Comandos: Dylan e Abreu eram os únicos na enfermaria que “não tinham reacção”
Antigo recruta sublinha em tribunal que “não havia mais ninguém” no mesmo estado do dos dois colegas que morreram depois. O inquérito-crime foi iniciado após a suspensão da Prova Zero do curso 127.
Embora não se lembre de tudo o que viu no curso 127 dos Comandos, Filipe Reis Emídio reiterou o que disse, na audiência anterior do julgamento dos Comandos, na semana passada. A testemunha – um recruta daquele curso que entretanto deixou o Exército – arrolada pela acusação repetiu que na enfermaria montada na tenda no Campo de Tiro de Alcochete, onde decorria a prova, “não havia mais ninguém” como Dylan da Silva e Hugo Abreu.
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Embora não se lembre de tudo o que viu no curso 127 dos Comandos, Filipe Reis Emídio reiterou o que disse, na audiência anterior do julgamento dos Comandos, na semana passada. A testemunha – um recruta daquele curso que entretanto deixou o Exército – arrolada pela acusação repetiu que na enfermaria montada na tenda no Campo de Tiro de Alcochete, onde decorria a prova, “não havia mais ninguém” como Dylan da Silva e Hugo Abreu.
“O que lhe despertou a atenção?”, perguntou a juíza. “[Eles] Estarem ali quase sem reacção. Eram os únicos que não tinham reacção. E a cor da pele, mais branca, e os olhos encovados do Abreu.”
O julgamento dos 19 arguidos militares acusados, em diferentes graus, de abuso de autoridade por ofensa à integridade física no curso fatal para estes dois instruendos – Abreu e Dylan –realiza-se numa sala da Ordem dos Solicitadores, em Lisboa, onde podem ser cumpridas as regras de distanciamento.
A testemunha não conseguiu recordar-se dos nomes de instrutores que terão usado a força nalgumas situações ou empurrado os instruendos para as silvas. E em alguns momentos, as falhas de memória levaram-no a mencionar o curso em que participou no ano anterior e não o curso 127. Porém, foi com confiança que repetiu o que tinha dito sobre os hematomas e as feridas “em maior profundidade e extensão” nos dois recrutas que não sobreviveram – em comparação com os outros militares a recuperar nessa tarde na enfermaria.
Para sustentar a veracidade da sua afirmação, reiterou, mais uma vez, que pôde aperceber-se dessas lesões porque a farda de Abreu estava em muito mau estado, e Dylan tinha os antebraços à vista.
“Eu só quero deixar claro”, disse, mas foi interrompido pela juíza-presidente. “O senhor aqui não deixa nada claro. E do seu depoimento pode não se retirar nada”, afirmou a juíza Helena Pinto.
O que a testemunha queria “deixar claro” dizia respeito a questões suscitadas pelo advogado João Barroso Neto sobre se Abreu não estaria nesse dia com uma farda usada ou “gasta”, sugerindo ser esse o motivo por estar rasgada e não devido à intensidade da instrução. “Fossem novas ou antigas, estavam todas mesmo impecáveis para a formatura”, garantiu Filipe Emídio. “Podia haver fardas usadas mas estava tudo como se fosse novo”, afirmou minutos antes de tentar dizer “o que queria deixar claro”.
Os advogados de defesa dos militares também questionaram como podia Filipe Emídio ver “em detalhe” se estava distante de Abreu e de Dylan na enfermaria. A tenda não era de grande dimensão e Filipe Emídio estava a cerca de cinco metros de Abreu e a cerca de seis metros ou pouco mais de Dylan da Silva, esclareceu o próprio.
A propósito de um instruendo que pediu para sair da prova por estar a sentir dor durante um dos exercícios, Barroso Neto perguntou ainda se a testemunha não entendia essa ordem de não sair da prova como uma motivação. “Não, de forma alguma.” Porquê? “Porque é contra a vontade da pessoa que estava a pedir para sair.”