Porto vai abrir mais 35 quilómetros de ciclovias até ao final do ano
Para além de recuperar um plano para ciclovias que era esperado há um ano, a cidade vai oferecer mais espaço público a peões, para já ao fim-de-semana.
A cidade do Porto vai contar, até ao final do ano, com 35 quilómetros de ciclovias que se somarão aos 19 quilómetros já existentes e que serão, também, alvo de intervenções para corrigir erros de concepção. Há praticamente um ano que se esperava que a cidade anunciasse este plano de infra-estruturas para a mobilidade ciclável e ele acabou por ser divulgado esta sexta-feira, à boleia de um conjunto de medidas de “resgate do espaço público” ao automóvel, resgate esse que nalguns casos, para já, fica circunscrito aos fins-de-semana, mas que pode vir a tornar-se permanente.
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A cidade do Porto vai contar, até ao final do ano, com 35 quilómetros de ciclovias que se somarão aos 19 quilómetros já existentes e que serão, também, alvo de intervenções para corrigir erros de concepção. Há praticamente um ano que se esperava que a cidade anunciasse este plano de infra-estruturas para a mobilidade ciclável e ele acabou por ser divulgado esta sexta-feira, à boleia de um conjunto de medidas de “resgate do espaço público” ao automóvel, resgate esse que nalguns casos, para já, fica circunscrito aos fins-de-semana, mas que pode vir a tornar-se permanente.
Há um ano, em Junho, o director municipal da Mobilidade e Transportes, Manuel Paulo Teixeira, levantou, ao PÚBLICO, a ponta do véu de um plano de obras para 2019/2020 que não só não chegou a ser mostrado no ano passado, como se esperava, embora algumas obras tivessem avançado no terreno. Foi preciso a pandemia provocada pelo coronavírus e a percepção, admitida esta sexta-feira por Rui Moreira, de que os cidadãos, no pós-covid, “têm hoje grandes preocupações relativamente à utilização do espaço público”, para a edilidade reagir em conformidade com essa atitude dos munícipes, e prometer dar outro ritmo aos trabalhos.
O município do Porto não correu a abrir ciclovias provisórias, como vem acontecendo em inúmeras cidades do mundo, preocupadas com as restrições de acesso ao transporte público, mas a experiência recente de abertura, em modo de via partilhada, das avenidas Atlânticas para peões e ciclistas, ao fim-de-semana, correu tão bem, assumiu Rui Moreira, que o município decidiu avançar para um plano maior. Um plano que reactiva, então, a construção de novas ciclovias, anunciadas praticamente na véspera do arranque, a 1 de Junho, da operação dos sistemas de trotinetas partilhadas, que deverão estar disponíveis até ao final do mês, e de pedonalização, provisória, de mais 14 ruas.
Ciclovias e bicicletários nas ruas
A vereadora dos transportes, Cristina Pimentel, explicou que o plano para as ciclovias passará por dar continuidade à conexão de todos os troços que não estavam ligados e incluir a ramificação de outros”. A autarquia promete que praticamente toda a cidade, da zona ocidental à zona oriental, ficará ligada por uma rede de ciclovias ou percursos cicláveis (que podem ser zonas de velocidade reduzida) e adianta que, na Avenida da Boavista, a intenção é colocar a ciclovia na via, afastando-a de zonas de estacionamento, um erro de concepção que já provocou acidentes.
Não menos importante que as vias cicláveis, na lógica do utilizador quotidiano da bicicleta, o plano inclui a disponibilização de 130 lugares de aparcamento para bicicletas em parques vigiados, “que poderão duplicar ou triplicar” à medida das necessidades, afirmou Cristina Pimentel. E, além disso, vão ser instalados na via pública 72 bicicletários, com capacidade para 521 lugares de aparcamento. Entretanto, nas ruas do Porto já foram pintados, durante a pandemia, 210 pontos de partilhaque correspondem aos 2100 lugares contratualizados com as três operadoras de serviços de partilha de trotinetas e bicicletas.
Se as ciclovias chegam para ficar numa perspectiva, disse Moreira, de “abordagem progressiva a um espaço público que é de todos mas que tem sido ocupado” nas últimas décadas pelo automóvel, o município vai recorrer ao chamado urbanismo táctico para devolver, paulatinamente, mais ruas aos peões. Recorrendo a mobiliário urbano, floreiras e até árvores e cingindo-se, para já, aos fins-de-semana e a ruas concentradas na zona da Baixa e do Centro histórico, a partir de 19 de Junho, entre as oito horas de sábado e as 20h de domingo deixa de haver carros em artérias como a Rua de Cedofeita e a Rua de Miguel Bombarda (que durante este período ficam assim pedonais em toda a sua extensão), e Rua do Breyner.
Alargar a outras zonas da cidade
Ainda perto da área da chamada movida nocturna, a Rua das Carmelitas, a Rua do Conde de Vizela, a Rua da Fábrica, a Rua de Santa Teresa e a Rua de Avis (que se juntam às áreas pedonais temporárias já existentes nas ruas de Cândido dos Reis e Galerias de Paris), a Rua do Almada e Rua da Conceição, a Rua de Passos Manuel (em toda a sua extensão) estarão também fechadas aos automóveis. Tal como o Passeio das Virtudes, a Rua do Dr. Barbosa de Castro a Avenida Rodrigues de Freitas e a Rua dos Caldeireiros, que estava, esta última, fora dos planos do município mas fecha a pedido dos comerciantes. Estes, como os moradores, não deixam de ter acesso automóvel a garagens e estabelecimentos.
Estas medidas são vistas como um incentivo ao comércio de proximidade, para além de permitirem, por parte de quem anda a pé, um maior distanciamento físico. A autarquia assume que o ideal será que estas novas áreas pedonais - que poderão consolidar-se como tal caso se perceba que a cidade assim o deseja - se alastrem a outras zonas para além do centro. “Temos mais ideias. Não vamos ficar por aqui”, deixou escapar Rui Moreira.
A Assembleia Municipal do Porto aprovou, há um ano, o encerramento ao trânsito, uma vez por mês, de várias ruas da cidade a definir com as freguesias. A medida, proposta pelo Bloco de Esquerda, nunca chegou porém a ser concretizada. A crise pandémica, que está a gerar um movimento mundial de redefinição do espaço público nas cidades - e que não é alheio à percepção de que a poluição urbana contribuiu para piorar as consequências da covid-19 - acabou por acelerar e ampliar essa vontade. Muitos autarcas e países já assumiram que não querem voltar ao “normal” e o Porto acaba por apanhar esse comboio, pondo em prática alguns projectos que, para além de resultarem de “muito trabalho feito nas últimas semanas”, como admitiu Rui Moreira, já vinham a ser trabalhados pelo executivo acabando, assim, por ser também desconfinados neste pós-covid.