamando “genocida”e “demente” ao Presidente Jair Bolsonaro e pedindo o seu impeachment. Apelaram ainda ao Governo português para que não fique de braços cruzados perante a mortandade do “povo irmão”.
Os poucos activistas, por causa da pandemia, quiseram pressionar o executivo português a tomar uma posição pública sobre o desastre no Brasil por causa da covid-19 e apelaram aos portugueses e brasileiros em Portugal para colocarem, como acto de protesto, cartazes com a bandeira brasileira, com duas faixas pretas de luto por cima, nas suas janelas e varandas - o download da imagem pode ser feito aqui.
“Os políticos costumam dizer que Portugal e Brasil são dois povos irmãos e neste momento é indispensável perceber de quem Portugal é irmão. Portugal é irmão das pessoas que estão a morrer ou das pessoas que estão a matar?”, questionou em conferência de imprensa Sérgio Tréfaut, realizador e promotor da iniciativa Brasil em Luto.
Questionado sobre a que tipo de pressão do Governo português se referia, por ser um assunto interno do Brasil, Tréfaut deixou claro que esse argumento é “equívoco”, dando até como exemplo massacres que aconteceram e nada foi feito por causa dessa narrativa, como o massacre dos tutsis pelos hutus no Ruanda, em 1995. “Previsão até Agosto: 100 mil mortes [no Brasil]”, lia-se numa das faixas, com várias cruzes negras dispostas no chão.
“Quando a decisão de um chefe de Estado, por razões económicas e não sanitárias, leva à morte de 150 mil [uma das previsões se a situação continuar a piorar] cidadãos em vez de cinco mil, se nós somos um país irmão, alguma coisa tem de ser feita em vez de lavar as mãos e dizer que não se pode fazer nada”, disse o realizador, deixando, no entanto, aos diplomatas portugueses, os “profissionais”, a estratégia para o fazerem.
O Brasil é o segundo país do mundo com mais casos de covid-19, ficando apenas atrás dos Estados Unidos, ao contabilizar oficialmente mais de 438 mil infecções e mais de 26 mil mortes – há três dias que mais de mil pessoas morrem em apenas 24 horas e os hospitais estão a rebentar pelas costuras. No entanto, um estudo da Universidade Federal de Pelotas calculou que o número verdadeiro de casos pode ser pelo menos sete vezes superior aos registados, ultrapassando mesmo os Estados Unidos.
A grande responsabilidade para a catástrofe que o Brasil está a viver é, para os activistas, da inteira responsabilidade de Bolsonaro ao privilegiar a economia em detrimento da saúde dos brasileiros e ao estimular protestos anti-desconfinamento por todo o país – já houve manifestantes que morreram de covid-19. E, como exemplo oposto, Tréfaut deu a Índia, com mais de 1,3 mil milhões de habitantes e cujo Governo decretou o confinamento total, registando apenas cinco mil mortes. Mas o número de casos continua a subir na Índia, com os hospitais a dar sinais de saturamento, apesar de estar a iniciar o desconfinamento.
A estratégia de Bolsonaro, acusou o realizador, é portanto semelhante às políticas de eugenia de Adolf Hitler. “Há um desprezo pela vida, eugenismo. Várias vezes tanto o Presidente Bolsonaro como os seus filhos disseram ‘morreu, tem que morrer’ e num discurso televisivo o Presidente disse ‘se a minha mãe morrer, ela é velhinha’. É velho tem que morrer, é doente tem que morrer. Uma filosofia praticamente nazista de que os mais frágeis não merecem a vida”, criticou, acusando Bolsonaro de ser um “louco assassino”, como Hitler.
A pandemia veio exacerbar as pressões vindas dos sectores bolsonaristas que já atrofiavam a democracia brasileira, vivendo-se neste momento uma “situação limite”, argumentou Carlos Vianna, representante da comunidade brasileira no Conselho de Migrações. A gestão pandémica de Bolsonaro, disse Vianna, retirou-lhe legitimidade e configura vários crimes de responsabilidade, pelos quais poderia ser julgado e afastado.
“A legitimidade cai, a legitimidade não é uma coisa que permanece congelada por uma eleição, ela é legitimada pelos actos do Governo”, argumentou o representante da comunidade brasileira.